Tribuna Ribeirão
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Jornalista Claret 

Sérgio Roxo da Fonseca *  
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Taís Costa Roxo da Fonseca ** 
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Nestes dias a imprensa noticiou que o jornalista ANTÔNIO CLARET GOUVEIA havia falecido. Ele era um extraordinário analista de cada fato e um grande amigo. 
 
Claret e eu, na companhia de vários amigos estudamos na mesma classe mantida pelo então Ginásio do Estado, hoje denominado Instituto de Educação Otoniel Mota de Ribeirão Preto, por volta dá década de 1950. 
 
Era ele o melhor jogador do nosso time. O gol era defendido pelo Pedro Augusto Musa Julião. Meu irmão Gustavo, que recentemente partiu, e, eu formávamos a dupla de zagueiros. O Torrecilhas e o Paulo Greco, o Peixinho, ficavam no centro do campo. O Claret ligava o centro com a linha de ataque. Lá na frente corria o Aquário mais do que a bola e mais do que o tempo.  
 
Ao seu lado estava o Feres Sabino, que se tornou o chefe da advocacia pública do Estado de São Paulo. O centroavante era o Rubens Ely de Oliveira, o Rubinho, que partiu exercendo o cargo de Juiz de Direito. Ao seu lado trabalhava o Laudo Costa que, antes de partir, notabilizou-se como médico especialista em câncer dos olhos. Ao seu lado estava o João Orlando Duarte da Cunha que, antes de partir, era Deputado Federal e constituinte; ao lado dele permanecia Henrique Amorim, o Henri Miroma. 
 
Como se percebe, muitos já partiram, supondo que do outro lado do tempo estejam participando das aulas de uma escola do padrão do Ginásio do Estado para jogar futebol comandado pelo professor Sareta. 
 
Nós vencemos todas as partidas simplesmente porque jamais disputamos pelo menos uma contra uma equipe adversária. 
 
Frequentemente publicávamos um artigo no Diário de Notícias que, na época, era dirigido pelo Padre Celso Ibsen de Syllos. 
 
Vale a pena
ver de novo um episódio marcante na vida do meu amigo
Claret, que atingiu a história de Ribeirão Preto, de São Paulo e do Brasil..
 
 
Trinta dias após o golpe militar de 1964 instalou-se um movimento, liderado pelos Diários Associados, denominado “Dê Ouro para o Bem do Brasil”. Foi escolhido o da 12 de maio e 1964, data da Lei Áurea. Muitos dos seus participantes acreditavam saldar as dívidas públicas deixadas pelo governo de Jango Goulart. Foram feitas passeatas por todo o território nacional.O governo militar era apoiado por líderes políticos democratas, como, por exemplo, Juscelino Kubistcheck de Oliveira. 
 
Como era previsível a coleta do ouro pouquíssima contribuição deu para o sufrágio da dívida pública. O ouro colhido no Estado de São Paulo foi transportado para o Rio de Janeiro, então capital federal por navio de guerra. São Paulo arrecadou 1.200 quilos de ouro e dois bilhões de cruzeiros. A importância não integrou os cofres oficiais e foi aplicada, sem eira e nem beira em obras assistenciais cariocas. 
 
O meu amigo Claret publicou no Diário de Notícias um artigo criticando acidamente a perseguição do ouro falsamente qualificado como endereçado aos cofres públicos. 
 
O seu ato de coragem foi imediatamente atacado pela força policial, como violação à liberdade de imprensa, o que abriu as cortinas que cobriam os trágicos propósitos do Governo Federal. 
 
O Claret continuou escrevendo corajosamente seus artigos, passando a assinar o “Galhofa”, cravando um marco histórico na nossa lembrança, na história do Brasil e na história de Ribeirão Preto. 
 
* Advogado, professor doutor, procurador de Justiça aposentado e membro da Academia Ribeirãopretana de Letras 
 
** Advogada 

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