Dois alunos de um projeto social da Casa das Mangueiras, no Ipiranga, na Zona Norte de Ribeirão Preto, foram pré-selecionados para disputar vagas na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, com sede em Joinville, Santa Catarina. Eles participaram de uma etapa regional realizada em 3 de agosto, no Stream Palace Hotel. Enzo Jordy da Silva, de 10 anos, e Gustavo Kaike de Souza Bento, de nove anos, embarcam para a cidade catarinense em 18 de outubro.
Eles vão ficar três dias em Joinville, de 19 a 21 de outubro, participando da seletiva que vai definir os novos alunos escolhidos pela Escola do Teatro Bolshoi. Se forem aprovados entre centenas de jovens de todo o Brasil, permanecerão nove anos na escola. Os garotos fazem balé clássico há dois anos, desde que Vanessa Ortolan implantou o projeto de dança na Casa das Mangueiras.
Os dois viraram alunos da Escola de Ballet Vanessa Tremeschin, com sede no Jardim Botânico, em Ribeirão Preto. Ambos moram no Ipiranga, bairro da periferia de Ribeirão Preto. Agora, as professoras de balé e os coordenadores da Casa das Mangueiras preparam uma campanha para angariar recursos e bancar a viagem dos garotos e das famílias. O sistema de arrecadação ainda não foi definido,mas quem quiser ajudar pode ligar na sede da entidade, no telefone (16) 3622-4441.
A mãe de Enzo, Thais Elizabeth, está orgulhosa do filho. “Ficamos felizes com a escolha, ele faz balé há dois anos, participou de ‘O Rei Leão’ no Teatro Municipal como protagonista e agora vai para Joinville”, diz a dona de casa. O marido dela é ajudante de produção na Coca-Cola Andina. Cintia, mãe de Gustavo, abraçou o filho com força na manhã desta sexta-feira (10), quando os jovens conversaram com a imprensa.
Segundo Enzo, o balé significa dança e sentimento. “Comecei a dançar com meu amigo Gustavo na Casa das Mangueiras. Logo percebi que era isso que eu queria. Quero ser um grande bailarino para ajudar a minha família e a Casa das Mangueiras”, diz o menino. “Gosto de balé, é uma dança que põe todos os sentimentos para fora. Espero uma vida melhor, ajudar a Casa das Mangueiras”, diz o garoto. “Sempre acreditei que o balé é para todos, não somente para meninas, assim como o futebol não é só para meninos.”
A Escola do Teatro Bolshoi no Brasil atende desde 15 de março de 2000, na cidade catarinense de Joinville. É a única filial do famoso teatro russo. Proporciona a formação de artistas da dança, ensinando a técnica de balé segundo a metodologia Vaganova, dança contemporânea e disciplinas complementares. Com alunos vindos de diferentes estados brasileiros e do exterior, a instituição ressalta o seu compromisso social, ao conceder 100% de bolsas de estudo e benefícios para todos os alunos.
Uma seleção acontece todos os anos para o ingresso de novos bailarinos. Localizada em uma área de seis mil metros quadrados, no Centreventos Cau Hansen, a Escola Bolshoi dispõe de uma estrutura completa, espaço ideal para abrigar essa absoluta dedicação profissional ao ensino da dança e formar artistas. Uma equipe de 67 funcionários e 13 bailarinos se dedica à missão de formar artistas cidadãos e divulgar a instituição por meio da arte.
Casa das Mangueiras
Em 1973, crianças e adolescentes foram encontrados em um posto policial de Ribeirão Preto, trancados em celas, vigiados por soldados e um grupo de defesa dos direitos humanos aceitou o desafio para mudar a situação.
Junto com os próprios meninos e a comunidade, estas pessoas construíram uma casa de acolhida e educação – a Casa das Mangueiras – que se tornou uma experiência pioneira com meninos de rua, de 12 a 17 anos, autores de atos infracionais. Inaugurada em 8 de dezembro de 1973, Dia da Justiça, foram os próprios meninos que escolheram o nome em virtude da grande quantidade de mangueiras existentes no local.
Atualmente está localizada no Ipiranga, região da cidade de Ribeirão Preto com forte influência do tráfico de drogas. Desenvolveu uma metodologia própria para o atendimento de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. A Casa das Mangueiras é um espaço de convivência e aprendizado, é movida pela opção pelo ser humano, pelo potencial das pessoas. Desde 1993 atende também meninas em situação de vulnerabilidade.