Por Adriana Cristofoli
Fugir do estresse do dia a dia, conhecer lugares novos por caminhos diferentes, cultivar o bom humor e fazer novos amigos. Pode-se dizer que essas são algumas das motivações para se tornar um jipeiro.
Esse estilo de vida que combina aventura, liberdade e paixão por veículos 4×4, é antigo. Originário dos EUA, esse movimento ganhou popularidade no Brasil nas décadas de 1970 e 1980. Inicialmente era visto com um hobby, mas rapidamente se transformou em um estilo de vida de amizade, lazer, amor à natureza e de ajuda ao próximo.
“As pessoas com um Jeep ou veículo 4 x 4 chegam em lugares onde um veículo convencional não chega, assim o trajeto se torna em uma aventura exclusiva de lazer e ajuda em regiões de catástrofe, como aconteceu recentemente nas enchentes no sul do país”, explica Sinval Félix da Silva, sócio fundador do primeiro Jeep Clube de Ribeirão Preto SP, criado em 1988.
No Brasil existem vários clubes deste gênero. O Jeep Clube do Brasil, um dos mais antigos, surgiu em 1985 em São Paulo e está em atividade até hoje. Aqui em Ribeirão Preto e região, o primeiro criado foi o Jeep Clube de Ribeirão. Depois vieram vários outros clubes e grupos off road como o Jeep Clube de Jardinópolis, Jeep Clube de Sertãozinho, Jeep Clube de Franca. Os principais grupos Off Road são o Hunza, Sertão off Road, Os Caras feia, Arranca Tocos, Pé na Jaca, Trilhas e Tombos e Fora da Estrada.
Para ser jipeiro não existe restrição
Engana-se quem acredita que para ser jipeiro precisa ter um Jeep. Muita gente começa participando de trilhas e passeios como carona. Esse carona recebe o apelido de Zequinha e tem a função de ajudar o motorista no decorrer da trilha. “O Zequinha abre e fecha porteiras, desce do veículo para ver o melhor lugar para passar na erosão do riacho, entre outras funções”, explica Sinval.
“A princípio não é preciso comprar um veículo 4x 4, basta entrar em um grupo. Normalmente as pessoas chegam nos grupos levadas por algum membro. Mas também podem ir direto nas reuniões que acontecem mensalmente para mergulhar no universo da aventura”, detalha.
O investimento inicial de um veículo 4×4 ou Jeep é de cerca de R$ 30 mil. Hoje os carros 4×4 mais usados para fazer trilhas off road são os Troller que são mais caros e custam cerca de R$ 90 mil.
Mas os valores podem ser maiores. “Temos amigos que já gastaram meio milhão no jipe”, conta outro apaixonado pelo estilo, o advogado, Gustavo Henrique Cabral Santana. Ele pertence a dois clubes em Ribeirão Preto, o Hunza 4×4, que tem cerca de 60 membros e ao Jeep Clube Ribeirão Preto, que possui 126.
Gustavo recomenda para quem quer iniciar no mundo dos jipeiros o estudo e a conversa com quem já tem a prática. “Comece a frequentar as trilhas, expedições e passeios analisando e escolhendo qual vertente quer escolher. Depois é só preparar a viatura e sair para o mundo”, conta Santana, que anda de Jeep desde 2004.
Para ele, alcançar uma paisagem que ninguém alcança, acessar uma cachoeira em difícil localização, não tem preço. “É uma emoção indescritível”, conta. Mas o respeito com a natureza é fundamental. “Não podemos atrapalhar a natureza para atingir nossos objetivos, não desmatamos e, principalmente, trazemos nosso lixo de volta”, explica. O advogado faz trilhas geralmente a cada quinze dias, em finais de semana.
Viagem inesquecível
Para Sinval uma viagem inesquecível foi a primeira expedição que ele organizou no Jeep Clube de Ribeirão Preto, que percorreu toda Serra da Canastra, em 1993. “Entramos pela cidade de Passos, em Minas Gerais, Cachoeira Casca Dantas por baixo e por cima, São Roque de Minas, nascente Rio São Francisco, São João Batista da Canastra e saímos por Sacramento. Foram três dias marcantes”, descreve. Participaram desta aventura cinco Jeep Willys e um Ford original.
Já para Gustavo Santana uma viagem que ficou marcada na memória, foi atravessar o Pantanal. “Atravessamos o Pantanal sul-mato-grossense alagado. Ficamos acampando de ponto em ponto ao relento no meio do mato. Foram sete dias sem sinal de internet, sem contato com a humanidade em meio à natureza”, relembra.
O que é um Jeep e como surgiu?
Jeep é um veículo que foi inicialmente criado como equipamento militar, encomendado pelo Exército Americano usado a partir da Segunda Guerra Mundial. A palavra Jeep seria formada pelas iniciais das palavras Just Enough Essential Parts, algo como “apenas peças essenciais”. Isso porque o veículo militar era produzido por diferentes empresas: todas fabricavam o mesmo projeto e intercambiavam peças.
Um veículo leve, rápido, de fácil manutenção que tem força ou tração nas quatro rodas por isso o 4×4. Foi fabricado mais um milhão e meio de unidades e após a guerra foi distribuído para o mundo inteiro.
“Foi assim que nasceu essa ligação do Jeep com a sociedade civil. Surgindo assim os jeepeiros, ex-militares apaixonados pelos veículos e depois seus filhos, netos, etc”, explica Sinval.
Colecionador
Roberto Celim, fundador do Jeep Clube QG Militar, em Jardinópolis, faleceu a cerca de dois meses.
Ele foi o idealizador da única exposição histórica da participação da Força Expedicionário Brasileira na II Guerra Mundial.
Tinha uma paixão pela história do Jeep na Guerra e mantinha um acervo destes veículos.