Nos primeiros 30 anos do século XX, Ribeirão Preto ocupou expressiva posição econômica e política no Brasil, em decorrência de ser o maior produtor de café do país. A pujança do grão injetava grande quantidade de dinheiro na cidade, permitindo o surgimento de pioneiros na grande indústria.
A Companhia Cervejaria Paulista foi o primeiro empreendimento expressivo a ser feito por moradores da cidade, no ano de 1913. Seu idealizador foi Hanz Scherholz, sendo que a ideia foi logo apoiada por João Alves Meira Júnior, advogado, político, intelectual, que se tornaria seu primeiro presidente.
A indústria concorria com a Companhia Antarctica Paulista, empresa paulistana, fundada em 1881 e que iniciou sua expansão por uma fábrica na nossa cidade, no ano de 1911.
Há fortes indícios que a procura por Ribeirão Preto devia-se à qualidade de sua água, naquele tempo já vinda de poços artesianos, ótima para a fabricação de cerveja, numa época em que eram escassos os tratamentos do insumo, como se pode fazer hoje.
Concorreu em pé de igualdade com a Antarctica e foi responsável pela construção do Quarteirão Paulista, onde se localiza o Theatro Pedro II.
Com o início do processo de concentração das cervejarias no Brasil, a Paulista foi adquirida pela Antarctica em 1973. Sua cerveja preta Niger era líder de mercado. A nova empresa e a velha Antarctica acabaram se fundindo com a Brahma, na criação da Ambev.
Hoje, resta o prédio histórico da avenida Jerônimo Gonçalves, transformado pelo empreendedorismo de Chaim Zaher num centro cultural.
A outra grande indústria que merece destaque é a Companhia Eletro Metalúrgica Brasileira, uma das primeiras do Brasil. Para se entender sua gênese, é preciso voltar ao ano de 1898, quando a firma Rufino A. de Almeida & Cia., de Cravinhos, iniciou a iluminação pública na nossa cidade, permanecendo ativa até 1909, quando foi vendida para a família Silva Prado, já com o nome de Empresa Paulista de Força e Luz.
Para dirigir o empreendimento, veio para Ribeirão Preto Flávio de Mendonça Uchoa, integrante da família compradora. Engenheiro, estudioso, cheio de iniciativa, Flávio Uchoa expandiu as atividades da empresa. Sempre visionário e se antecipando às necessidades futuras, comandou várias iniciativas industriais, a maior delas, em 1922, quando capitaneou o criação da metalúrgica.
Seu primeiro presidente foi o Dr. João Alves Meira Júnior, consolidador da Cervejaria Paulista. A metalúrgica, a primeira movida a eletricidade no país, tinha como objetivo fundir ferro gusa e laminar aço. Para isto, Flávio Uchoa comprou jazidas de minério de ferro em São Sebastião do Paraíso, sendo a matéria-prima trazida pela Estrada de Ferro São Paulo e Minas, também comprada por Uchoa.
A inauguração festiva da indústria deu-se em 27 de agosto de 1922, com a presença do presidente Epitácio Pessoa, do presidente do Estado de São Paulo, Washington Luís Pereira de Souza, do ministro da Marinha e ex-prefeito local, Veiga Miranda, e fez parte dos festejos do primeiro centenário da Independência capitaneados pelo prefeito municipal João Rodrigues Guião, meu avô.
A metalúrgica cresceu com o tempo, produziu muito aço para várias obras e foi a fornecedora da estrutura férrea do primeiro edifício alto do Pais, o Martinelli, de São Paulo.
Entretanto, as jazidas mineiras estavam aquém das necessidades, houve aumento dos custos pela busca de matéria-prima mais longe e, em 1929, com a quebra da Bolsa de Nova York, o empreendimento não se sustentou.
Assim estes empreendimentos industriais, gerados pelo dinheiro do café, permanecem hoje somente como um capítulo da nossa história.