Quase a metade dos dois milhões de brasileiros que engrossaram a lista de inadimplentes nos últimos doze meses até abril é de idosos e essa foi a faixa etária que puxou a inadimplência no período. Enquanto o total de inadimplentes cresceu 3,2% entre abril de 2018 e abril deste ano, a fatia de devedores com mais de 61 anos de idade aumentou 10,5%. Havia 8,6 milhões de idosos inadimplentes em abril de 2018 e esse contingente subiu para 9,5 milhões em abril deste ano, segundo a Serasa Experian, empresa de informações financeiras.
“Os idosos representaram 45% do aumento do total de inadimplentes e são apenas 18% da população adulta”, afirma o economista da Serasa, Luiz Rabi. Um dos fatores que tem contribuído para o aumento do calote dos idosos é o avanço dos preços dos itens mais consumidos pelas pessoas da terceira idade. Em doze meses até março, a inflação da terceira idade cresceu 5,37%, segundo a Fundação Getulio Vargas. É um resultado que supera o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), calculado pela mesma instituição, que subiu 4,88% em igual período.
Outro fator é que os idosos também acabam sendo usados como fonte de renda para socorrer familiares que perderam o emprego, diz o economista. Assim, muitos, após atingirem o limite do crédito consignado da aposentadoria, vão ao mercado buscar outras linhas de financiamento. Eles acabam ficando sem condições de honrar os empréstimos com a aposentadoria que resta após os descontos.
No crédito consignado praticamente não existe inadimplência, só em caso de óbito. A prestação do financiamento, que pode comprometer cerca de 30% da renda, é descontada automaticamente da aposentadoria ou pensão. Só que, quando o idoso busca outras linhas além do consignado, sobram poucos recursos para ele gastar com despesas básicas. Resultado: ele acaba ficando inadimplente.
Contas de luz, água e gás, isto é, despesas básicas, puxaram a inadimplência do consumidor em abril deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto as dívidas com bancos ficaram estáveis, aponta a Serasa. Dados do Banco Central que mostram que a inadimplência dos empréstimos no sistema financeiro vem desacelerando desde 2017.
Rabi explica que geralmente os inadimplentes dão prioridade para quitar primeiro as pendências com o sistema financeiro para não ficar bloqueado no cartão de crédito e no cheque especial. Dos dois milhões de brasileiros que engrossaram a lista de inadimplentes nos últimos doze meses a maior parte foi pelo fato de ter atrasado o pagamento de contas de serviços de utilidade pública. “Não pagar essas contas de serviços é um claro sinal de gravidade, mas é contornável”, diz.
Em Ribeirão Preto, segundo a Serasa Experian, o número de inadimplentes aumentou 10,4% em abril deste ano na comparação com o mesmo período de 2018, de 241.259 para 266.374, com 25.115 devedores a mais. Significa que 38,3% da população da cidade, estimada em 694.534, de acordo com, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tem alguma conta em atraso.
A média municipal de elevação dos débitos é superior à nacional (3,1%) e à estadual (5,9%). Com base no valor médio das dívidas, de R$ 3.239,48 segundo dados apurados pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), e considerando que cada ribeirão-pretano inadimplente tenha apenas um débito, o montante chega a R$ 862.913.245,52.
Levantamento da CPFL Paulista, distribuidora que atende a 234 municípios no interior de São Paulo, aponta que Ribeirão Preto é a cidade na sua área de atuação com o maior número de clientes inadimplentes. A empresa realiza quase 130 mil ações de cobrança nas 309.817 unidades consumidoras do município que totalizam uma inadimplência de aproximadamente R$ 18 milhões. O número de devedores representa quase 42% do total de clientes da concessionária no município.
Ainda segundo a CPFL Paulista, Ribeirão Preto também é campeã no ranking de clientes com contas de energia atrasadas há mais de 30 dias na área de atuação da concessionária. Amparada por medidas legais, a companhia realizou o corte do fornecimento de energia em mais de duas mil unidades consumidoras no município. Somados, os valores em atraso desses clientes chegam a mais de R$ 1 milhão.