Tribuna Ribeirão
Artigos

Inteligência e seus descontentes (34): Desigualdades

Entre as muitas preocupações que algumas pessoas têm sobre a pesquisa com inteligência é sua percebida ameaça à igualdade. À primeira vista, pesquisa sobre inteligência parece carregar o principal ingrediente ativo da desigualdade: os fundamentos das diferenças individuais. Dito de outra forma, parece para mui­tos que a inteligência geral tem importância prática na sociedade, como um todo, acarretando variadas diferenças econômicas, sociais, escolásticas, sanitárias e muitas outras que podem ser representados por indicadores comumente divul­gados por autoridades governamentais. Alguns estudiosos, inclusive, entendem que as pesquisas acerca da inteligência assemelham-se a um desastre para os objetivos de um sociedade igualitária.

Uma preocupação política e social para muitas pessoas é a desigualda­de dos desfechos individuais. Estes desfechos como mencionados alhures, podem ser em termos de desigualdade na saúde, isto é, algumas pessoas vivem mais longamente que outras, podem ser nas desigualdades econômicas, sendo algumas pessoas mais afluentes que outras, ou podem ser desiguais no sucesso acadêmico implicando notavelmen­te que muitas pessoas alcançam graus escolásticos muitos elevados ao passo que tantos outros continuam em níveis muito inferiores a despeito de muitas oportunidades e recursos oferecidos. A literatura científica está sobrecarregada de hipóteses explicativas, sendo a maioria delas frágeis tanto do ponto de vista experimental, correlacional, quanto do ponto de vista da validade e confiabili­dade dos indicadores usados. A principal lição que podemos tirar de milhares de estudos correlacionais entre variados desfechos socialmente relevantes e os diferentes escores de inteligência é muito claro: desigualdades individuais nos desfechos sociais são associadas com diferen­ças em inteligência. As razões podendo ser ambientais, genéticas, ou mesmo um produto da interação entre genética e ambiente que é contínua e dinâmica ao longo de toda a trajetória da vida de um indivíduo na sociedade.

Inteligência é um conceito associado ao que se “pode fazer”. A distinção entre o que se pode fazer e o que se deseja fazer é relevante para o estudo das diferenças individuais entre as pessoas, porque quando diferenças no desempenho entre as pessoas são torna-se difícil verificar se elas são devido às diferenças na inteligência ou na motiva­ção. Um grande número de estudos tem avançado a hipótese de que algumas pessoas consistentemente pontuam abaixo de suas habilidades, ou capacidades, nos testes de habilidades cognitivas e em outras mensurações de desempenho acadêmico porque elas exatamente não tentam, não manifestam motivação para a realização.

Para muitas outras pessoas uma preocupação com a desigualdade, para além daquela entre indivíduos, é a desigualdade entre as nações, a qual nada mais é, cada uma delas, um agregado de pessoas. Desde há muito na história da huma­nidade riqueza e saúde não são distribuídos uniformemente entre as nações. Para explicar porque algumas nações são mais ricas e porque tantas outras são muito pobres, várias hipóteses têm sido aventadas. Entretanto, em que extensão é a presente desigualdade na composição da distribuição de riqueza e saúde entre as nações devido às diferenças nas habilidades cognitivas de diferentes pessoas.

Poucos economistas têm pensado sobre esta hipótese, embora a poder explicati­vo do constructo inteligência tenha ganhado um empoderamento muito maior nos últimos anos. Inúmeras análises considerando a distribuição internacional da inteligência têm levantado a hipótese de que, nos dias atuais (e presumivelmente no passado e futuro) a distribuição da riqueza, da saúde e da felicidade seja em parte devido às diferen­ças na inteligência nacional. Em outras palavras, inteligência faz uma grande contribuição aos indicadores de saúde e riqueza nacionais através de sua interação com educação e diretamente.
Enfrentar as desigualdades requer entender suas causas e algumas formas de desigualdades têm uma origem parcial nas diferenças em inteligência. Engajar-se em pesquisas acerca da inteligência poderá nos ajudar a enfrentar e desenvolver mais científica e honestamente quais políticas públicas funcionam e quais não.

Postagens relacionadas

O semáforo 

Redação 2

A Proclamação da República em Machado de Assis

Redação 1

Sérgio Reis, Almir Sater e Sócrates

Redação 1

Utilizamos cookies para melhorar a sua experiência no site. Ao continuar navegando, você concorda com a nossa Política de Privacidade. Aceitar Política de Privacidade

Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com