Conheci a Informática em 1979. Fui selecionado para trabalhar em um Centro de Processamento de Dados do Banco Itaú. Não era um CPD comum, era o primeiro de grande porte no interior e foi inaugurado com a agência 125 do banco, na esquina da rua Duque de Caxias com a Barão do Amazonas. Calculo hoje que, somando o quarto andar, onde ficava a digitação de documentos e a compensação de cheques, com o terceiro, onde ficavam as máquinas do CPD (onde eu trabalhava) e a preparação de documentos para agências e clientes, trabalhavam cerca de 300 funcionários. Penso que se juntássemos os funcionários da agência e do administrativo, só ali trabalhavam mais de 500 pessoas.
Não fiquei muito tempo lá, ser bancário realmente não era minha praia. Mas, tenho um contato quase cotidiano com a Informática desde aquela época. A velocidade com que o processamento de dados foi sendo automatizado desde sua adoção como ferramenta administrativa foi espantosa. Com certeza ela provocou mudanças drásticas no relacionamento Capital-Trabalho em apenas algumas décadas. Basta olhar para as agências bancárias hoje. Basicamente elas ainda existem porque os relacionamentos mercantis da nossa sociedade ainda carecem de comprovantes assinados, selados e carimbados, que possam ser reconhecidos oficialmente pela burocracia fiscal ou judiciária.
O mesmo aconteceu na indústria, com a robotização do processo de montagem e pintura de carros, por exemplo; com o surgimento do comércio virtual, onde se compra de tudo e de onde for, sem sair de casa e até mesmo com a agricultura e a pecuária, onde se limpa o campo com máquinas guiadas por GPS, planta-se com uma distribuição homogênea automatizada das sementes e colhe-se, também com GPS, com máquinas capazes de identificar as incorreções do solo e trabalhar de forma inteligente, com suas lâminas mantendo-se sempre na altura ideal para o corte. Na prestação de serviços a área médica se destaca, principalmente na realização de exames que demandam menos processos e menos tempo de resultado, com diagnósticos mais precisos. Até aqui nós estamos falando da primeira onda do “tsunami” informático que desabou sobre o mercado de trabalho. Ela atingiu o pessoal que trabalhava de um modo manual, realizando procedimentos repetitivos e recorrentes. Foram os chamados trabalhadores de chão de fábrica (blue collars), que foram sendo substituídos enquanto a automação, que é mais precisa na realização desse tipo de trabalho, com um custo infinitamente menor.
A chegada da Inteligência Artificial e sua utilização pelos mais diversos setores econômicos não atingirá os trabalhadores manuais que ainda restam no mundo. Tudo é questão de custo e benefício. Em alguns casos, o ser humano não será substituído por robôs, por enquanto. Um exemplo são os garis de rua. Ainda fica muito caro construir um robô com tantas partes eletro-mecânicas e dependente de baterias, que possa trabalhar em ambientes climáticos sujeitos a mudanças constantes, que consiga replicar os movimentos necessários para realizar o serviço e ainda desviar de obstáculos como veículos mal estacionados, cachorros errantes e senhorinhas desavisadas. Ainda é mais barato contratar a mão de obra que está perdida nas cidades e dar-lhe um salário, um macacão laranja e uma vassoura. Afinal é para isso é que serve o Estado. É para ficar com o ônus enquanto alguns escolhem atuar onde só se preocupam com o bônus.
A próxima onda atingirá um patamar acima na pirâmide do Trabalho. Dessa vez o pessoal mais qualificado, grande parte dele de nível universitário, irá ceder seu posto para um “bot” que realizará seu trabalho com mais rapidez, entregará um resultado mais qualificado por um custo absurdamente menor. Elon Musk anda se gabando que mandou oitenta por cento da mão de obra do Twitter embora e aumentou os lucros da empresa. Trabalhadores técnicos dessa área, como Codificadores, programadores de computador, engenheiros de software e analistas de dados já estão sendo chamados para pegar o bilhete azul nas “bigs tecs” e outras empresas do setor. Assim como pessoas da área de mídia, onde até sobravam vagas, hoje estão sendo despedidos. Publicitários, criadores de conteúdo e redatores técnicos estão nessa leva.
Dos jornalistas, nem quero falar, a coisa já estava feia e pelo jeito, vai piorar.
Centenas de milhões de vagas que poderão ser substituídas por “bots” nos próximos anos. Analistas de mercado de trabalho lembram que sempre que houve uma mudança nos processos econômicos, quando profissões desapareceram, outras novas profissões surgiram e absorveram a mão de obra que chegava ao mercado, já formada na nova realidade econômica.
É a primeira vez que veremos uma mudança radical numa faixa de profissionais qualificados, mas que já não servem para a nova economia. Imagine um competente engenheiro civil com quinze anos de experiência e que até ontem tinha um emprego que dava uma perspectiva de vida para ele e sua família. Desempregado, será apenas mais um bom engenheiro que não está qualificado totalmente para encarar o mercado de trabalho. Será que ele terá tempo e paciência para se requalificar? O drama pessoal não costuma entrar nas equações dos analistas.
Semana que vem vamos falar mais sobre as profissões que tendem a desaparecer, as novas que irão surgir e aquelas manuais que se valorizaram nos últimos anos.