Reconhecido como um dos grandes pensadores do século XXI pela análise da queda do comunismo, do desastre do pós-guerra do Iraque e da crise financeira de 2008 ,o filósofo político John Gray, ex-professor em Oxford, Harvard, Yale e na Escola de Economia e Ciência Política de Londres, antecipou todos esses fatos em seus livros, o que lhe rendeu a fama de “profeta” cultural da contemporaneidade. Suas convicções? Acreditar, por exemplo, que o relacionamento equilibrado entre governo e economia é uma aspiração distante, bem como, considerar o islamismo radical um mito moderno.
Em “A busca pela imortalidade”, um de seus muitos livros, Gray foca o interesse humano pela morte e pela busca de desvendar se existe, ou não, vida após a morte. Ateu convicto, ele desacredita de cientistas que veem a ciência como algo de progresso eterno. Para ele, a contemplação não precisa ser a meditação da ioga ou a vida num mosteiro, pode ser um mero olhar para um belo pôr do sol. Na era moderna, reina a ideia de que, se como indivíduos não tivermos melhorado o mundo, então falhamos. Mas não é necessário mudar o mundo para levar uma vida feliz, com sentido.
Acreditar, por exemplo, que o homem moderno não é mais sábio do que o antigo, mas, pelo contrário, o inverso disso, é uma de suas muitas convicções. Segundo ele, “Enquanto não notarmos que nossa capacidade de produzir conhecimento não vem com a habilidade de aprender com isso, não haverá esperança”. Certo de que “poucos estão dispostos a admitir que a maioria dos problemas modernos são insolúveis”, diz o britânico que o universo, a seu modo, acaba, com o passar do tempo e das circunstâncias, a sacrificar a humanidade em nome da própria estupidez desta.
Em outra de suas obras, “O silêncio dos Animais”, Gray afirma que a obsessão humana em ser superior a todos os demais seres vivos só reforça a incapacidade dos seres humanos de associarem o silêncio dos animais à elegância destes em apenas nos observar em nossa pequenez. Para o autor, são os animais, por certo, que nos contemplam com sabedoria. E, se falassem, talvez não hesitassem em dizer, “Esses humanos inquietos passarão!”.
A profundidade de suas reflexões o leva, por sua vez, a definir o que significa a expressão “escolha radical”, encontrada em outros filósofos. Para Gray, esta tanto poderia ser escolher coisas boas em detrimento das ruins, quanto, em momentos mais críticos, sermos “obrigados” a escolher entre coisas boas, que são tragicamente excludentes. Em suas palavras, “A existência é uma batalha contínua, não o acúmulo de vitórias da razão sobre as trevas. Ou do bem sobre o mal”. Em sua opinião, se, para os filósofos religiosos, somos animais do mito, para os filósofos iluministas somos seres da razão. “O abismo convoca o humano ao seu abismo se ele desistir de mentir sobre si mesmo”.
Atualmente, a razão, ao questionar a si própria, tenta descobrir seus limites e a utilidade de alcançarmos novos conhecimentos técnicos e científicos. Para Gray, somente “através da ciência a humanidade pode conhecer a verdade, e assim, ser livre”, ou seja, “O crescimento do conhecimento é real e – a menos que ocorra uma catástrofe de âmbito mundial – já irreversível. Melhorias no governo e na sociedade não são menos reais, mas temporárias. Não apenas podem ser perdidas, como também certamente o serão. A história não é o progresso ou declínio, mas ganhos e perdas recorrentes. O avanço do conhecimento nos engana quando nos induz a pensar que somos diferentes de outros animais, mas nossa história mostra que isto não ocorre”.
Na contemporaneidade, urge a reavaliação de nossa postura atual. “Mas isso só pode ser feito se procurarmos entender de quais os valores que ainda não conseguimos nos desvencilhar”. Segundo especialistas “as considerações de John Gray nos forneceram uma possibilidade contemporânea para pensarmos a respeito do sentido de progresso que a história adquiriu durante seu processo, as consequências desse sentido, e as convicções antropocêntricas que ainda não conseguimos abandonar, muitas vezes por não entendermos os seus desdobramentos.” John Gray sustenta que os ocidentais optam hoje em dia pelo agnosticismo porque não querem enfrentar a ideia de que são mortais. É uma forma de escaparem das limitações do seu corpo em busca de algum tipo de liberdade, diz o filósofo”.