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HC usará células-tronco para reconstruir crânios de siamesas

A quarta e penúltima etapa para a separação definitiva das irmãs siamesas Alana e Mariah, de pouco mais de dois anos de idade, no último sábado, 15 de abril, no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, durou cerca de quatro horas e as meninas passam bem. As gêmeas craniópagas – nasceram unidas pela cabeça – são de Piquerobi, na região de Presidente Prudente, no interior paulista.

Allana e Mariah estão sendo cuidadas pela equipe chefiada pelo professor doutor Hélio Rubens Machado. Os exames e procedimentos de sábado vão influenciar na quarta cirurgia, agendada para o final de julho, quando elas serão separadas definitivamente e os médicos farão a reconstituição craniana.

No início da manhã, às oito horas, as gêmeas fizeram exames de tomografia computadorizada e ressonância magnética. As imagens obtidas auxiliaram a realização do procedimento que ocorreu em seguida, e serão utilizadas para o planejamento da próxima neurocirurgia, que acontecerá no dia 29 de julho.

Em seguida, às dez horas, foram encaminhadas ao Centro Cirúrgico. A equipe da Cirurgia Plástica, chefiada pelo professor doutor Jayme Farina Júnior, promoveu a inserção de expansores de pele. A bolsa é feita em silicone e todo o conjunto – junto com catéter e válvula ficam instalados sob a pele. Periodicamente será introduzido soro fisiológico na bolsa.

O objetivo é garantir o progressivo aumento de volume e ampliação da pele que recobre a cabeça das meninas. “O planejamento dos cortes de pele nas irmãs Allana e Mariah foi feito de forma que haja tecido suficiente para a cobertura das duas cabeças quando ocorrer a separação total. A expansão que começa a ser feita nos próximos dias vai permitir essa cobertura total”, Jayme Farina Júnior.

A equipe do Hemocentro de Ribeirão Preto também participou do procedimento. Eles fizeram a punção da crista ilíaca (osso do quadril) para a coleta das células-tronco. O material será cultivado e preparado para sua futura utilização.  O procedimento terminou por volta das 14 horas. As crianças foram encaminhadas para a recuperação e passam bem.

Inovação Células-tronco são células colhidas na medula óssea que podem se diferenciar para a produção de diferentes tecidos e formar ossos, cartilagens ou gordura. A partir do procedimento realizado sábado, as células-tronco serão multiplicadas e serão utilizadas para a formação óssea na reconstrução craniana das meninas.

Esta é a primeira vez no mundo que essa tecnologia será utilizada na reconstrução dos ossos de gêmeas craniópagas e é a primeira vez no Brasil em que as células-tronco colaborarão na reconstrução craniana. Em uma simplificação, os fragmentos ósseos são azulejos e o material que vai conter as células-tronco é o rejunte.

Na última cirurgia, quando a equipe da cirurgia plástica for reconstruir o crânio, as células-tronco estarão presentes em dois materiais: o primeiro, uma espécie da massa que preencherá os espaços entre os fragmentos de ossos, e o segundo, um gel que cobrirá e fará uma camada protetora.

A equipe e a família das gêmeas estão otimistas. O doutor Hélio Machado acredita que essa é a primeira vez de um uso de células-tronco muito promissor. “Acredito que essa tecnologia abre uma enorme possibilidade no Brasil. No HC, tratamos muitos pacientes com trauma encefálico”, diz.

“Aliás, o trauma de crânio é endêmico no país, especialmente por acidentes no trânsito e violência. Futuramente, esses casos poderão ser tratados também com as células-tronco”. Já a mãe das meninas, Talita Francisco Cestari, está com boa expectativa, já que as outras cirurgias correram bem e as meninas se recuperam com celeridade.

“A tecnologia evolui muito rápido e a Allana e a Mariah estão se beneficiando disso. Nas outras cirurgias elas já contaram com tantas evoluções, como o neuronavegador e a realidade virtual que ajudou os cirurgiões, e agora o uso das células-tronco para ajudar a reconstruir mais rápido o crânio delas”.

As gêmeas responderam estão sendo cuidadas no HC Criança acompanhadas pelos pais, Vinícius dos Santos e Talita Francisco Cestari. A incidência de gêmeos unidos pela cabeça é extremamente rara, representando um caso em cada 2,5 milhões de nascimentos.

No Brasil, a primeira separação de siamesas craniópagas, as gêmeas Maria Ysadora e Maria Ysabelle, ocorreu em outubro de 2018, após cinco procedimentos cirúrgicos, pela equipe do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto e HC Criança.

Elas voltaram para Patacas, distrito de Aquiraz, no Ceará, onde nasceram, no final de março de 2019, acompanhadas pelos pais, Diego Freitas Farias e Débora Freitas. A técnica utilizada foi desenvolvida e aprimorada pelo médico norte-americano James Goodrich (1946-2020) e prevê a separação por etapas.

O processo de separação das duas, em 2018, no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, era inédito no Brasil até então. Receberam alta médica do HC Criança em 7 de dezembro de 2018. Todo o processo de separação das meninas foi custeado pelo Sistema Unificado de Saúde (SUS).

Nos Estados Unidos, uma cirurgia de separação como a delas custa cerca de R$ 9 milhões. O caso foi acompanhado pelo médico norte-americano James Goodrich, referência internacional em intervenções com gêmeos siameses e que faleceu por covid-19 em 2020.

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