Apesar do apelido de infância, não foi a habilidade nos gramados que levou Alex José Gomes Eduardo a conhecer o mundo. Pelezinho esbanja alegria nas pernas, mas não só nelas. O corpo todo se transforma nas batidas do breakbeat, do hip-hop ou do rap que embalam as batalhas de breaking (ou breakdance). Quando foi apresentado à dança urbana, há 25 anos, o paulista de 38 anos sequer podia imaginar que ela seria, um dia, alçada a modalidade olímpica, como acontecerá em 2024, nos Jogos de Paris (França).
“Naquela época, a gente não tinha tanta informação ou acesso às competições. Só queria pegar o rádio, juntar o grupo e dançar. Hoje em dia, os mais jovens têm mais informação, pois haviam anunciado que [o breaking] poderia entrar na Olimpíada. A presença nos Jogos da Juventude [de 2018, em Buenos Aires, na Argentina] despertou a possibilidade”, conta o b-boy, como é conhecido o praticante masculino da modalidade – já a feminina é chamada de b-girl.
Pelezinho não precisou da Olimpíada para se apaixonar pelo breaking ao conhecê-lo em uma roda de dança no centro de São José do Rio Preto (SP), onde nasceu. A relação dele com a música é umbilical. A família é de sambistas e capoeiristas. Aliás, foi por ter achado que aquela roda era de capoeira que o então jovem Alex se aproximou do grupo de dançarinos.
“Quando competi pela primeira vez na Alemanha [em 2005, no Red Bull BC One, maior torneio de breaking do mundo], fiz algumas movimentações com passos de capoeira. Quando entendi mais esse mundo, vendo norte-americanos, russos, percebi que tinha que mostrar um estilo diferente. Sou brasileiro, então vou levar o cotidiano para minha dança. Cada um tem seu estilo, isso se adquire com o tempo”, descreve o paulista, semifinalista no evento alemão, que o projetou na modalidade e lhe permitiu viajar pelo planeta demonstrando ginga e arte. “O breaking mudou minha vida. Talvez, se não o tivesse conhecido, estaria em outra situação”, completa.
Olho em Paris
A exibição de atletas embalados por música não é novidade na história olímpica. As ginásticas artística e rítmica, o nado artístico e a patinação no gelo (nos Jogos de Inverno) estão aí para provar. Ainda não há definição sobre as disputas do breaking em Paris, mas Pelezinho avalia que, por se tratar da primeira edição, as competições serão em formato um contra um nas categorias masculina e feminina. Nos Jogos da Juventude, além das batalhas individuais, houve o embate por equipes mistas.
“Os jurados observam dinâmica, estilo do movimento, impactos e giros. No um contra um, são duas a três entradas [por batalha]. Como não se escolhe a música, [o dançarino] pode ter de dançar uma que ele não conhece. Até a final de uma competição, podem ser umas 12 entradas, então, os movimentos são praticados, não improvisados. Se possível, sem repetições. E sem errar [risos]”, explica.
O paulista acredita que japoneses, holandeses, norte-americanos, chineses e russos são fortes candidatos a medalha em 2024, mas também vê o Brasil na briga e destaca nomes como os cearenses Mateus Melo (Bart) e Francisco Cleiton Verçosa (Till) e o paraense Leony Pinheiro. Ele, porém, alerta para que os responsáveis pelo breaking no país não demorem a estruturar torneios e seletivas. Hoje, a representação brasileira filiada à Federação Mundial de Dança Esportiva (WDSF, sigla em inglês), entidade internacional da modalidade, é o Conselho Nacional de Dança Desportiva e de Salão (CNDDS).
“Tem várias conversas acontecendo, mas até agora não vi nada concretizado. Não tem um centro de treinamento. Quem são as pessoas que ajudarão a garotada que possivelmente competirá [em Paris]? Estou dando exemplo de coisas que têm sido feitas na Europa e na Ásia. Eles já têm um time, praticamente. Aqui no Brasil, ainda não temos”, comenta Pelezinho.
Bastidores
Acompanhar in loco a estreia olímpica do breaking em Paris, daqui a três anos, é um sonho, mas que ele não vê sendo realizado como atleta. Atualmente, fora das competições e mais envolvido com a criação e a organização de eventos, Pelezinho se imagina integrando a comissão técnica de uma eventual seleção brasileira.
“Eu gostaria de fazer parte desse time de alguma maneira, caso seja montado. De estar ali com os dançarinos, contribuir com a bagagem que tenho, do que passei e venho passando. O pessoal da nova geração, como o Bart, o Till e o Leony, já me conhece e tem o maior respeito por mim. Eu não tive o que eles podem ter hoje, alguém que chegue, bata um papo, possa fazer um treino específico”, argumenta o paulista, que chama atenção dos b-boys e b-girls à nova realidade do breaking competitivo.
E conclui:
“Os dançarinos têm que se dedicar 100%. Não só na dança, mas se cuidando fisicamente, na alimentação, no acompanhamento psicológico. Tudo que um atleta tem, temos que ter também. Acredito que isso vá acontecer, pois é importante”.
Edição: Cláudia Soares Rodrigues