Nesta quinta-feira, 24 de março, completou um mês que a Rússia invadiu a Ucrânia. Os efeitos da guerra são devastadores. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), perto de sete milhões de pessoas estão deslocadas internamente, e o número dos que fugiram para países vizinhos está se aproximando rapidamente de quatro milhões.
Significa que um em cada quatro ucranianos estão deslocados à força. De acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM), um em cada três deslocados internos sofre de uma condição crônica. Cerca de mil centros de saúde na Ucrânia estão perto de áreas de conflito e as consequências são acesso limitado ou inexistente a medicamentos e hospitais, o que significa que os tratamentos de doenças crônicas praticamente pararam.
A infraestrutura de saúde do país destruída e o fornecimento de suprimentos médicos interrompido representam uma grave ameaça para milhões de pessoas. Segundo a ONU, acredita-se que aproximadamente metade das farmácias da Ucrânia esteja fechada. Muitos profissionais de saúde estão deslocados ou incapazes de trabalhar.
Até 22 de março, a OMS havia verificado 64 ataques à saúde em 25 dias (entre 24 de fevereiro e 21 de março), causando 15 mortes e 37 feridos. Isso equivale a uma média de 2,5 ataques por dia. O escritório de Direitos Humanos da ONU em Genebra disse na terça-feira (22) que registrou 953 mortes de civis e 1.557 feridos desde o começo da invasão. O Kremlin nega que esteja tentando atingir civis.
“Os ataques à saúde são uma violação do direito internacional humanitário, e uma tática de guerra perturbadoramente comum – eles destroem a infraestrutura crítica, mas pior, destroem a esperança. Eles privam pessoas já vulneráveis de cuidados que muitas vezes são a diferença entre a vida e a morte. Os cuidados de saúde não são – e nunca devem ser – um alvo”, disse Jarno Habicht, representante da Organização Mundial de Saúde (OMS) na Ucrânia.
Muitas pessoas continuam presas em áreas de conflito e, com os serviços essenciais suspensos, não conseguem acesso a comida, água e medicamentos. De acordo com a ONU, mais de 200 mil pessoas estão agora sem acesso à água em várias localidades no oblast de Donetsk, enquanto os constantes bombardeios na região de Luhansk destruíram 80% de algumas localidades, deixando 97.800 famílias sem energia.
A guerra já deixou mais de 2,9 milhões de crianças em extrema necessidade de assistência humanitária, segurança, proteção e apoio psicossocial. Mais de 1,5 milhão de crianças ucranianas já fugiram do país. A Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou ontem uma resolução sobre as consequências humanitárias da agressão russa contra a Ucrânia e pediu pelo cessar-fogo imediato.
Foram 140 votos favoráveis, cinco contrários incluindo China e 38 abstenções. A resolução destaca os ataques pela Federação Russa contra civis ucranianos e as “terríveis consequências humanitárias”, que diz estar “em uma escala que a comunidade internacional não vê na Europa há décadas”. Os Estados-membros pediram ainda que pessoas em situações vulneráveis, como mulheres e crianças, além de jornalistas e trabalhadores do setor humanitário estejam totalmente protegidos.
O Grupo dos Sete (G7) divulgou comunicado – após reunião de Cúpula para tratar da guerra na Ucrânia – em que afirma que trabalhará de forma conjunta para juntar evidências de que a Rússia cometeu crimes de guerra durante o conflito no Leste Europeu. Segundo a nota, o cerco a cidades ucranianas e o impedimento de estabelecer corredores humanitários são “inaceitáveis”, e o G7 “dá boas-vindas” a investigações de órgãos internacionais, incluindo o Tribunal Penal Internacional.
O grupo ainda instou a Rússia a cumprir a lei internacional e encerrar a ofensiva militar na Ucrânia. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, defendeu a expulsão da Rússia do Grupo dos Vinte (G20), durante coletiva de imprensa após reuniões com líderes de Estado da União Europeu (UE) e do Grupo dos Sete (G7), A possibilidade foi discutida ontem, mas não será concretizada enquanto “a Indonésia e outros países” não concordarem.
Quanto à possibilidade de que os EUA e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) respondam militarmente a um eventual uso de armas químicas da Rússia, Biden disse que isso dependeria da escala do uso deste tipo de armamento. A Ucrânia acusa Moscou de levar à força 402 mil civis de cidades ucranianas destruídas para a Rússia, onde alguns podem ser usados como “reféns” para pressionar Kiev a desistir. O número inclui 84 mil crianças. O Kremlin disse que as pessoas realocadas da Ucrânia queriam ir para a Rússia.