Por: Adalberto Luque
Foi sepultada no início da tarde desta terça-feira (15), Júlia Ferraz Signoreto, de 27 anos. Ela morreu após ter sido atingida por uma bala perdida durante um desentendimento entre ocupantes de duas motocicletas, ocorrido na madrugada desta segunda-feira (14) na Avenida Independência, Alto da Boa Vista, zona Sul de Ribeirão Preto.
Júlia tinha duas filhas, de seis e sete anos. Estava em um bar próximo ao local onde foi baleada. Saiu de lá na companhia de um amigo e caminhavam pelo canteiro central da avenida rumo a um fast food de cachorro quente próximo à rotatória entre as Avenidas Independência e Professor João Fiúza.
Duas motos surgiram na pista sentido Centro-bairro e o ocupante de uma das motos teria sacado um revólver, atirando contra os ocupantes da outra moto, que fugiram após breve discussão. Eles estavam distantes cerca de 50 metros de onde Júlia e o amigo estavam, mas durante a fuga, passaram por ela.
Câmeras de segurança registraram o momento em que a mulher se abaixa e depois cai. Havia sido atingida pelo tiro, que foi fatal. Ela morreu antes mesmo da chegada do socorro médico.
O ocupante da moto que teria efetuado os disparos, o policial militar Maicon de Oliveira dos Santos, de 35 anos, que estava de folga e a paisana, fica o tempo todo aguardando o trabalho de perícia e depois vai até a Central de Polícia Judiciária (CPJ), no Centro de Ribeirão Preto.
Durante o sepultamento, muitos amigos e parentes estavam abalados com a morte da jovem. Assim que ela foi sepultada, soltaram balões de gás brancos e pediram justiça pela morte de Júlia.
Duas versões
A elaboração do boletim de ocorrência levou praticamente toda a manhã e tarde da segunda-feira e foi conduzido pela delegada Vanessa Matos da Costa. No depoimento, o PM disse que seguia com sua moto quando a outra encostou a seu lado. O homem que estava na garupa teria perguntado se ele tinha seguro da moto, porque iria perdê-la.
Nisso, Maicon disse ter sacado o revólver e acreditou que o garupa também tivesse sacado, enquanto os dois fugiam. Ele teria feito alguns disparos, não sabendo dizer quantos foram.
Já os advogados de defesa dos outros envolvidos no caso, negaram que houvesse tentativa de assalto e que seus clientes estivessem armados. Depois de fugirem dos disparos, os dois perceberam que haviam sido feridos nos pés.
A moto era pilotada por Gustavo Alexandre Scandiuzzi Filho, de 26 anos, e Arthur de Lucca dos Santos Freitas Lopes, de 18 anos, estava na garupa. Em depoimento, eles disseram que foram até o Parque Ribeirão Preto, onde encontraram um colega que os levou para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Norte, no Quintino Facci II.
Enquanto eram atendidos, os policiais militares chegaram. Gustavo teria que passar por cirurgia e foi encaminhado para a Santa Casa de Ribeirão Preto. Já Arthur foi levado até a CPJ para prestar depoimento.
Acompanhado de seu advogado, o rapaz negou que estivesse armado e que tentaram roubar a moto do PM. Seu advogado disse que o cliente é réu primário, que nunca teve qualquer problema com a polícia e trabalha como ajudante de pintor.
Também em depoimento, Gustavo disse que houve uma discussão de trânsito e que os dois quiseram intimidar o homem sozinho na moto, quando tudo ocorreu. Seu advogado também garantiu aos jornalistas que ele não tem passagens anteriores, é réu primário. Os dois advogados reafirmaram que seus clientes não estavam armados e não houve tentativa de assalto.
Os envolvidos passaram por exames residuográficos. Imagens de câmeras de segurança também foram analisadas. A delegada de plantão registrou o caso como homicídio consumado e dupla tentativa de homicídio. Ela determinou a prisão preventiva do PM que foi levado para o Presídio Romão Gomes, na Capital.
Liberdade provisória
No final da manhã desta terça-feira (15), o PM Maicon passou por audiência de custódia e obteve liberdade provisória. Leia a nota do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP): “Em audiência de custódia realizada hoje (15/8), foi concedida a liberdade provisória a MAICON DE OLIVEIRA DOS SANTOS com imposição das seguintes medidas cautelares: 1 – obrigação de se apresentar em juízo mensalmente, para prestar contas de suas atividades e fazer prova de endereço atual; 2 – recolhimento domiciliar nos dias de folga, podendo sair de casa unicamente para exercício da atividade laboral”.
Gustavo Henrique de Lima, advogado de defesa do PM, se pronunciou por nota. Leia a íntegra: “O acusado foi mais uma vítima da imensa cena de insegurança pública que assola o país, tendo reagido ao assalto que lhe foi anunciado. Durante essa reação, os roubadores se evadiram e, infelizmente, de maneira trágica, uma jovem que nada tinha a ver com o crime fora atingida, também vítima dessa situação de insegurança vivenciada, em especial, nas madrugadas. Para a defesa, a situação de legítima defesa é clara e resta bem demonstrada pelo depoimento e imagens dos fatos. Ainda, na manhã de hoje (15/08/23), o Policial foi colocado em liberdade, cessando sua situação de cárcere. Por fim, esta defesa demonstrará a inocência do defendido no decorrer do processo judicial e trará às claras a realidade dos fatos.”
Além do homicídio consumado e dupla tentativa de homicídio, a Polícia Civil deve investigar se houve ou não a tentativa de roubo da moto do PM. Pelo menos 10 cápsulas foram deflagradas. O laudo do exame de balística também é aguardado para confirmar se o tiro que matou Júlia partiu ou não da pistola de uso particular do PM. Os exames residuográficos dos três envolvidos também podem indicar se houve ou não reação por parte dos dois amigos. As investigações prosseguem.