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Importa é fazer

A deficiência da educação brasileira é notória. As crian­ças, enfileiradas, são submetidas a verdadeiro adestramento. Obrigadas a decorar informações que hoje são obtidas num clique desses mobiles que todos têm. Insiste-se na capacida­de de memorização e descura-se do que é mais importante: desenvolver as competências socioemocionais.

No século 21, diploma já não reveste o valor que um dia teve. Interessa mais é a capacidade de se adaptar ao inespe­rado, a empatia, o talento para a comunicação, o respeito à diferença. A vontade indômita de aprender cada vez mais e de mudar de área, se for preciso.

O que era ruim, ficou muito pior com a pandemia. Em­bora o Brasil tenha mais de trezentos milhões de bugigangas eletrônicas – smartphones, celulares, notebooks, tablets e computadores pessoais – o que significa que há brasileiros com vários desses aparelhos, nem todas as crianças dispu­nham de ao menos um. Nem eram familiarizadas com o acesso à internet. E há zonas de escuridão digital, onde não chegam os sinais.

Tudo somado, resulta que foram mais de dois anos per­didos. Irrecuperáveis, na verdade. Só com imenso esforço e empenho é que haverá retomada do aprendizado. Pense-se que a aprovação automática levou para o quarto ano alunos ainda não alfabetizados. A falta de alfabetização no tem­po certo é que explica o crescente número de analfabetos funcionais. Não conseguem reproduzir com outras palavras o que leram. Não entendem exatamente o que leem. Não sabem escrever. O pior, é que vão conseguindo diplomas. Todos conhecemos pessoas assim.

O que precisa ser feito é encarar a falibilidade da edu­cação de forma honesta e corajosa. O município é uma entidade da federação brasileira. Tem obrigação de propiciar educação de qualidade aos munícipes. Educação que existe para permitir o desenvolvimento de todas as potencialida­des humanas, para capacitar a ser cidadão e a qualificar para o trabalho.

Uma cidade que tenha como objetivo uma educação de qualidade precisa coordenar uma ação coletiva que envolva dos educadores, as famílias, as mestras aposentadas – ver­dadeiras heroínas e excelentes alfabetizadoras – a mídia, as entidades, as Igrejas. Todos unidos para fazer com que essas crianças não tenham comprometido o seu futuro, por falta de um apuro no aprendizado. Não se espere apenas do go­verno. Este é servidor da população. A comunidade tem de exigir do governante uma responsabilidade consequencialis­ta. Obrigação dele, não favor. Mas o protagonismo deve ser individual. De todos e de cada um. Sem isso, parcela consi­derável do futuro estará inevitavelmente perdida.

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