A quarta cirurgia para separação das irmãs siamesas Maria Ysabelle e Maria Ysadora, de 2 anos, que nasceram unidas pela cabeça, foi realizada nesta sexta-feira, 24 de agosto, no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto – vinculado à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). A operação durou aproximadamente cinco horas e transcorreu conforme o planejamento. As crianças já estão respondendo bem e seguem para a Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica.
Este procedimento estava previsto para ocorrer no próximo sábado, 1º de setembro, conforme disse o chefe da Divisão de Cirurgia Plástica do HC, Jayme Farina Junior, em coletiva de imprensa no dia 6, mas foi antecipado. O motivo não foi informado. Nesta etapa, foram colocados expansores (uma espécie de bolsa) no couro cabeludo das meninas. Após a implantação, eles serão inflados com soro através de uma válvula, e, com isso, o tecido vai ganhando volume para ser usado na cobertura dos enxertos ósseos da calota craniana, na cirurgia plástica após a separação.
A cirurgia contou com uma equipe de 20 profissionais liderados pelo professor Jayme Farina Junior. Na coletiva do dia 6, os médicos do HC informaram que as irmãs siamesas devem ser definitivamente separadas em outubro, após a quinta cirurgia, um mês antes da previsão inicial, mas pode ser que ocorra em novembro. A terceira etapa, realizada no dia 4, durou oito horas. O neurocirurgião Hélio Rubens Machado afirmou que 80% dos cérebros, veias e artérias das irmãs siamesas já foram separados. “Isto só foi possível porque avançamos nas etapas anteriores, além do planejado dentro do limite de segurança”, explica o também neurocirgurgião Ricardo Santos Oliveira.
Ele afirmou que as meninas têm cérebros independentes, mas com áreas de vascularização interligadas. São esses vasos sanguíneos que foram separados em cada das três primeiras cirurgias realizadas até agora. Ele não descarta a possibilidade de que uma delas fique com sequelas. Isso porque, os cérebros das siamesas têm uma anatomia diferente das pessoas comuns. Além disso, de Maria Ysadora tem vascularização menor, em relação à irmã. Mas o cirurgião informa que todos os riscos são calculados e já foram comentados com os pais. Além disso, o hospital tem equipes preparadas para os cuidados intensivos e de reabilitação.
Trinta profissionais de diferentes áreas estão envolvidos neste processo, entre eles o médico norte -americano James Goodrich, referência mundial no assunto. Todo o processo de separação das irmãs só está sendo possível por causa de uma parceria entre a Faculdade de Medicina da USP e o Montefiore Medical Center de Nova York, Estados Unidos. A primeira cirurgia foi realizada em 17 de fevereiro e a segunda, em 19 de maio.
Trajetória de luta
Naturais do distrito cearense de Patacas, distante 35 quilômetros de Fortaleza, as irmãs siamesas Maria Ysabelle e Maria Ysadora, estão sendo acompanhadas por uma equipe multidisciplinar de aproximadamente 30 profissionais do Hospital das Clínicas. Entretanto, a luta dos pais das meninas para separá-las começou no Ceará, com o neurocirurgião pediátrico Eduardo Juca. Ao tomar conhecimento do caso das irmãs, alguns meses após o nascimento delas, ele passou a fazer o acompanhamento médico das meninas.
Em função da complexidade do caso, decidiu encaminhar as duas para o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, onde ele estudou. Jucá foi aluno da Faculdade de Medicina da USP Ribeirão Preto e se especializou neurocirugia pediátrica. Todo processo de separação das meninas é custeado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Nos Estados Unidos, um processo de separação como o delas custa cerca de R$ 9 milhões.