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Imagens e silêncios na luta de um amor para seguir vivo

Por Rodrigo Fonseca, especial para o Estadão

Durante a elogiada passagem do drama familiar Ficaremos Bem pelo Festival de Berlim de 2020, sob o aplauso da crítica para a aspereza de sua narrativa, sua diretora, a norueguesa Maria Sødahl, já havia se recuperado de uma doença que por pouco não lhe custou a vida. Durante o calvário para se recuperar, ela pensou em escrever a saga de uma paixão que teve o prazo de validade reduzido. “Nicole Kidman vai estrelar uma refilmagem americana dessa história. A produtora do remake, que comprou os direitos, viu o filme em iPhone e se deixou tocar. É engraçado ver que uma experiência de efeito catártico que pensei para o cinema possa funcionar em outro suporte”, diz Maria ao Estadão, via Zoom, ao ser informada de que o filme chegou ao Brasil via streaming, nas plataformas digitais Claro Now, Amazon Prime, Vivo Play, iTunes/Apple TV, Google Play e YouTube Filmes.

“O mundo audiovisual não é mais o mesmo. Ainda é cedo para saber se as pessoas ainda vão ao cinema, mas é bom que os filmes cheguem até elas de alguma forma”, observa. Muito do que se vê em Ficaremos Bem saiu de suas memórias. É o caso da parceria no dia a dia entre ela e o marido, o também cineasta Hans Petter Moland (que filmou o cult O Cidadão do Ano e rodou seu remake americano, Vingança a Sangue Frio). Moland a convenceu a escolher um casal de artistas para protagonizar a love story em estágio terminal. Para arrematar, a cineasta escalou o ator assinatura de Moland, o sueco Stellan Skarsgård, para viver o companheiro devotado de sua protagonista, Anja, interpretada por Andrea Bræin Hovig. “Há uma sequência do filme em que Anja devora comida. E eu quis discutir isso numa história que celebra a luta de um amor para se manter vivo. Não ia fazer um filme sobre câncer e, sim, sobre o querer”.

Conhecida nos festivais por Limbo (2010), rodado em Trinidad e Tobago, a realizadora trabalhou com o fotógrafo habitual de Lars von Trier, o chileno Manuel Alberto Claro, na busca por uma paleta de cores que traduzisse as angústias do casal Anja e Tomas nas festas de fim de ano. No set, Manuel trabalhava como se fosse um dos atores, movendo-se em resposta aos corpos dos protagonistas, como se respondesse às ações deles”, diz Maria. “Eu nunca quis que esse filme fosse a minha biografia. Tampouco desejava uma sessão de terapia. Escrever sobre essas pessoas foi terapêutico, pois fez com que eu me olhasse e soubesse me distanciar.”

O clima intimista como Maria narra caiu como iguaria no gosto de Skarsgård, um fã do silêncio. “O que dá um diferencial ao cinema é a verdade que há nas brechas entre as palavras”, disse o ator ao Estadão, em Berlim. “É pela quietude que as imagens falam. É nelas que encontro o norte do personagem, para além do que as causalidades do roteiro impõem.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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