A juíza Lucilene Aparecida Canella de Melo, da 2ª Vara da Fazenda Pública de Ribeirão Preto, atendeu o pedido do Ministério Público de São Paulo (MPSP) feito por meio de ação civil e intimou a prefeitura a tomar providências para evitar o desabamento da torre da Igreja Santo Antoninho, Pão dos Pobres, localizada na avenida Saudade nº 202, nos Campos Elíseos, Zona Norte.
A administração tem prazo de 48 horas para apresentar “documentos que comprovem a efetivação das providências, bem como laudos de vistoria”. O promotor do Patrimônio Histórico e Tombamento, Wanderley Trindade, também será notificado em 24 horas. A decisão é de segunda-feira, 29 de março. O Tribuna entrou em contato, por e-mail, com a Coordenadoria de Comunicação Social, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.
Na edição de 24 de março, um dia depois de um guindaste retirar arbustos da torre, o Tribuna noticiou que pedaços de concreto da torre da Igreja Santo Antoninho corriam o risco de desabar. A informação partiu do engenheiro José Roberto Montero, que acompanhou o trabalho. A Mamute Guindaste foi contratada pelo reitor, padre Gilberto Kasper, graças à doação de alguns devotos.
A Igreja de Santo Antônio Pão dos Pobres é parte integrante de um conjunto arquitetônico, cuja edificação principal é o casarão denominado “Villa Emília”, ao lado do templo, na avenida Saudade nº 222. O conjunto compreende, além da capela, outras edificações de uso comercial e residencial, como o casarão que sedia a Academia Ribeirão-pretana de Letras Jurídicas.
Também abrange o Mosteirinho, uma área com entrada pela rua Rio de Janeiro onde vivem duas famílias. Na notificação expedida anteontem, a juíza cita o risco que essas pessoas com a atual situação da torre. Segundo o engenheiro José Roberto Romero, que foi secretário municipal de Infraestrutura por cinco meses na gestão da ex-prefeita Dárcy Vera, a construção está comprometida e pedaços da torre correm o risco de desabar.
“A alvenaria está toda comprometida, balaústres soltos… O perigo de cair pedaços é muito grande, os arbustos estavam até colaborando para uma estabilidade da estrutura”, disse. Ele também revelou que enviaria um documento para a Defesa Civil de Ribeirão Preto relatando os problemas que podem ocorrer. “A torre da igreja precisa de um trabalho complexo de restauração”, emenda.
Para que isso aconteça, a reitoria da igreja, na figura do padre Gilberto Kasper, relatou novamente o caso para a Arquidiocese de Ribeirão Preto. Segundo o reitor, há anos a Igreja Católica aguarda autorização do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural (Conppac) para lançar uma campanha e angariar recursos para bancar o restauro.
A igreja foi tombada provisoriamente em 9 de dezembro de 2009. Qualquer projeto de restauração precisa da aprovação do conselho. Segundo a obra “Igreja de Santo Antônio, Pão dos Pobres – 1903”, do arquiteto e urbanista Anderson Abe, o templo católico começou a ser construído no século XIX, entre 1892 e 1898, e foi fundado em 1903. O projeto inicial é do engenheiro César Formenti.
“A Arquidiocese de Ribeirão Preto não dispõe de recursos para restaurar a igreja. Nós já teríamos restaurado se as pendências tivessem sido resolvidas: a modificação da lei do tombamento englobando ambos os prédios; a reintegração de posse, já que pessoas residem no antigo Mosteirinho onde se encontra a torre, ocupando 22 metros de corredor, onze metros de fundos e parte da varanda incendiada da casa ao lado”, diz o padre Gilberto Kasper
José Roberto Romero coordena um Grupo de Amigos da Santo Antoninho que antes da pandemia se reunia para estudar o restauro da igreja, com a motivação de arrecadar recursos, mas esses encontros foram suspensos por causa da covid-19. Kasper diz ainda que já pediu inúmeras vezes a “interdição” do Mosteirinho. Cita ainda que “com muito custo conseguimos, graças ao então juiz João Gandini, a adjudicação da igreja da Academia de Letras.”
Anderson Abe elaborou os projetos de restauro que aguardam aprovação do Conppac até hoje. O padre, que está há 13 anos na Santo Antoninho, diz que está “rouco de tanto suplicar pelo restauro. Bombeiros, Defesa Civil, Polícia Militar e Civil e o próprio engenheiro José Roberto Romero são testemunhas disso”, emenda.