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João, Maria e o dia do servidor público

Todas as manhãs, enquanto sua esposa deixa o filho caçula na creche da prefeitura, João leva a menina na escola estadu­al. O mais velho estuda no Instituto Federal de Agronomia. Um jovem muito inteligente, mas que quase morreu, pois tinha uma doença rara. Está vivo graças a Deus, ao pessoal do Hospital das Clínicas e a um cientista que desenvolveu um medicamento milagroso. Foram meses de fisioterapia e cuidados da equipe multidisciplinar. Logo ele estará formado e quer trabalhar na Embrapa, no desenvolvimento de novas variedades de alimentos.

Ontem, enquanto dirigia, o tráfego estava mais lento, foi quando João observou os agentes da companhia de trânsi­to orientando os motoristas. Ouviu pelo rádio que vários veículos se envolveram em grave acidente com vítima fatal. Visualizou viaturas dos bombeiros, equipes do SAMU, Polícia Civil, Polícia Militar, Polícia Científica, Instituto Médico Legal e Guarda Metropolitana, todos mobilizados em retirar pessoas das ferragens, transportar os falecidos e preservar o local. Havia divergência sobre quais os culpados e certamente um processo judicial mobilizará escreventes, peritos, promotor, defensor, juiz e uma série de profissionais do direito. Os sobreviventes precisarão de acompanhamento especializado em saúde.

A noite chega e mergulhado no celular, João recebe me­mes e vídeos falando que servidores públicos não gostam de trabalhar, possuem privilégios, altos salários e a solução seria a privatização. Até um deputado, que tem dezenas de apa­drinhados em cargos em comissão, faz discurso veemente de que o futuro está na terceirização. Enquanto isso, Maria cuida dos afazeres domésticos, liga a televisão, mas não dá devida atenção à reportagem sobre o Dia do Funcionário Público e sua importância para a sociedade.

O comentarista mostra que os servidores estão presentes em quase todas as atividades do nosso cotidiano. Ele explica­va as diferenças salariais entre os vários setores. No Judiciário, 85% ganham acima de R$ 5.000. No poder Legislativo, cerca de 35% recebem mais de R$ 5 mil. No Executivo, apenas 25% dos trabalhadores ganham mais de R$ 5 mil. Um especialista considerava a necessidade de corrigir distorções, especial­mente daqueles que estão acima do teto, dos poucos que rece­bem mais de R$ 100 mil por mês e ainda, acumulam infinitas vantagens em detrimento da metade que ganha em média R$ 2.727. Informou, ainda, que no geral um quarto (25%) recebe até R$ 1.566 e nas prefeituras existem milhares que recebem um salário mínimo.

A matéria concluía que existem muitos interesses no desmonte do serviço público, inclusive de grandes corpora­ções interessadas em assumir determinadas atividades. Outra matéria falava que a Petrobras registrou lucro de R$ 31,1 bilhões no terceiro trimestre de 2021, enquanto os correios lucraram R$ 1,5 bilhão. E concluía com uma indagação. Por que vender?

João e Maria não participam do debate sobre as necessida­des do país e sua população, embora sonhem com o cresci­mento econômico e social para sua família. Eles desconhecem que sem o setor público educação, saúde, segurança, mobili­dade urbana, assistência social e infraestrutura simplesmente não existiriam. Também que para seu funcionamento a figura dos servidores ou funcionários públicos é indispensável. Tal­vez um dia percebam que a existência de um serviço público de qualidade é a garantia da vida, da liberdade e todos os direitos constitucionais da chamada cidadania.

Por hora vão dormir, amanhã o dia promete e certamente usarão diversos serviços públicos, sem ao menos dizer: Para­béns, servidor!

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