Moradores de Ribeirão Preto e Franca relataram espanto nas redes sociais quando nuvens de poeira transformaram o dia em noite. A tempestade de areia passou ainda por outras 25 cidades da macrorregião, como Barretos, e também por locais como Presidente Prudente, Jales, Araçatuba e Triângulo Mineiro.
Em Ribeirão Preto, segundo os meteorologistas, as rajadas de vento atingiram entre 92 quilômetros por hora e 95 km/h durante a tarde, quando a tempestade de terra tomou conta do céu e assustou moradores. Segundo o Climatempo, a temperatura despencou 13 graus Celsius em 40 minutos, de 34ºC às 15 horas para 21ºC ás 15h42.
Choveu 50 milímetros na cidade. Segundo a Defesa Civil, ao menos 67 árvores caíram, quatro delas sobre carros. Uma caiu sobre barracos na comunidade do Adelino Simioni e ao menos cinco famílias ficaram desabrigadas. Faltou energia em 14 bairros da cidade, segundo a CPFL Paulista, que atende 322.817 unidades consumidoras em Ribeirão Preto.
No início da tarde desta segunda-feira (27), equipes da concessionária ainda trabalhavam para restabelecer a energia no Jardim Independência, na Zona Norte. Na mesma região, alguns bairros ficaram oito horas sem luz no domingo. Nesta segunda-feira, o abastecimento já havia voltado na maioria dos locais afetados. Casas foram destelhadas.
Ficaram sem energia os bairros Jardim Anhanguera, Jardim Alexandre Balbo, Jardim Heitor Rigon, Jardim Independência, Jardim Antonio Palocci, Recreio das Acácias, Jardim Salgado Filho, Centro, Jardim São Luis, Antônio Marincek, Quintino Facci II, Royal Park, Jardim Botânico e Campos Elíseos.
Em uma comunidade do bairro Heitor Rigon, parte do telhado de uma igreja foi levada e, no Jardim Macaúba, uma casa em construção desabou. Em nota, a prefeitura de Ribeirão Preto informou que a Secretaria de Assistência Social e a Guarda Civil Metropolitana (GCM) prestaram atendimentos, mas ninguém ficou ferido. Semáforos pararam de funcionar temporariamente.
Ontem, vários setores da administração trabalhavam na limpeza da cidade. No Aeroporto Estadual Doutor Leite Lopes, a força do vento moveu uma aeronave da Azul Linhas Aéreas que estava no pátio. O avião não sofreu danos. Também faltou água em vários locais porque os poços do Departamento de Água e Esgotos de Ribeirão Preto (Daerp) são movidos a eletricidade. Vinte e nove foram desligados e 28 voltaram a funcionar ainda no domingo. A autarquia informou no início da tarde que todos já estavam operando.
Em Franca a situação foi ainda mais assustadora. Uma nuvem de terra com dez quilômetros de extensão e um de altura invadiu a cidade. Nesta segunda-feira o dia foi de limpeza. O problema é que a cidade está com racionamento de água imposto pela Sabesp justamente por causa da estiagem.
A Sabesp informou que a queda acentuada na vazão dos mananciais de abastecimento do município impõe ampliação no horário do rodízio, que passou a operar com um intervalo de 36 horas (isto é, um dia e meio com água e um dia e meio sem). Os satélites do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) mostraram que Franca registrava ventos intensos de até 60 quilômetros no domingo.
Seca e queimadas ajudaram a formar tempestade de areia
A região de Ribeirão Preto, Franca e Triângulo Mineiro estava sob alerta de tempestades com até 30 milímetros de chuva por hora e risco de granizo, estragos em plantações, queda de galhos de árvores e alagamentos. A área atingida pela “tempestade de areia” está entre as piores avaliadas no monitoramento de secas da Agência Nacional de Águas (ANA) de agosto.
O norte e o nordeste paulista e o Triângulo Mineiro estão com as classificações de seca “excepcional” e “extrema”, as mais altas em uma escala de cinco níveis (fraca, moderada, grave, extrema e excepcional). Divulgado em 21 de setembro, o monitoramento aponta que estes graus de estiagem têm tanto impactos de curto quanto de longo prazo (“normalmente atuando por mais de doze meses”, segundo a agência).
Entre os afetados, estão a agricultura, a pastagem, a hidrologia e a ecologia, o que inclui “grandes perdas de cultura” e “escassez de água generalizada”. O levantamento também destaca que a região sudeste enfrenta um avanço das secas de nível mais grave “devido à persistência de chuvas abaixo da média”. A situação atual é a pior apontada desde que o monitoramento passou a incluir São Paulo, em novembro do ano passado.
A “tempestade de areia” atingiu justamente as áreas citadas pela agência. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) classifica o evento como um tipo de “litometeoro”, isto é, “fenômeno causado pela suspensão no ar de partículas, geralmente sólidas, mas de natureza não aquosa”, dos quais os mais comuns são névoa seca, tempestade de poeira e turbilhão de areia.
A meteorologista Estael Sias, da MetSul, diz que o fenômeno é comum em países da Ásia, onde é conhecido como “haboob”. Ele é causado por temporais de chuva com ventos fortes que, ao entrarem em contato com o solo seco, encontram resquícios de queimada, poeira e vegetação, os quais acabam criando um “rolo compressor” de sujeira que pode chegar a até dez quilômetros de altura.
“Primeiro, vem a nuvem de temporal e tempestade, que gerou a corrente de vento mais horizontal e bagunçou todos esses detritos. Como faz meses que não chove naquela região, tem muita poeira, o solo e a vegetação estão secos, e as queimadas também contribuíram”, explica Estael.