A escritora e integrante da Academia Brasileira de Letras (ABL), a ribeirão-pretana Heloisa Teixeira, morreu nesta sexta-feira, 28 de março, no Rio de Janeiro, aos 85 anos, por complicações de pneumonia e insuficiência respiratória aguda. A escritora estava internada na Casa de Saúde São Vicente, na Gávea, Zona Sul.
O velório será neste sábado (29), na sede da ABL, no centro do Rio de Janeiro, informou a academia. Nascida em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, Heloisa se mudou com a família para o Rio de Janeiro aos 4 anos. Filha de um médico, professor, e uma dona de casa, teve três filhos, os cineastas Lula, André e Pedro.
Identidade – A escritora tomou posse na ABL em 28 de julho de 2023 com nova identidade. Onze dias antes da cerimônia, ela tinha deixado de usar o sobrenome do primeiro marido, o advogado e galerista Luiz Buarque de Hollanda. Aos 83 anos, passou a adotar o sobrenome materno Teixeira.
Feminismo – Reconhecida como uma das principais vozes do feminismo brasileiro, ressaltou, durante o discurso de posse, a disparidade de gênero dentro da própria ABL. “Ainda somos pouquíssimas nessa casa: apenas dez mulheres foram eleitas acadêmicas contra um total de 339 homens, o que reflete a desigualdade entre a eleição de homens e mulheres na ABL”.
A academia foi inaugurada em 20 de julho de 1897. Formou-se em letras clássicas pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio), com mestrado e doutorado em literatura brasileira na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pós-doutorado em sociologia da cultura na Universidade de Columbia, em Nova York.
Foi diretora do Programa Avançado de Cultura Contemporânea da faculdade de Letras Universidade Federal do Rio de Janeiro. Lá, coordenou o Laboratório de Tecnologias Sociais, do projeto Universidade das Quebradas, e o Fórum M, espaço aberto para o debate sobre a questão da mulher na universidade.
Heloisa Teixeira foi eleita com 34 dos 37 votos e fez questão de afirmar o seu alinhamento com o projeto de renovação da ABL. “Esse atual projeto de abertura me fascina. E isso não é nem o começo. Tem que ter mulher, negro, índio. Porque são excelentes também. Isso é o Brasil, a democracia. Eu estou muito feliz de chegar nesse momento na academia”, indicou na posse.
Entre os livros que publicou, destaca-se a histórica coletânea “26 Poetas Hoje”, de 1976. A obra revelou uma geração de poetas “marginais” que entrou para a história da literatura brasileira, como Ana Cristina Cesar, Cacaso e Chacal. A antologia é considerada um divisor de águas entre uma poesia canônica e uma poesia contemporânea e performática. Segundo a autora, o livro causou furor na época.
Nos últimos anos, vinha trabalhando com o foco na cultura produzida nas periferias das grandes cidades, no feminismo, bem como no impacto das novas tecnologias digitais e da internet na produção e no consumo culturais. Heloisa foi eleita imortal da ABL – a 10ª mulher a receber o título – em abril de 2023, ocupando a cadeira 30, antes pertencente à escritora Nélida Piñon.