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HIV mata menos em RP, mas cresce desde 2020

De acordo com o boletim oficial da Secretaria Municipal de Saúde, com dados entre 2013 e 2023, a média geral é de 178 casos a cada 100 mil habitantes. Esse nessa década esse número já variou entre 158 e 206. (Reprodução)

Adriana Dorazi – especial para o Tribuna Ribeirão

O motorista de caminhão aposentado A.C.J. mora em Cravinhos, não gosta de revelar a idade e nem o diagnóstico que carrega há mais de 30 anos. Diz que aprendeu a ter uma vida mais reservada desde que viu o positivo no exame para HIV. Conhecida na época como AIDS, essa doença o assustou, como fez como toda uma geração.

Sem tirar fotos ou dar detalhes da família, o ex-motorista conta com exclusividade para a reportagem do Tribuna Ribeirão que adquiriu a doença na estrada, no relacionamento íntimo com prostitutas e travestis.

Campanhas e eventos de conscientização são realizados como medida de prevenção. (Reprodução)

“Nem se falava de camisinha. A vida solitária da estrada, muito mais difícil que hoje em dia, nos levava a fazer coisas das quais nos arrependemos depois”, lamenta.

Ele pensou que iria morrer, se preparou para isso. Mas graças ao atendimento público de saúde e ao coquetel de tratamento disponível, afirma conviver bem com a condição. Diz se sentir grato por não ter contaminado a esposa M.E.J. Juntos eles se dedicam, através da religião que praticam, a ajudar outras pessoas doentes em presídios ou outros locais de acolhimento.

“Nunca escondi de ninguém, mas também não fico falando. Não foi fácil encarar isso, ainda não é uma coisa que se possa comentar sem sofrer preconceito. Os mais novos precisam ter cuidado. A AIDS não mata mais, mas faz a gente sofrer”, relata.

Número preocupantes
Em Ribeirão Preto, cidade referência regional para o tratamento de pacientes como A.C., os índices de infecção por HIV merecem atenção: apresentam crescimento desde 2020. De acordo com o boletim oficial da Secretaria Municipal de Saúde, com dados entre 2013 e 2023, a média geral é de 178 casos a cada 100 mil habitantes. Esse nessa década esse número já variou entre 158 e 206.

Em todo ano de 2023, em pessoas acima de 13 anos, foram 143 homens e 35 mulheres infectados (nessa mesma forma de contagem média), com crescimento nos dois grupos. Na faixa etária de 20 a 29 anos está o maior número de infectados apesar da média em pessoas acima de 60 anos ter dobrado entre 2021 e 2023. No grupo feminino há altos índices de diagnóstico entre 30 e 59 anos.

Na distribuição por bairros, o Centro apresenta a maior incidência seguida pela região Oeste. Pretos e pardos são maioria entre contaminados. Em termos de escolaridade, os casos são mais volumosos entre quem tem o ensino fundamental e médio. Homossexuais lideram os positivos.

A taxa de mortalidade caiu, em 2023, para metade da registrada no ano anterior. Mas cresceu durante a pandemia. Em crianças abaixo de 13 anos, em 10 anos, foram registrados nove casos de infecção pelo HIV, sendo um por transmissão sexual e as demais da mãe para o bebê. Entre as gestantes a melhora dos números é a boa notícia. A queda foi de 50% em relação 2013, apesar de ter variado bastante na década.

Prevenção em pauta
A Secretaria de Saúde realizou eventos de conscientização entre a última semana de novembro e a primeira de dezembro nas unidades públicas de saúde. Essas ações fazem parte do “Dezembro Vermelho”, iniciativa nacional para informar a população sobre o HIV, a AIDS e outras IST (Infecções Sexualmente Transmissíveis). A campanha ressalta a importância do cuidado, assistência e proteção dos direitos das pessoas vivendo com o HIV/Aids.

A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP) também promove atividades ao longo do mês com destaque para a Campanha “Fique Sabendo”. São oferecidos testes rápidos de HIV e sífilis por punção digital e outras formas de prevenção (camisinhas, gel, PEP e PrEP), além de ações voltadas à valorização da vida.

Em nota a SES informou que, de janeiro a junho deste ano, 84 casos de infecção pelo HIV foram notificados nos municípios abrangidos pelo Departamento Regional de Saúde (DRS) de Ribeirão Preto. Em 2023, durante todo o ano, foram registrados 235 casos de infecção pelo vírus e, em 2022, 244 casos.

“A SES esclarece que o tratamento oferecido aos pacientes no estado de São Paulo segue as diretrizes estabelecidas pelo Ministério da Saúde (MS), conforme o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) para o manejo da infecção pelo HIV. Todos os medicamentos disponíveis para tratamento no Brasil são distribuídos gratuitamente em mais de 200 unidades dispensadoras de medicamentos, localizadas em diversas regiões do estado”, detalha a nota.

Atualmente, são oferecidos às Pessoas Vivendo com HIV/AIDS (PVHA) e com outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST): acolhimento com escuta ativa, apoio psicológico individual ou em grupo para lidar com o impacto emocional do diagnóstico, adesão ao tratamento e questões como ansiedade, depressão ou estigma.

Além disso, também são fornecidas orientações sobre direitos sociais, como informações sobre benefícios, tais como auxílio-doença, aposentadoria por invalidez e Benefício de Prestação Continuada (BPC), bem como encaminhamento para redes de apoio, incluindo ONGs, casas de acolhimento e outros serviços de proteção social.

“A redução de 28% na taxa de incidência da AIDS em São Paulo nos últimos dez anos é reflexo direto do investimento contínuo em ações de prevenção e acesso ao diagnóstico precoce. As campanhas reforçam a importância de informar a população, desmistificar conceitos errados sobre o vírus e garantir o direito à saúde das pessoas”, conclui Rosa Alencar, diretora Adjunta do Centro de Referência e Treinamento DST/AIDS (CRT) da SES.

Todos os medicamentos disponíveis para tratamento no Brasil são distribuídos gratuitamente em mais de 200 unidades dispensadoras de medicamentos.(Reprodução)

Brasil tem alta de casos, mas menor mortalidade desde 2013

Em 2023, o Brasil registrou aumento de 4,5% no número de casos de HIV em comparação a 2022. No entanto, no mesmo período, a taxa de mortalidade caiu para 3,9 óbitos, a menor dos últimos dez anos, conforme dados divulgados nesta semana pelo Ministério da Saúde.

No total, foram registrados 38 mil casos da doença no ano passado. A Região Norte teve a maior taxa de detecção (26%), seguida pela Região Sul, 25%. A maioria dos casos foi registrada entre homens (cerca de 27 mil). Quanto à faixa etária, os casos ocorrem entre pessoas de 25 a 29 anos de idade.

As mortes por aids chegaram a 10.338 em 2023, o menor registro desde 2013.

Segundo o Ministério da Saúde, a elevação de casos está relacionada à ampliação da oferta da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP).

“Uma vez que para iniciar a profilaxia, é necessário fazer o teste. Com isso, mais pessoas com infecção pelo HIV foram detectadas e incluídas imediatamente em terapia antirretroviral. O desafio agora é revincular as pessoas que interromperam o tratamento ou foram abandonadas, muitas delas no último governo, bem como disponibilizar o tratamento para todas as pessoas recém diagnosticadas para que tenham melhor qualidade de vida”, diz nota da pasta.

Neste ano, o Brasil alcançou 109 mil usuários com tratamento PrEP, ante 50,7 mil em 2022. A profilaxia é distribuída, de forma gratuita, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), sendo uma das principais estratégias para prevenir a infecção pelo HIV.

O aumento dos diagnósticos fez o Brasil alcançar mais uma etapa para eliminar a aids como problema de saúde pública até 2030, compromisso assumido com as Nações Unidas. Em 2023, 96% das pessoas infectadas por HIV e que não sabiam da condição foram diagnosticadas.

A meta da ONU prevê que 95% das pessoas vivendo com HIV diagnosticadas; 95% delas em tratamento antirretroviral; e, do grupo em tratamento,  95% com HIV intransmissível.  Atualmente, os percentuais brasileiros para esses requisitos são 96%, 82% e 95%, respectivamente, conforme o ministério.

 

 

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