Domingo passado, dia 28 de julho, fui cantar na Feijoada dos Obreiros do Bem a convite do amigo José Luiz Del Lama, que por vários anos organiza o evento em sua chácara. Entre os colaboradores tive a grata surpresa de encontrar meu querido amigo Helton Pimenta.
Quando fui convidado pelo amigo Cipó para apresentar um programa de música na TV Thathi, estava nos bastidores me preparando para gravar, quando cruzo com o Helton, que tinha um programa esportivo na casa. Eu contei a ele sobre minha preocupação com a postura, como dominar as três câmeras e tudo mais. Então, Helton olhou-me sorrindo e disse: “Buenão, o segredo é não inventar nada, não crie personagem, seja o que você é, converse com a câmera como se estivesse conversando com quem está em casa, seja o mais natural possível”.
E assim encarei meu primeiro programa, o “Canta Ribeirão”, que ficou no ar por oito anos, dando oportunidade aos artistas da cidade e da região. Não bastasse essa minha eterna gratidão ao Helton, ele também tem minha admiração, pois, junto com J. Beschizza e Corauci Neto, compôs uma música que, desde a mocidade até hoje, abro e fecho minhas serenatas: chama-se “Serenata da menina”. É uma canção linda.
No meio da minha cantoria prestei-lhe carinhosa homenagem, cantando a música que compôs. Depois fui até onde ele estava sentado e nossa resenha foi longe, invadimos a tarde. Helton, bom papo e ótimo contador de causos, disse que nunca bebeu e nunca fumou, era o tipo do boêmio comportado. Quando solteiro não dormia, vivia com amigos fazendo serenatas e quando decidiu se casar, a galera apostou que não duraria três meses – a união com Neide já dura 53 anos. Marido show de bola, pai adorado pelos dois filhos e uma filha que lhe presentearam com cinco netos, ele confessa ser um vovô super coruja.
Contei a ele sobre minhas serenatas e ele lembrou-se de duas que fez, estas que conto agora. A Rádio Cultura de Ribeirão Preto tinha em seu plantel, naquela época, uma verdadeira seleção de radialistas. Entre tantos estavam Helton Pimenta, J. Beschizza, Wilson Botelho e Corauci Neto. Um belo dia, uma senhora ligou lá e perguntou a Helton Pimenta se eles faziam serenata e qual era o cachê. Queria presentear seu marido pelo aniversário.
Ele disse que não cobrariam nada e lá foram pra janela de uma casa na rua Bernardino de Campos, quase na esquina com a avenida Independência. A cantoria estava rolando quando o casal abriu a porta e os convidaram para entrar. O aniversariante não cabia em si de tão feliz. Uma mesa farta os aguardava. Helton me disse que eles amanheceram por lá bebendo, comendo e cantando, essa cantoria ele diz que jamais vai esquecer.
Numa outra madrugada, foram fazer serenata pra uma moça numa casa que ficava na rua Duque de Caxias esquina com a Cerqueira César, quase vizinha do Cadeião, hoje Delegacia de Polícia Civil. Levaram um amigo que não cantava nem tocava nenhum instrumento, e ele ficou ali perto conversando com o guarda noturno enquanto os trovadores cantavam.
É costume de quem ganha uma serenata dar um toque que está ouvindo, como um piscar de luz, mas sem abrir a janela. Eles desfilaram todo repertório e nada da moça dar sinal, até que o guarda noturno se aproximou e disse: “Olha, gente, o povo desta casa foi viajar…” E Helton emendou: “Pô, bicho! Aquilo foi um balde de água gelada na gente”. Mas o guarda adorou a seresta, as músicas foram maravilhosas e coisa e tal. E os cantadores: Pô, cara, você bem que podia ter nos dado um toque antes, meu!” E depois saíram madrugada adentro pelas ruas onde antigamente podia-se andar com tranquilidade.
Pra você, meu amigo Helton Pimenta e família, com todo meu carinho.
Sexta conto mais.