Tribuna Ribeirão
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Larga Brasa

Os defuntos se levantaram
Alguns casos da chamada ‘falsa morte’ foram registrados em nossa cidade. O assunto sempre rendeu comentários e muitos levaram por conta das “coisas do outro mundo”.
Um dos casos aconteceu quando conhecido cidadão foi dado como morto pelos médicos e levado ao necrotério da Santa Casa, onde os corpos eram preparados para a “última morada”. Sem qualquer sinal de que o cidadão estava vivo, o defunto foi prepa­rado dentro das práticas usuais dos profissionais. Enquanto se preparava o corpo, na antessala do necrotério os amigos e pa­rentes comentavam sempre as coisas boas do falecido. Seguiria direto para o campo santo, seguindo o féretro da Rua Capitão Sa­lomão para a Avenida da Saudade, nos Campos Elíseos.
O corpo seguia em um carro fúnebre ou no dizer do gaúcho, de “pompas fúnebres”. Tudo pronto, tudo certo. O carro com o mo­torista com cara de sofrimento encosta e o falecido é colocado em um caixão bem lustroso, fruto de uma vaquinha dos amigos e parentes. Segue o enterro.

Na Saudade
Na Avenida Saudade, que tem este nome por ser o caminho ao ce­mitério, os acompanhantes que andavam em ritmo de velório, diante do Asilo Padre Euclides, ao lado da estátua do padre caridoso que fundou aquele local acolhedor, eis que a tampa do caixão se abre abruptamente e o defunto coloca a cabeça para fora e grita: -“O que é que é que esta acontecendo aqui?”.
Os acompanhantes desapareceram se escondendo nas lojas da ave­nida e olhando de rabo de olho para ter certeza do acontecido.
Um médico que estava no asilo foi ao carro em que estava o ‘ex-fale­cido’ e deu o veridicto: -“Catalepsia, a falsa morte”.
Tempos depois o cidadão morreu por outros motivos, mas foi difícil encontrar quatro pessoas para pegar as alças do caixão.

No Ipiranga
No bairro do Ipiranga, que naqueles tempos ainda possuía o nome de Barracão por conta da edificação em que ficavam os oriundos de toda a parte do mundo que vinham para o trabalho na lavoura do café, havia uma casa em meio ao matagal das ruas desertas de construções.
Na casa humilde muitos amigos, conhecidos e agregados esta­vam fazendo a despedida do morto. Como era comum em tem­pos idos, o adeus era regado à pinga, salgadinhos e muita músi­ca. Era para rolar a noite inteira. Enquanto isso, a viúva ficava ao lado do caixão fazendo as preces e “encomendando a alma do extinto” para os seus desígnios posteriores.

Samba rolava
De uma hora para outra, madrugada adentro, alguém pegou uma lata de banha de 20 litros, outro surgiu com um bumbo e cantoria rolou. Houve até quem tivesse a coragem de tirar uma dama para uns passos mais ousados. Nesta onda alguém esbarrou em uma das quatro velas ao derredor do falecido. A vela começou a quei­mar fora do prumo e derramou a cera quente na testa do morto. Poucos minutos depois ele saltou do caixão, como que por mila­gre, gritando o que estava havendo em sua casa. Todos saíram correndo, menos a viúva que permaneceu de olhos estalados mirando o seu marido fora do caixão. Não sobrou viva alma ao derredor. A polícia chamada chegou e foi difícil conseguir alguém que desse informações sobre o ocorrido para elaboração do B.O.

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