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Interlagos, uma história que começa em 1972

Quando o sol clareou a pista de Interlagos, no dia 30 de março de 1972, o asfalto brilhou. Eram milhares de cacos de vidro que reluziam espalhados ao longo da reta dos boxes, atirados durante a noite de sábado para domin­go por uma legião de torcedores embriagados, que por pouco não determinaria a inviabilidade do autódromo integrar o calendário oficial da Fórmula 1. Desespe­rado, Émerson Fittipaldi foi ao alambrado pedir ao público que aquilo não se repetisse, enquanto uma multidão de funcionários varria às pressas a ameaçadora sujeira, e bombeiros lavavam todo o trecho. Denny Hulme, que havia sido campeão mundial em 1967, pela Brabham, e que es­tava no time da McLaren, foi en­fático: “Correr nessas condições é o mesmo que ter um 38 aponta­do para o capacete”.

O quase desastrado Grande Prêmio não valia pontos para o campeonato e foi vencido pelo argentino Carlos Reutemann, da Brabham, seguido pelo sue­co Ronnie Peterson, da March, e pelo brasileiro Wilson Fittipaldi, também da Brabham. Trazido ao Brasil graças ao empenho e à tenacidade de Émerson Fittipal­di, que ingressara dois anos antes no time da Lotus, a prova teste foi considerada válida e Interlagos (hoje Autódromo José Carlos Pace) estava capacitado a receber uma corrida oficial, o que acon­teceu no ano seguinte. Naquele 1972, o piloto brasileiro – con­siderado o grande responsável pelo sucesso da categoria no Bra­sil – conquistaria o seu primeiro título de campeão mundial pela equipe comandada pelo lendá­rio Colin Chapman. O segundo título viria dois anos depois, pela McLaren, em 1974.

Em 1973, na estreia na Fór­mula 1, o vencedor foi Emerson Fittipaldi (Lotus/Ford Coswor­th), seguido de Jackie Stewart (Tyrrell/ Ford Cosworth) e Denny Hulme (McLaren/ Ford Cosworth). Ele repetiu o feito no ano seguinte, em 1974, ago­ra com McLaren/Honda. Em 1975, numa incrível sequência brasileira, foi a vez de José Car­los Pace, o ‘Moco’ brilhar e con­quistar o GP do Brasil, com uma Brabham/Ford Cosworth, tendo em segundo lugar Emerson Fit­tipaldi (McLaren/Ford Coswor­th) e Jochen Mass (McLaren/Ford Cosworth).

No Rio – Ao longo da histó­ria da Fórmula 1 no Brasil, dez grandes prêmios foram disputa­dos em Jacarepaguá (Autódromo Nelson Piquet), no Rio de Janeiro (1978 e de 1981 a 1989). A con­troversa mudança de endereço ti­nha um apelo técnico: Interlagos era um traçado envelhecido (foi inaugurado em meados de 1940 e foi concebido primeiramente para ser um resort pelo o enge­nheiro britânico Louis Romero Sanson), era muito extenso, com seus 7.960 metros, pouco seguro. E outra financeira: os donos da F1 estavam de olho no poderio turístico do Rio de Janeiro, e de sua pista mais moderna e mais curta, e também da impossibili­dade financeira da prefeitura de São Paulo em bancar as constan­tes e necessárias reformas. Trans­corrido dez anos, chegou a vez de a prefeitura do Rio de Janeiro não mais suportar os gastos.

De volta – Templo do auto­mobilismo nacional e um dos traçados mais festejados pelos pilotos da Fórmula 1, por ser ex­tremamente seletivo, o retorno a Interlagos se deu em 25 de março de 1990, com a vitória do “Rei do Rio”, Alain Prost, a bordo de uma Ferrari. O ‘Professor’, como era apelidado o francês detentor de três títulos mundiais na F1 (1985, 1986 e 1989), conquistou seis triunfos no Rio de Janeiro (1982, 1984, 1985, 1987 e 1988) e agora procurava reinar em São Paulo. Nesta corrida, Ayrton Senna foi o terceiro colocado, com Gerard Berger em segundo, ambos com McLaren/Honda.

O tamanho da pista havia sido reduzido para 4.325 metros, com mais áreas de escape e com melhora significativa na seguran­ça, uma luta dos pilotos que havia começado em meados década de 1970, encabeçada, entre outros, pelo brasileiro Emerson Fittipal­di. A transformação do circuito contou com a participação ativa de Ayrton Senna e da prefeita Luiza Erundina, na época no Partido dos Trabalhadores, e do então presidente da Confedera­ção Brasileira de Automobilismo (CBA), Piero Gância.

Senna e Piquet – Os dois pilotos tricampões mundiais de Fórmula 1, Nelson Piquet (1981, 1983, 1987) e Ayrton Senna (1988, 1990 e 1991) têm história diferentes em Interlagos. Senna obteve duas vitórias, ambas pela McLaren, em 1991 e 1993. Foram triunfos que levaram a torcida ao delírio, com direito a invasão de pista após o término da corrida e com Senna estacionando o seu bólido junto à multidão. Com duas vitórias também aparece Fe­lipe Massa em 2006 e 2008 (com a Ferrari). Piquet jamais foi ao topo do pódio em Interlagos. Suas vi­tórias no Brasil se deram no Rio de Janeiro, em 1983 (Brabham/BMW) e 1986 Williams/Honda), no autódromo que levava o seu nome e que foi demolido.

O maior vencedor em Inter­lagos, no entanto, foi o alemão Michael Schumacher, detentor do primeiro lugar nos anos de 1994 (Benetton/Ford), 1995 (Be­netton/Renault, 2000 (Ferrari) e 2002 (Ferrari).

Ameaça – Em 2016, O Gran­de Prêmio do Brasil ficou sob risco de sair do circuito e a etapa apareceu com um asterisco no calendário provisório divulgado pela FIA, havendo assim a dúvida se o GP seria cancelado. Isso pode ter acontecido devido ao prejuízo de R$ 98 milhões causado pela perda dos patrocinadores Petro­bras e Shell. Porém assim que o calendário oficial saiu à edição de 2017 estava confirmada e o Gran­de Prêmio do Brasil será realizado no próximo domingo, 12 de no­vembro de 2017.

Já para um futuro muito pró­ximo, o Grande Prêmio do Brasil corre risco de não acontecer. Se­gundo Bernie Ecclestone, o atual prefeito da cidade de São Paulo, João Dória, não tem intenção de gastar dinheiro público para a re­alização do evento. Ainda segun­do Ecclestone, João Dória e ou­tras autoridades brasileiras não consideram a Fórmula como prioridade, e Dória tem como objetivo privatizar Interlagos, tendo proposto a venda a Ber­nie Ecclestone. Este negou que irá comprar Interlagos, mas fez um prognóstico de que o Gran­de Prêmio do Brasil ocorrerá até 2020, de forma confirmada.

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