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Uma história verdadeira dos velhos tempos de Ribeirão Preto
As famílias da Europa e de países da Ásia como os árabes e japoneses estavam em plena crise econômica por fatores diversos e guerras. A grande maioria era convidada a dei­xar suas raízes, o chamado “umbigo enterrado nas terras longínquas” para no dizer atrativo da época “fazer a Amé­rica”, ter futuro nas novas terras e negócios. Os acostuma­dos lavradores das terras cansadas do Velho Continente se animavam com a ideia dos novos horizontes, mas ficavam nostálgicos ao deixarem os amigos, velhos costumes e tra­dições do outro lado do oceano.
Ribeirão Preto que havia deixado de explorar os escravos, e o fez com meses de antecedência, convidava as famí­lias italianas e de muitos outros países para se fixarem nas fazendas de café que eram esteios de uma economia pulsante. Chegavam de navio no Porto de Santos e depois alongavam a viagem de trem e chegavam à Estação do Barracão, que tinha este nome por haver um barracão em que os recém-chegados aguardavam pelos novos patrões, coronéis da cultura do café, para serem instalados e para trabalharem. Fugindo das guerras e da fome.

Recém-chegada no ventre da mãe
Uma criança foi gerada na Itália, região de Cremona e seus pais vieram para esta cidade para buscar melhores dias para os filhos. Já estavam criadas algumas filhas do casal. Foram colocados todos em uma chácara em bairro produtor de hor­tifruti onde enfrentaram as agruras comuns a todo começo, mas o trabalho conjunto fazia com que a família estivesse me­lhor que na velha Itália.
A menina nasceu, cresceu em meio à lavoura e seu pai vislum­brava um futuro melhor para ela. Resolveu colocá-la para tra­balhar com uma família que era rica à época para que pudesse estudar e não ficar com as mãos encarquilhadas pela acidez da terra. E a menina foi para trabalhar em uma residência das mais abastadas.

Assédio e estupro
Ainda em tenra idade ela foi envolvida na teia do mais velho da família e quando a barriga denunciava a gravidez foi reti­rada da casa e enviada para a capital, pois assim evitariam a desonra de um estupro, que há mais de cem anos era rejeitado pela sociedade. A jovem mãe era da roça e não tinha noção do que estava acontecendo e ficou aguardando pela criança que iria dar a luz.

Murmúrios na madrugada
Em plena madrugada da capital do Estado ela ouviu comen­tário da família que a abrigava que determinava o futuro da criança. Iriam aguardar o nascimento e no mesmo dia iriam “colocar em um tacho de fazer sabão” para desaparecer com a prova do crime do rico de Ribeirão. Ela pegou os trapos que havia juntado e fugiu para a casa de uma conhecida. A criança nasceu forte e bonita. Era uma menina.
De uma casa para outra, àquele tempo tais fatos eram rejei­tados, ela foi trabalhando e alimentando a criança. Depois de meses, seu pai que a rejeitava teve uma atitude inédita na época. Assumiu a paternidade da criança para que ela tivesse um pai. A menina passou pela fase da adolescência e se trans­formou em moça linda, sempre com a marca do acontecido, rejeitada e colocada à margem da sociedade.

Casamento
Enfrentando a família de um jovem rapaz que não admitia seu passado ela conseguiu convencê-los a aceitá-la e formaram um lar onde nasceram três filhos. Foram reverenciados pelos vizinhos e amigos. Também ele possuía uma função importante naquela época. Seus filhos trilharam vários caminhos até da vida pública e se destacaram. Ela se enviuvou e assim permaneceu tendo netos e bisnetos e sempre reverenciada. Morreu há alguns anos com mais de 95 anos. Um exemplo. Nunca denunciou o seu algoz e nem procurou ressarcimento por tudo que passou. Teve uma morte tranquila e hoje continua com o sono dos jus­tos mesmo tendo passado o que forjou a sua história. Quem viveu e conhece sabe de quem estou falando.

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