Adriana Dorazi – especial para o Tribuna Ribeirão
Bonfim Paulista cresceu e mudou! Em ritmo mais acelerado do que muitas regiões de Ribeirão Preto. Ficou mais caro morar no distrito que foi criado na década de 1980. Ainda assim a segurança, tranquilidade e muito verde fazem a diferença para quem escolhe morar lá.
Essa é a nova realidade de Bonfim Paulista, que, atualmente, conta com mais de cem condomínios e viu seu desenvolvimento em conjunto com a expansão da zona Sul de RP atrair negócios de padrões mais sofisticados. Segundo dados do Instituto de Economia da Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp), de 2013 a 2017 a arrecadação de IPTU no distrito aumentou em 191%, enquanto a de Ribeirão Preto 112%.
Dados mais recentes confirmam que em 10 anos a população saltou de pouco mais de 11 mil para 21 mil pessoas. Segundo o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o crescimento concentrado nos últimos cinco anos foi de 20%.
Antônio Carlos Maçonetto é proprietário de imobiliária e confirma os números em alta. “É uma tendência de as cidades crescerem mais para a zona Sul. Os moradores do distrito terão que acompanhar essa evolução. Os imóveis estão mais valorizados e em breve será necessário atualizar a planta genérica para que o IPTU consiga cobrir os custos do desenvolvimento urbano”, comenta.
História do Distrito
O distrito de Bonfim Paulista foi criado com características de povoado. Ao longo do tempo ganhou infraestrutura, transformando-se num centro urbano para prestação de serviços e comércio em benefício à população residente no entorno, uma mistura de urbano e rural.
Nos anos de 1970, com a mudança do trecho da estrada de ferro que passava pelo local e a abertura da Rodovia Anhanguera, o desenvolvimento do local ficou prejudicado, ganhando novo fôlego somente no início dos anos de 1990, quando teve início sua expansão.
A partir desse crescimento, Bonfim Paulista começou a viver o processo de gentrificação, a transformação da paisagem urbana e do perfil social dos bairros, o que encarece o modo de vida e, muitas vezes, afasta moradores originários do local ao atrair residentes de maior poder aquisitivo.
Para o professor do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, César Ricardo Simoni Santos, a chegada de investidores ou novos moradores faz com que os bairros sofram o processo de desenraizamento, uma vez que os novos residentes têm hábitos de consumo mais caros. Com isso, os preços dos imóveis, aluguéis e comércios locais aumentam, tornando inviável para os antigos residentes manterem antigos hábitos ou até mesmo o lugar de moradia na região.
Segundo Santos, esses moradores mudam seus bairros e de padrões. “O aumento no custo de vida é normalmente a causa principal da expulsão do grupo original, ou seja, a medida que o grupo com maior poder de compra vai chegando na área os preços ligados ao custo de vida da região começam a aumentar e acabam se tornando incompatíveis com o padrão de vida do grupo que já ocupava a área”, analisa.
Por outro lado, diz o professor, para o setor privado o processo é vantajoso. As construtoras e imobiliárias acabam se beneficiando com o encarecimento das regiões, tendo em vista que o metro quadrado dos imóveis valoriza. Os comércios locais como bares, restaurantes e lojas de materiais de construção também são beneficiados, pois conseguem aumentar os preços dos produtos devido à nova população ter maior poder aquisitivo.
Bairros gentrificados
No Brasil, as capitais estaduais são as cidades que mais sofrem com o processo de gentrificação. Em São Paulo, por exemplo, o bairro Vila Madalena, que antes era conhecido por ter estabelecimentos e imóveis tradicionais e simplistas, passou pelo processo de valorização imobiliária e revitalização. Atualmente, o bairro da zona oeste é destino popular para turistas e moradores de alta renda. A região de Pinheiros também passa por uma intensa transformação, anteriormente um bairro industrial e comercial, a região se tornou um polo de desenvolvimento imobiliário.
Já no Recife, o Cais José Estelita, uma área abandonada na região central da capital pernambucana, também sofreu com o fenômeno, com a implantação do projeto Novo Recife. Mesmo com protestos durante oito anos, por parte dos moradores do entorno, as ações foram executadas com a demolição de antigos armazéns para a construção de torres residenciais e comerciais. Atualmente as obras estão em andamento e comandadas por construtoras privadas.
Bonfim Paulista pouco estudada
Apesar de ser uma área valorizada e em acelerada expansão, toda área que é delimitada como parte de Bonfim Paulista não tem planejamento para o desenvolvimento urbano e poucos estudos. A reportagem do Tribuna Ribeirão questionou a prefeitura sobre o distrito, mas a nota disse apenas que “a secretaria da Fazenda informa que desconhece o estudo da Universidade de SP (USP/RP) e não dispõe, no momento, de dados para afirmar se as informações estão corretas ou não”.
A administração regional de Bonfim Paulista está sem cargo de chefia há vários meses. Mesmo os sistemas de controle de ligações de água ou emissão de carnês de IPTU não seria capaz de distinguir o crescimento da região que no mapa abrange, por exemplo, o entorno do Shopping Iguatemi.
O estudo mais recente sobre o distrito foi feito pelo Instituto Paulista de Cidades Criativas e Identidades Culturais (IPCCIC) em parceria com a Fundação Alphaville em 2012. O documento de mais de 150 páginas apresenta um Plano de Diretrizes Urbanas para a área central Bonfim Paulista (SP) capaz de garantir, de forma integrada, a proteção dos patrimônios histórico, cultural e arquitetônico, a requalicação do espaço urbano a partir das demandas da comunidade e a consequente valorização econômica das atividades comerciais e de serviço desenvolvidas, sempre com bases na economia criativa. Apesar de apresentado ao Poder Público, não houve trabalho específico de aproveitamento ou aplicação prática das sugestões do estudo.