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Inteligência e seus descontentes (33): A falácia da moralidade

Uma maneira de conce­ber a falácia da moralidade é entender quando as pessoas dizem que os fatos devem se conformar às suas visões de como o mundo deve ser, e não como ele realmente é. Em sua forma mais mode­rada, esse comportamento leva as pessoas a rejeitarem evidências científicas e avanços tecnológicos pelo fato delas não gostarem das implicações dos mesmos. Em sua forma mais extrema, isto leva a censuras, pelo fato de as verdades científicas serem vistas como perigosas para a sociedade e para o bem estar das pessoas. Por exemplo, quando considerando as diferenças de inteligência entre as pessoas, ou mesmo entre nações, estados e regiões, políticos, e até mesmo estudiosos, usualmente rejeitam tais resultados por entendê-los como ofensivos e excedendo, cientificamente, os limites do socialmente aceitável. Isto é uma falácia mora­lista simplesmente porque as pessoas desejam que não haja diferenças de inteligência en­tre os indivíduos, bem como, querem que os seus desejos sejam verdadeiros.

Os falsos moralistas, ou adeptos da falácia moralista, também ignoram o fato de a realidade não se preocupar com o desejo dos humanos. Todos nós sabemos que, no passado, muitos cidadãos queriam que a Terra fosse o centro do universo, mas este não se preocupou com este desejo, certamente, pois, muito antes de os humanos saberem a localização da Terra, esta já era um fato con­creto. Do mesmo modo, a evolução operou por milhões de anos para produzir seres humanos com diferenças individuais e coletivas, além de uma variedade de traços. Portanto, esperar que a evolução viesse a se conformar aos desejos humanos é algo egocêntrico e irrealista. Como um grande teórico da inteligência apontou, “Querer que alguma coisa seja assim, mesmo pelas melhores razões, não as torna assim”.

Para além da filosofia, outra razão porque pesquisa e inteligência não levam necessariamente a políticas negativas é que, frequentemente, os mesmos fatos suportam diferentes colocações. Por exemplo, o medo das consequências do conhecimento sobre influências genéticas na inteligência, e no desempenho escolar, que poderiam conduzir ao entendimento de que, indivíduos de baixo QI poderiam ser tratados como cidadãos de segunda classe, não é o único desfecho possível. Vejamos, então, algo contrário a isso. Talvez deter­minada política pública possa, prontamente, ajudar pessoas mais vulneráveis a receberem uma parcela maior dos fundos educacionais, ou, dito de outra forma, tal política poderia levar a uma melhor remune­ração para os professores que ensinam em escolas de estu­dantes mais vulneráveis e de baixa renda, bem como, para os professores de educação especial. Nestes casos, forne­cer treinamento intensivo e, até mesmo, monitoramento adicional, e maior supor­te, aos estudantes menos privilegiados, seja melhor compreendido. Como é possível notar, uma mesma informação podendo ser dita de diferentes formas, cada qual mais bem aceita que outra, e menos rumorosa.

Outra dimensão importan­te é a crença de que as ideias herdadas são as mais prováveis de levar a consequências inde­sejáveis enquanto que as fortes influências ambientais são muito boas e desejadas. Essa concepção é muito aceita porque, com ela, as pessoas admitem que as influências ambientais dão mais esperança para mudanças concretas que os achados genéticos. Mas, a rigor, isto não é verdade, pois muitas das informações genéticas podem levar a melhores de­cisões e prevenir as pessoas que se frustrarem caso estas não alcancem, no todo, seus objetivos. No caso da inteligência, em se entendendo que baixa inteligência pode ter influência genética, espe­cialistas em políticas públicas podem poten­cializar e diferenciar suportes a essas pessoas para que elas alcancem, verdadeiramente, bem-estar satisfatório e empregos condizentes e melhor remunerados, em ambientes seguros do ponto de vista da saúde física e mental.
Finalmente, devemos lembrar sempre que, no caso particular da inteligência, as influên­cias são poligênicas e não devidas, exclusiva­mente, a um único gene. Ademais, as pessoas não têm a liberdade de escolha de escolher seus próprios genes.

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