Sempre me lembrarei do sorriso adentrando o Instituto do Livro, direto para a minha mesa, em passos tranqüilos e iluminando o árduo dia com sua presença e sua pergunta e marca pessoal:
– Edwaldo, me conte alguma coisa boa.
Assumia o seu cantinho com sua presença amiga, quando lá pelo meio-dia, uma da tarde, rumávamos para nossos almoços na Cantina 605, Pinguim, Boi Bom, Cupim do Paulim e, recentemente, no Pitéus do querido Rubinho.
No final da tarde, com aquele sorriso arrebatador de quem possui o charme e o destino dos justos, com todo o seu poder de convencer e encantar, totalmente natural, sem pieguices ou como aquele chato de plantão que teima em insistir, persistir, pressionar ou ser inconveniente.
Nada disso, eu ficava esperando ansioso o momento exato em quem ele erguia os olhos do computador, virava-se com todas aquelas características que jorravam dele. Bonança, sossego, paz, equilíbrio, calmaria, remanso e serenidade, com um sorriso aberto, dizia com a voz em calmaria presente:
– Vamos ligar para o Ewaldinho Arantes e pendurarmos uns chopinhos no…
Não conto o santo, só os milagres.
Uma alegria eterna. Um cara que nunca tinha lágrimas e caretas. Um homem menino, livre e cristalino, coisa de quem não possui pecados e nunca fez mal a ninguém. Todo mundo para ele era bom. Fomos ao Rio, abraçarmos Nando Antunes, eu, bafudo doente, a pedido dele em seu absoluto despojamento, entreguei a eterna camisa do Magrão ao Nando.
Era um arquipélago de amigos, dos imortais: Deonísio da Silva, Anna de Hollanda, Joaquim Botelho, Levi Bucalem Ferrari, Nando Antunes, Sérgio Roxo, Reginaldo Arthus, e tantos outros monstros sagrados e, também de nós, pobres mortais.
Era costume, antes dos chopinhos, migrarmos para a Cava do Bosque, Secretaria Municipal dos Esportes, iniciando umas conversas, falando de tudo e de nada com os amigos queridos, Guerra, Dado Batista, Dezordo e quem mais viesse.
Minha homenagem e gratidão passam pela pena do poeta:
Irene no Céu
Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.
Imagino Irene entrando no céu:
– Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão:
– Entra, Irene. Vocênão precisa pedir licença.
(Manuel Bandeira, Bandeira, M. “Estrela da Manhã”, 1936).
“E a saudade ohhhhhhhhhhhhh”.