Culturalmente, nosso País naturalizou, infelizmente, o “jeitinho brasileiro”, de tirar vantagem de alguém ou de algo, e essa forma aristocrática e autoritária de resolver conflitos por meio da hierarquia de classes. São costumes ainda da época colonial, e que vem sendo estudado há décadas por um dos maiores pensadores do comportamento brasileiro, o antropólogo Roberto Damatta.
Mas nós não queremos o jeitinho brasileiro de tirar vantagem, não queremos que os conflitos se resolvam com tratamentos diferenciados. Isso é danoso e injusto demais. O Brasil precisa e merece evoluir educacionalmente e culturalmente. Mas reflito também que não adianta mudar os políticos, os governantes, as instituições, se as pessoas não evoluírem. O ser humano tem uma dificuldade ímpar de assumir responsabilidades por seus atos e tem a mania de arranjar culpados para tudo que não está certo.
Se queremos nossos direitos também devemos cumprir deveres, sermos cidadãos de fato. A honestidade precisa ser em todos os âmbitos. E o que a Educação tem a ver com isso?
Acredito que a transformação do indivíduo pelo conhecimento, o estudo da ética, da trajetória de nossa história e nossa cultura, de fazermos a reflexão crítica dos desdobramentos de nossas atitudes, de termos a consciência e diminuirmos as desigualdades e, principalmente, o exemplo vindo de casa podem ajudar a mudar este cenário. Afinal, este rito só é perpetuado, muitas vezes, pela conduta de algum adulto frente a uma criança que, não nascendo pronta como cita Mario Sergio Cortella, entenderá em suas raízes mais profundas que uma atitude de levar vantagem é correta.
Nossas ações diárias falam mais que muitos discursos. E essas ações precisam ressoar em todas as camadas, em todos os lugares, ou seja, que tenhamos como valor principal o fazer valer as leis e os direitos a todos. Acabar de vez por todas com a prática aristocrática de inferiorizar ou buscar privilégios, afinal, a sociedade não tolera mais calada esse tipo de acinte.