Neste mês de fevereiro, o Hospital São Lucas de Ribeirão Preto realizou, com sucesso, o reimplante de pé por meio de microcirurgia reconstrutiva. O caso, decorrente de um acidente de trabalho, ocorreu em uma fábrica em Itápolis (SP), quando o paciente do sexo masculino, de 28 anos, sofreu lesão no ante pé direito ao operar uma máquina de corte de vidros.
Encaminhado ao São Lucas, o paciente foi recebido pelos médicos Alex Eduardo Calderon Irusta e Renan Ernesto Reis Borges, ortopedistas e traumatologistas especializados em microcirurgia reconstrutiva. Todo o processo, desde o acidente até o final do procedimento cirúrgico, teve duração de nove horas e só foi possível devido à boa conservação do membro amputado.
Após nove dias de internação e algumas cirurgias complementares, o paciente teve alta hospitalar e dará seguimento clínico com equipe multidisciplinar. Alex Eduardo Calderon Irusta alerta para a importância das medidas que devem ser tomadas imediatamente após acidente como esse para garantir o êxito do procedimento.
“A conservação adequada do membro amputado é fundamental para o sucesso do reimplante. Imediatamente após o acidente deve-se colocar um pano limpo e fazer compressão para diminuir o sangramento na área lesada e reservar o coto amputado em lugar limpo até a chegada da equipe especializada”, explica.
Ele recomenda ainda, se possível, envolver o segmento amputado em gaze estéril umedecida com solução fisiológica para evitar desidratação e colocá-lo em um saco plástico limpo, impedindo contato direto com gelo para barrar queimadura fria e congelamento das estruturas.
Também ressalta a importância de manter o saco dentro de um recipiente garantindo temperatura entre 4°C e 8 graus Celsius e evitar soluções tóxicas ou traumas adicionais no segmento, como esfregar ou colocar produto no coto, diz o médico.
Renan Ernesto Reis Borges reitera que, apesar de ser um procedimento complexo, é viável quando realizado sob condições ideais. A seleção adequada dos pacientes, a técnica cirúrgica refinada e o acompanhamento rigoroso no pós-operatório são determinantes para o sucesso.
“O Hospital São Lucas é um serviço especializado e de referência na área do trauma, possui grandes recursos tecnológicos como microscópio de última geração, fios disponíveis e equipe com profissionais especializados para realizar este tipo de cirurgia”, comenta.
Para o paciente, a oportunidade de ter um recomeço com o pé direito é motivadora e requer disciplina nos cuidados. “Meu processo de recuperação tem sido bom. Vou ter todo o cuidado possível agora e quando eu voltar para minha vida normal e a trabalhar”, disse.
“Quando sofri o acidente, me preocupei em proteger o pé para tentar a possibilidade do reimplante, e fico muito feliz que tenha dado certo. Isso só foi possível porque o hospital é muito bom. Desde o momento em que eu cheguei, fui muito bem atendido por toda a equipe”, comenta.
A cirurgia contou com reconstrução óssea por meio de osteossíntese, com placas e parafusos no primeiro e quinto dedos, e fixação dos dedos centrais com fios de fixação óssea, chamados fios de kirschner. Houve ainda retirada de enxertos de veia para realizar pontes vasculares, responsáveis por revascularizar os dedos levando sangue arterial.
O processo, denominado anastomose, é realizado com auxílio de microscópio e fios muito finos. Foram realizadas, anastomoses de três artérias e três veias, ambas com necessidade de enxerto venoso retirado da lateral do pé. O pós-operatório foi acompanhado pela unidade de terapia intensiva com controle rigoroso de sangramentos, exames sequenciais, controle da pressão, da temperatura e medicamentos para dor.
Recuperado, o paciente também realizou cirurgias de correções funcionais e estéticas. “O sucesso do reimplante não depende apenas da cirurgia, mas também de um pós-operatório rigoroso. A supervisão constante da área reimplantada é essencial para detectar sinais de falha vascular. Em caso de comprometimento da microcirculação, intervenções como uma nova cirurgia podem ser necessárias”, conclui Renan Ernesto Reis Borges.
A técnica também pode ser aplicada para membros como dedos, mão, braço, perna e joelho, dependendo da avaliação médica. Um procedimento de reimplante bem-sucedido vai muito além da equipe e dos equipamentos utilizados, apesar de essenciais. Nem todos os casos de amputação são recomendados ao reimplante.
Entre os primeiros fatores avaliados está o mecanismo do trauma. Situações em que ocorrem esmagamento do órgão gerando dano tecidual e esmagamento das veias já não são recomendadas para o reimplante, comprometendo sua viabilidade. Intervalo de isquemia superior de 6 a 8 horas sem adequada preservação do membro amputado também reduz a taxa de sucesso.
“Pacientes jovens com bom estado geral de saúde, sem comorbidades significativas e alta motivação para reabilitação e adesão ao tratamento são o perfil ideal para um procedimento bem-sucedido. A disponibilidade de equipe especializada e infraestrutura adequada para suporte pós-operatório também são fundamentais”, explica Alex Eduardo Calderon Irusta.