O Hemocentro de Ribeirão Preto, fundação de apoio ao Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP), vai receber um investimento de quase R$ 50 milhões para o desenvolvimento de terapia com as células CAR-NK, voltada para o tratamento do câncer.
O incentivo foi conquistado com a aprovação na terça-feira, 23 de julho, do projeto “Células CAR-NK anti-CD19 alogênicas para linfoma não Hodgkin de células B recidivado/refratário: do desenvolvimento ao estudo clínico fase I”, no edital Mais Inovação Brasil apoiado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).
O programa é fruto de aliança estratégica entre o Hemocentro RP, a USP, o HCFMRP-USP e o Instituto Butantan para pesquisar, desenvolver e entregar aos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) tratamentos mais modernos e efetivos contra o câncer. A proposta visa desenvolver um produto inovador e inédito no país a partir de células CAR.19-NK, com aplicação clínica.
A abordagem alogênica, ou seja, quando o procedimento utiliza células de doadores saudáveis e já prontas para uso (“off the shelf“), permite um acesso mais rápido e seguro ao tratamento, além de eliminar a necessidade de um produto autólogo (personalizado e específico), com custos elevados e complexa produção.
Para isso, será incorporada às novas células um vetor CAR (receptores quiméricos de antígeno) de quarta geração, desenvolvido pelos pesquisadores do Hemocentro RP, que potencializa a eficácia da terapia. A iniciativa complementa os estudos com a terapia CAR-T, já em desenvolvimento pela Instituição, na busca por alternativas acessíveis para mais pacientes.
Segundo a doutora Virgínia Picanço e Castro, coordenadora do Laboratório de Biotecnologia do Hemocentro RP e uma das pesquisadoras responsáveis, o uso das células CAR-NK deve impactar positivamente os pacientes que não podem esperar a manufatura das células CAR-T, pois já estão muito doentes ou não tem células T saudáveis.
“Ao concluir o projeto, almejamos criar um produto clinicamente aplicável, contribuindo para o avanço da pesquisa em terapias celulares e oferecendo novas perspectivas no tratamento de leucemias e linfomas. Em resumo, desenvolver a terapia com células CAR-NK representa uma abordagem promissora para o tratamento do câncer, com vantagens potenciais em termos de segurança, eficácia e acessibilidade”, destaca.
Células CAR-NK – O projeto vai gerar em larga escala células CAR-NK seguindo as boas práticas de fabricação (BPF), avaliar seu potencial citotóxico e conduzir estudos pré-clínicos em condições BPF. “Essas etapas são cruciais para analisar a segurança, eficiência, dosagem ideal e cumprimento dos requisitos regulatórios”, diz a pesquisadora.
“Posteriormente, será iniciado o primeiro estudo clínico com células CAR-NK no Brasil, marcando um avanço significativo no desenvolvimento de uma terapia totalmente nacional, com o intuito de tornar o alcance mais amplo para pacientes com neoplasias hematológicas”, afirma a doutora Virgínia.