Tribuna Ribeirão
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Histórias de quem gosta de ensinar… e de aprender!

Desta vez, quero homenagear dois grandes amigos dos tempos de BH. Há mestres que marcam a nossa vida para sempre, seja pelo seu conheci­mento, seja pela “técnica” da aprendizagem regada com muita humanidade e carinho. Confesso que, para mim, boa parte deles veio das alas da Igreja Católica, desde os mais conservadores de Diamantina até os mais progressistas de Juiz de Fora. Mas dois se destacam, tenho de reconhecer. E não eram da Igreja. Dedico este texto a Francisco Carlos Cosentino, ou apenas o Bicho, nome de guerraque soubemais tarde. E também ao querido Marcelo Dulci.

Eu havia concluído Filosofia na UFJF em 77, e me mudei, de mala e cuia, para BH. Tinha um contato para lecionar na capital e já vinha de Juiz de Fora com alguma experiência. O contato era um ex-colega do seminário, que havia se transformado em promissor dono de cursinhos. Caí em uma esparrela, mas essa história eu conto depois. Resolvi continuar estudando, fiz outro vestibular e fui fazer História na Federal. Lá me encontrei com o Lou­rinho, no curso de Ciências Sociais. Ele era meu ex-aluno do pré-vestibular Diretriz, em Santos Dumont. Foi um feliz reencontro.

O Lourinho era o Marcelo Dulci. Desta vez, contrariando a direita, foi o aluno que fez a cabeça do professor! Como é gratificante o mestre aprender com os alunos! Pois o Lourinho simplesmente me fez a cabeça em BH e me levou para a militância do glorioso MEP, o Movimento de Emancipação do Proletariado. Era uma organização de esquerda, de linha marxista-leninista, que disputava o movimento estudantil. Se desde Juiz de Fora, eu já era um militante de causas nobres, agora, por obra do Lourinho, eu entrava em uma “o.”Ela e ele muito me ensinaram!

Você deve estar se perguntando: masonde o Lourinho vai se encontrar com o Bicho? Eu explico rapidinho. Eu lecionava no Supletivo Visão, na Rua dos Caetés. Éramos dois professores de História. O colega sempre me im­portunava com suas piadinhas, algumas sem graça, outras nem tanto. De todo assunto politicamente mais sério, ele pulava fora. Eu não admitia um professor de História tão despolitizado. Mas, às vezes, me despertava algo meio miste­rioso, como se estivesse escondendo alguma coisa. Chamavam-no de Chico!

Como militante do MEP, eu tinha de cumprir algumas regras, às vezes, rigorosas e mal explicadas. A repressão ainda estava lá e todo cuidado era pouco. Foi aí que o Lourinho me convocou para um encontro clandestino. Um encontro de formação. Já havia lido alguns textos, mas, agora, eu iria me encontrar com o cara que a o enviara do Rio para formar o núcleo inicial de Minas. Eu era um privilegiado! Tive de “marcar ponto”, me deram um roteiro e uma senha. Enfim, cheguei em um apartamento no bairro da Serra. Apertei a campainha, dois longos e um breve.

Abriram abruptamente a porta. Me empurraram pra cima de uma roda de uns dez militantes sentados no chão. Caí no colo do Chico! Fiquei por um instante sem entender direito o que estava acontecendo. Logo o cara chato de piadinhas sem graça era o militante educador da o. Depois, caiu a ficha! Como eu não havia percebido!? Saímos dali, eu e o Bicho, como gran­des amigos e confidentes. Confidentes de algum tempo ainda de clandesti­nidade. Vieram mudanças que não entendi direito. O MEP se uniu a uma ala dissidente do PCdoB e se transformou no glorioso PRC, com Genoíno e outros companheiros valorosos.

Francisco Carlos Cosentino, o Bicho, foi o meu mestre na política. Vendemos juntos o jornal “Companheiro”! Quando precisei sair do Curso Pitágoras para assumir na rede pública, deixei as aulas de História para ele. Guardo com carinho um livro autografado por ele e pela Antonieta, sua esposa: Autobiografia de Frederico Sanchez, de Jorge Seprún. Faleceu em 2016, como professor associado da Universidade Federal de Viçosa e como o maior especialista do Brasil em Administração Colonial.

Marcelo Dulci era irmão do ex-ministro Luiz Dulci, que foi meu colega de 3º ano do Ensino Médio no Colégio dos Jesuítas em Juiz de Fora. Eu e o Luiz militamos juntos na construção do PT em Minas no início dos anos 80. Marcelo faleceu em 2019, como professor de Política e Sociologia da UFJF e da UFMG.

A eles o meu respeito, a minha admiração! Guardo-os do lado esquerdo do peito!

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