O Hemocentro de Ribeirão Preto começou há poucos dias uma pesquisa em busca de um tratamento para pacientes com o novo coronavírus (covid-19). Basicamente, a pesquisa é utilizar anticorpos, por meio de plasma de pacientes que foram curados da doença, em pacientes doentes.
De acordo com o médico Gil Cunha de Santis, diretor médico do laboratório de terapia celular do Hemocentro de Ribeirão Preto do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo-USP, a pesquisa visa a avaliar a efetividade do uso de plasma de convalescente em pacientes com a forma grave (insuficiência respiratória) da covid-19.
“Plasma de convalescente da doença contém anticorpos que neutralizam o vírus, de modo que sua transfusão poderia ser benéfica para pacientes que ainda não tiveram tempo ou não conseguiram montar sua própria resposta imune contra o vírus e que, portanto, poderiam se beneficiar da imunidade elaborada por outras pessoas, que seria transferida então para o paciente. Essa é a ideia básica”, explica.
O diretor ressalta que esse tipo de tratamento é usado esporadicamente há mais de um século, para doenças como a difteria, a gripe espanhola, a primeira Sars (Síndrome Respiratória Aguda), em 2002/2003, a Mers-Cov (vírus causador da Síndrome Respiratória do Oriente Médio e membro da família dos coronavírus), em 2012 e 2015, e a doença do ebola.
“Com resultados que sugerem a possibilidade de benefício para os receptores”, salienta Santis.
Em Ribeirão, a pesquisa teve início há pouco mais de uma semana. “Mas os resultados ainda não permitem que se extraia nenhuma conclusão, pois o número de pacientes incluídos na pesquisa é ainda pequeno. Pretendemos incluir 120 pacientes no total, 40 dos quais no grupo que deverá receber o plasma, e 80 no grupo controle, que não receberá o plasma, mas que será submetido também ao tratamento convencional, ou seja, os dois grupos serão submetidos ao mesmo tratamento de base, mas o grupo experimental receberá a transfusão de plasma como medida adicional. É o que se chama de estudo clínico controlado, com alocação aleatória dos participantes (randomizado), a única maneira de provar se determinado tratamento de fato funciona”, ressalta Santis.
Depois que 15 pacientes receberem a transfusão de plasma, será feita análise dos dados e, se verificar benefício com o tratamento com plasma, a pesquisa será interrompida e o plasma convalescente será oferecido aos pacientes com a forma grave da covid-19.
Outras pesquisas parecidas já estão sendo realizadas por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em Campinas, da Faculdade de Medicina da USP, em São Paulo, e nos hospitais Albert Einstein e Sírio-Libanês.