Edwaldo Arantes *
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“Sabe-se que os primeiros hominídeos conheceram o fogo por meio de incêndios naturais, principalmente os que ocorrem em consequência de raios”, professor, arqueólogo, egiptólogo e pesquisador britânico, John Gowlett.
Bem, vamos à nossa, São Sebastião do Ribeirão Preto, nos dias fatídicos e tenebrosos, com destaque para o último domingo, quando, às 7h dirigi-me a uma padaria, frequentada tradicionalmente.
Quase sempre, o Céu de Brigadeiro já está azul celeste e o Sol brilha forte emitindo seus raios matinais sobre a cidade, em uma festa de cores vibrantes.
As noites são banhadas de luares, brilhando ao lado de milhares de estrelas, parecendo dançar na imensidão do céu.
Infelizmente, naquela manhã de “prima feria”, as luzes multicores foram trocadas pela tonalidade cinza, densas fumaças acompanhadas de uma tempestade de fuligem, penetrando impunemente os narizes, tingindo roupas, rostos, mãos, em uma invasão indefensável.
Um acontecimento inédito, surreal, onde crepitantes e destruidoras labaredas, arrasaram toda a região, matas, plantações e a rica fauna.
Fogueiras alastrando e subindo aos céus, querendo tocar a abóbada celestial e, também, destruí-la.
Pessoas atônitas rezavam perplexas, temendo uma das “Sete Trombetas do Apocalipse”.
“Quando o primeiro anjo toca a trombeta, começa a ocorrer uma chuva de granizo e fogo que se misturam com sangue”.
Perdoem-me se errei, não sou especialista em Bíblias, as li, com o olhar focado apenas e tão somente na intrigante e envolvente literatura, livre de dogmas.
Passamos por mudanças climáticas inusitadas e constantes, principalmente, em um município dotado de clima seco, às vezes, comparado aos desertos.
Todas estas alterações não foram produzidas por nenhuma malvada divindade, eventos sobrenaturais ou determinadas por algum Lúcifer, na imaginação fértil das crenças.
Simplesmente, elaboradas pelas mãos do homem e sua ganância, disseminada pelo sistema capitalista selvagem, na busca incessante do lucro e as benesses do vil metal.
As matas destruídas, os veículos e seus derrames de monóxido de carbono, a poluição das praias, os lixões a céu aberto, onde miseráveis, acompanhados de urubus, vasculham o ambiente fétido, a procura de objetos para render alguns míseros vinténs e restos alimentícios, sobras de uma parte de uma elite opulenta e insaciável, que os despreza, ignora e condena.
Peço licença a um amigo muito querido, brilhante jurista, talentoso e sábio advogado e um democrata na essência da palavra, Dr. Brasil Salomão, para transcrever suas belas palavras em mensagem privilegiada, enviada a este pobre escriba, naquele terrível domingo:
“A cidade está triste, talvez envergonhada pela roupagem feita de poeira, das suas mais de 100 favelas das malditas ruas e avenidas interditadas sem data para reabrirem, dos brasileiros e brasileirinhos nas esquinas pedindo alimentos”.
O que salva é que ainda temos escritores/poetas/artistas que pintam telas de lugares, costumes e passados saudáveis, os trazendo a público amenizando as tristezas do presente”. “Abraços, Brasil.”
Aproveito para juntar outras belas e eternas palavras à missiva do dileto amigo.
“Me pediram para deixar de lado toda a tristeza, pra só trazer alegrias e não falar de pobreza. E mais, prometeram que se eu cantasse feliz, agradava com certeza. Eu que não posso enganar, misturo tudo o que vivo. Canto sem competidor, partindo da natureza do lugar onde nasci. Faço versos com clareza, rima, belo e tristeza. Não separo dor de amor. Deixo claro que a firmeza do meu canto, vem da certeza que tenho, de que o poder que cresce sobre a pobreza e faz dos fracos riqueza, foi que me fez cantador”. Geraldo Pedrosa de Araújo Dias, “Geraldo Vandré, 1968”.
* Agente cultural