O Instituto de Previdência dos Municipiários (IPM) deve acionar judicialmente o Banco Santander para reaver R$ 199,4 mil que teriam sido transferidos por hackers da conta bancária do órgão previdenciário. Nos dias 5 e 8 de outubro, o IPM foi alvo de quatro transferências eletrônicas disponíveis (TEDs) de R$ 49 mil cada. A instituição financeira diz que a responsabilidade é da autarquia porque o sistema é protegido por senha. O Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão Preto (MPE) acompanha o caso. O dinheiro seria usado para pagar aposentadorias e pensões.
Os quase R$ 200 mil foram transferidos para uma conta de pessoa física, que já efetuou o saque – provavelmente um “laranja”. A investigação está sob a responsabilidade da Polícia Civil e do Ministério Público Estadual (MPE). A suspeita é que uma quadrilha de hackers tenha invadido o sistema e efetuado saques da conta do IPM. Foram duas transações por dia no início de outubro, que ocorreram depois que o então diretor financeiro do órgão, Miguel Boudakian Moysés Júnior, atualizou o dispositivo internet banking – pelo sistema eletrônico da instituição.
A atualização, segundo a superintendente do IPM, Maria Regina Ricardo, foi feita porque o banco teria informado em seu site, naquele período, que faria a atualização destes dispositivos. Outro motivo foi o fato de o diretor financeiro do IPM ter recebido ligação telefônica de uma mulher de nome Flávia informando que era funcionária da instituição bancária e que havia entrado em contato para atualizar o sistema.
De acordo com o Instituto de Previdência dos Municipiários, a suposta funcionária tinha todas as informações, inclusive as que são restritas aos diretores com acesso a esta conta, como por exemplo, valores depositados e quem eram as pessoas com autorização para fazer movimentações bancárias. “Todo o processo de atualização foi feito pelo site, com acompanhamento em tempo real da, até então e para nós, funcionária do banco”, explica Maria Regina Ricardo. A atualização foi finalizada pelo diretor financeiro e pelo tesoureiro do IPM e dois dias depois os saques eletrônicos virtuais foram feitos.
De acordo com a superintendente, ao tomar conhecimento do saque eletrônico ela solicitou explicações ao banco, registrou boletim de ocorrência (BO), procurou o Ministério Público para denunciar o roubo virtual e abriu sindicância administrativa, concluída nesta semana, segundo consta no Diário Oficial do Município (DOM). No relatório final, o agora ex-diretor financeiro reconhece que houve uma grave falha dos sistemas de segurança do IPM. Ressalta que por ter sido uma operação atípica as que o instituto faz regularmente – transferências diárias e de alto valor –, deveria ter sido bloqueada pela instituição.
Moysés Júnior pediu afastamento do cargo de diretor financeiro assim que os saques foram constatados para que a investigação fosse realizada com imparcialidade. Nesta semana, ele foi exenorado por determinação da sindicância. O cargo de confiança é em comissão, sem vínculo empregatício.
IPM vai cobrar banco na Justiça Aposentadoria complementar
O Instituto de Previdência do Municipiários (IPM) diz que vai cobrar judicialmente do Banco Santander o ressarcimento dos recursos transferidos. Em nota, a instituição financeira informa que as transações contestadas são válidas, pois “foram autenticadas com credenciais de segurança de uso exclusivo e intransferível do cliente (senha)”. Informação esta que, segundo o banco, “não pode ser fornecida a qualquer outra pessoa, em nenhuma hipótese ou circunstância, sem qualquer exceção.”
O ex-diretor financeiro do IPM, Miguel Boudakian Moysés Júnior, disse que o órgão previdenciário foi vítima de uma quadrilha especializada em fraudes bancárias e que os fatos foram devidamente informados às autoridades e à instituição financeira. Também alegou que, assim que os fatos ocorreram, pediu afastamento do cargo para que as apurações pudessem ser realizadas com isenção.
“Ressalto que houve grave falha nos sistemas de segurança da instituição financeira, pois as operações realizadas com fraude não estavam autorizadas em contrato e jamais tinham sido realizadas pelo IPM, conforme corretamente apontado pela Comissão Sindicante”, informou Moysés Júnior. Em nota, a prefeitura confirmou o furto.
Diz o texto: “No dia 5 de outubro, o Instituto de Previdência dos Municipários de Ribeirão Preto sofreu uma invasão por hacker na conta bancária no Santander que provocou um rombo de R$ 199.404,00. A superintendente do IPM, Maria Regina Ricardo, ao constatar as transferências bancárias realizou todos os procedimentos necessários. Comunicou a gerencia do banco, registrou boletim de ocorrência na Delegacia Seccional de Polícia Civil e denunciou o fato ao Ministério Público”.
Diz ainda que “a polícia investiga o caso, se há correlação com a quadrilha envolvida em fraudes contra clientes de instituições bancárias e de crédito, alvo da Operação Ostentação. O IPM já publicou, nesta quinta-feira, dia 29, o resultado da sindicância realizada e, ressalta que, medidas judiciais já estão sendo tomadas para buscar recuperar os valores e que o sistema de segurança já foi reforçado”, finaliza.
Já o Sindicato dos Servidores Municipais informou que irá acompanhar as investigações e espera que o caso seja apurado com urgência. Cobra a devolução do montante “com a máxima celeridade”. Diz também que a exoneração do diretor financeiro não basta. “Além da recuperação dos recursos do IPM e da responsabilização dos culpados, há ainda um longo e necessário caminho de mudanças. Tanto pela economia gerada como pelo simbolismo que comporta, é de grande relevância para o município – e esta é a cobrança do sindicato – a diminuição de cargos comissionados sem vínculo não apenas no IPM, mas em todo o serviço público municipal”.
E prossegue: “Não se pode cogitar a hipótese de que o agente que não tenha qualquer tipo de preparação técnica esteja apto a exercer cargos de importância como são inúmeras funções de direção, chefia e assessoramento. A não escolha do melhor preparado para o exercício do cargo comissionado fere o ideal de boa administração dentro do qual está incluído o princípio da eficiência”, conclui o texto.
Furto em Jacareí
A Polícia Civil de Jacareí também investiga o desaparecimento de R$ 317 mil da conta corporativa da Câmara de Vereadores. O furto cibernético aconteceu no final de setembro e a transferência foi feita, segundo o boletim de ocorrência, por meio do sistema internet banking. O valor que sumiu corresponde ao total do que havia na conta alvo da investigação e seria utilizado para pagamento mensal dos cerca de 100 servidores daquela Casa de Leis.