Por: Adalberto Luque
Após 13 horas de sessão, o Tribunal do Júri de Ribeirão Preto condenou, na noite desta segunda-feira (27), o ex-policial civil Ricardo José Guimarães a 30 anos de prisão pela morte de Thiago Xavier de Stefani, ocorrido em 13 de maio de 2003, no Jardim Independência, zona Norte da cidade. O também ex-policial civil Thiago Ferreira da Silveira Moreira, que de acordo com a Promotoria, teria efetuado os disparos contra a vítima a mando de Guimarães, foi condenado a 25 anos de prisão.
Moreira não compareceu ao júri. Conforme o Tribuna adiantou, ele está internado por esquizofrenia. Guimarães, que está preso no Presídio de Tremembé, também conhecido por presídio das “celebridades”, chegou pouco antes do início do Júri, com escolta reforçada.
O Júri foi presidido pelo juiz José Roberto Bernardi Liberal, que conduziu o Júri no caso do menino Joaquim, em 2023. O advogado de defesa do ex-investigador, foi Antônio Carlos de Oliveira, que defendeu Guilherme Longo, padrasto do menino Joaquim, condenado pela morte da criança. Já Moreira foi defendido por Fábio Cunha Loureiro.
Os sete jurados – quatro homens e três mulheres – ouviram os depoimentos de cinco testemunhas – quatro de acusação e uma de defesa. Em seguida ouviram as considerações da defesa e acusação. Depois, os jurados se reuniram e consideraram os dois culpados pela morte de Stefani.
O juiz José Roberto Bernardi Liberal leu a sentença, condenando Guimarães a 30 anos e Moreira a 25 anos, determinando que a pena seja cumprida imediatamente. Com essa condenação, Guimarães já soma 274 anos de penas. Esse número pode aumentar, pois ele deve enfrentar pelo menos mais dois julgamentos. Os advogados de defesa disseram que vão recorrer da sentença.
O caso
O Ministério Público de São Paulo (MPSP) sustenta que Guimarães quis matar Stefani por ciúme, pois ele teve um relacionamento anterior com a então namorada do ex-investigador. A mulher teria dito que a relação com o ex-namorado era conturbada, com agressões.
No dia 21 de abril de 2003, Guimarães teria, segundo o MP, perseguido Stefani. Chegou a atirar quatro vezes contra o carro da vítima, mas não acertou os disparos. Pouco depois, encontrou o rapaz em uma lanchonete e teria desferido contra ele socos, chutes e coronhadas. E ainda, de acordo com a Promotoria, o obrigou a tomar cerveja em sua companhia.
No dia 13 de maio, Guimarães teria pedido para Moreira matar o rapaz, então com 21 anos. Stefani chegou com a mãe no começo da noite. Deixou a mulher em casa e saiu novamente. Neste momento, teria sido morto por Moreira, com vários disparos. Depois Guimarães, segundo testemunhas, teria ido ao local para ver o desenrolar dos fatos. Guimarães nega ter ido onde estava o corpo da vítima.
Na casa de Stefani, foram encontradas drogas e armas. A mãe do rapaz morto sustenta que isso teria sido plantado pelo ex-investigador. Um policial militar foi indiciado à época por alegar que Guimarães não esteve na cena do crime, contradizendo algumas testemunhas. Após 21 anos e 14 dias, a dupla foi condenada pelo crime.
Grupo de extermínio
Guimarães, ex-investigador da Polícia Civil, é apontado pelo MP-SP como o responsável por comandar um grupo de extermínio que agia em Ribeirão Preto entre 1994 e 2002. Segundo a promotoria, policiais civis e militares integravam esse grupo, que pode ter executado pelo menos 70 pessoas.
Na ocasião, o número de homicídios cresceu exponencialmente. Para se ter um parâmetro, em 2023 o número total de homicídios registrados em Ribeirão Preto foi 32. Em 1994, quando supostamente o grupo começou a atuar, foram 94 homicídios, um número quase 200% maior que ano passado. Depois, de 1995 a 2002, o balanço sempre esteve na casa dos três dígitos – 119 (1995), 221 (1996), 209 (1997), 222 (1998), 251 (1999), 263 (2000), 202 (2001) e 190 (2002).
O ex-investigador nega ter participado de muitos crimes a ele atribuídos. Os que assume, alega ter sido por questões pessoais, com desafetos e para sua própria defesa. Durante todos esses anos, envolveu-se em diversas questões que chegaram a desafiar a Justiça.
Crimes atribuídos a Ricardo Guimarães
Condenações
Julho de 2017 – 72 anos de prisão pelas mortes de Anderson Luiz de Souza e Enock de Oliveira Moura, em maio de 1996;
Dezembro de 2017 – 48 anos de prisão pelas mortes de dois policiais no Rio Grande do Sul, em julho de 2005;
Fevereiro de 2018 – 56 anos de prisão pela morte da dona de casa Tatiana Assuzena, de 24 anos, em março de 2004;
Agosto de 2018 – 30 anos de prisão pela morte de Thiago Aguiar Silva, de 14 anos, em janeiro de 2004;
Abril de 2019 – 38 anos de prisão pelas mortes de Maikon Nahid Silva, de 19 anos, e Rogério Fernandes da Silva Esvarela, de 20, em agosto de 2002;
Maio de 2024 – 30 anos de prisão pela morte de Thiago Xavier de Stefani, de 21 anos, em maio de 2003.
Acusações
Março de 2002 – Sandro Alberto Lima, o Pezão, assassinado dentro da Santa Casa de Ribeirão Preto;
Abril de 2002 – execução do detento João Paulo Alves da Silva em uma cela no 1º Distrito Policial de Ribeirão Preto.