O juiz federal Ricardo Leite, da 10ª Vara da Justiça Federal de Brasília, atendeu, na noite de segunda-feira, 23 de setembro, ao pedido feito pela Polícia Federal e renovou as prisões temporárias de investigados na segunda fase da Operação Spoofing. Thiago Eliezer Martins dos Santos, o”Chiclete”, de 25 anos, e Luiz Henrique Molição, de 19 anos, foram presos na última quinta-feira (19).
Na decisão, o juiz federal renovou as prisões temporárias, que têm prazo de cinco dias. Molição foi preso em sua casa no bairro Primeiro de Maio, em Sertãozinho, na Região Metropolitana de Ribeirão Preto (RMRP). Segundo as investigações, os dois são integrantes do grupo que interceptou os celulares de mais de mil autoridades.
Em nota, o advogado Thiago Vitor dos Santos Batista, que defende Eliezer Martins, afirmou que o cliente colabora com a investigação e que respondeu a todos os questionamentos feitos pela autoridade policial. A defesa afirma ainda que “Chiclete” não teve envolvimento técnico com as invasões de celulares das autoridades e que a única relação que teve com Walter Delgatti Netto, o “Vermelho”, de 30 anos, foi comercial.
A defesa de Luiz Henrique Molição não foi encontrada. “Vermelho” foi preso no Edifício Premium, na avenida Leão XIII, no bairro da Ribeirânia, na Zona Leste de Ribeirão Preto, em 23 de julho, ma primeira fase da Spoofing. Na primeira fase da operação, foram presos Delgatti Neto, o motorista Danilo Cristiano Marques, de 36 anos, o DJ Gustavo Henrique Elias Santos, de 28 anos, e a namorada dele, Suelen Priscila de Oliveira, de 25.
Todos são suspeitos de hackear o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sergio Moro, o procurador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, o presidente Jair Bolsonaro e outras autoridades – são cerca de mil pessoas no total, entre empresários, jornalistas e autoridades dos três Poderes. Molição conheceu Walter Delgatti Neto na faculdade onde faziam o mesmo curso de Direito, em Ribeirão Preto.
Uma imagem da tela do celular de “Vermelho” indica que ele pode ter hackeado os celulares de políticos de Ribeirão Preto. As vítimas seriam o prefeito Duarte Nogueira Júnior (PSDB), o deputado federal e líder do MDB na Câmara dos Deputados, Baleia Rossi, e o deputado estadual Léo Oliveira (MDB), usuários do aplicativo Telegram.
Inicialmente, os presos são investigados pelos crimes de associação criminosa, invasão de dispositivos informáticos e interceptações telefônicas. Caso também sejam enquadrados na Lei de Segurança Nacional, como defendem integrantes do Planalto, a punição pode chegar a 15 anos de prisão.
Na lista de “Vermelho” estão ainda os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), além do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A lista de autoridades alvo do grupo também inclui o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), José Otávio Noronha. O senador Cid Gomes (PDT-CE) também foi alvo de Walter Delgatti.
“Vermelho” confessou o hackeamento e o repasse das informações para o portal The Intercept Brasil, que tem divulgado diálogos atribuídos a Moro e aos procuradores. O hacker disse que não cobrou contrapartidas financeiras para repassar os dados.
A PF tem focado em desvendar se houve pagamento para a obtenção e compartilhamento de mensagens por parte dos hackers. No fim de agosto, novas medidas foram pedidas relacionadas à apuração de fraudes bancárias. Os quatro presos na primeira fase tiveram a prisão temporária convertida em preventiva, sem prazo para terminar.
Nesta semana, a Polícia Federal encontrou uma conversa que aponta para o envolvimento de Molição com o vazamento de mensagens publicadas pelo site The Intercept. Para os investigadores, um áudio encontrado em seu celular mostra uma suposta conversa com o jornalista Glenn Greenwald – que não é tido como investigado.
O procurador da República Wellington Divino Marques de Oliveira apontou, em representação pela segunda fase da Operação Spoofing, que Molição “instruiu Walter Delgatti Neto a enviar uma nota para um jornalista através da conta da deputada federal Joice Hasselmann (PSL) sendo que, após uma breve troca de opiniões, os dois escolhem o destinatário da mensagem falsa”.