Compartilho esse artigo, publicado por mim em 2010, com a intenção de mostrar o quão atual ele ainda é em sua essência. Vale lembrar que nessa época o ESG não estava em moda. Pouco, ou quase nada, se falava nesse assunto por aqui. Infelizmente, de lá para cá, falamos muito, mas fizemos pouco. A teoria até evoluiu, mas não no mesmo ritmo da prática. Inclusive caímos posições nos rankings citados no texto. Perdemos José de Alencar, que nos deixou muita saudade, mas o que ele disse em 2010 continua vivo, como se ele tivesse falado ontem. Espero que um dia escutem e que as prioridades elencadas por ele se tornem realidade.
Maurílio Biagi Filho*
A crise financeira internacional de 2008 fez (res)surgir no empresariado de várias partes do mundo o sentimento de que é preciso buscar um modelo de desenvolvimento mais sustentável, de modo a corrigir o descompasso gritante entre o desenvolvimento econômico e a situação socioambiental das últimas décadas.
Em poucos meses, para conter a crise deflagrada em setembro de 2008, os governos dos países ricos desembolsaram 11 trilhões de dólares.
Impressionante em si, essa cifra ganha outra dimensão quando comparada com os míseros 250 bilhões de dólares da ajuda humanitária dos países ricos aos países pobres nos últimos 50 anos. Ou seja, cinco bilhões por ano!
Nos próximos anos, o tripé da sustentabilidade – econômica, social e ambiental – estará muito vinculado à inovação. As empresas precisarão inovar cada vez mais na construção de processos sustentáveis, induzidos pelo Estado.
Quanto a isso, nada melhor do que ouvir nosso vice-presidente, José Alencar, um dos empresários mais respeitados do Brasil. Em recente manifestação, ele condenou o paternalismo e apontou o lucro como a principal fonte do progresso. Disse ele: “Desperdícios custam para toda a sociedade, enquanto a produção eficiente e sustentável gera riqueza e oportunidades de ascensão coletiva”.
Para Alencar, o papel econômico dos governos é desobstruir o caminho para o progresso. No Brasil, segundo ele, as prioridades são remover a ignorância, a falta de saúde e saneamento, a precariedade da infraestrutura e as políticas antagônicas ao crescimento, como juros altos demais e impostos irracionais.
Especialmente quanto à infraestrutura, temos de agir de forma factível.
Tentar, por exemplo, reutilizar os milhares de quilômetros de ferrovias abandonadas e dar força ao transporte fluvial. Quanto à produção de energia, é preciso fixar a ideia de que é importante implantar uma ampla rede de usinas térmicas movidas a combustíveis renováveis, além de construir usinas hidrelétricas.
Ainda que pesem os avanços alcançados pelo nosso país nos últimos anos, pois já somos quase a oitava economia do mundo, ocupamos o insignificante 56° lugar no ranking da competitividade e o número de patentes brasileiras significa 0,2% das patentes do planeta. É preciso, portanto, inovar com sustentabilidade.
Já estamos fazendo isso no caso da agroindústria, cujas atividades afetam diretamente o meio ambiente. Todo mundo reconhece o impacto positivo dos biocombustíveis na renovação da nossa matriz energética.
Oxigenador da gasolina, o etanol não rompe com a cadeia dos negócios do petróleo, mas é parte da solução para a necessária descarbonização do planeta.
Sem dúvida, temos capacidade para fazer muito mais, sem reduzir nosso potencial de produção de alimentos para consumo interno e exportação.
Está na hora de fazermos da preservação dos recursos naturais a chave-mestra do nosso modelo de desenvolvimento.
Sabemos que não há obra pública ou atividade econômica sem impacto sobre o meio ambiente, mas é preciso reconhecer que a partir do Código Florestal de 1965 foi montado no país um arcabouço legal que vem servindo como parâmetro ambiental para desenvolvimentistas e conservacionistas. Falta (talvez) um acordo cujos termos podem estar no novo Código Ambiental em discussão no Congresso.
A mudança na legislação pode ser uma primeira resposta à comunidade internacional, que cobra do Brasil a manutenção de algo que os países do Hemisfério Norte já não têm mais: o verde. O segundo passo seria bloquear efetivamente o desmatamento da Amazônia e o corte da vegetação nativa que cobre mais de 50% do território nacional. Se reduzirmos as queimadas, não só riscaremos o nome do Brasil da lista dos maiores emissores de gases do efeito-estufa, mas estaremos fazendo da sustentabilidade um grande negócio para o país.