Desde 2016, tem sido observado pelo Departamento de Vigilância em Saúde o aumento no número de casos de hanseníase diagnosticados em Ribeirão Preto, sendo que, em 2021 (últimos dados disponíveis), foram confirmados mais de 200 casos novos, classificando a cidade como muito alta endemia, ou seja, aqui a hanseníase é um importante problema de saúde pública.
“O aumento no número de casos é reflexo do compromisso da Secretaria Municipal da Saúde com o enfrentamento à doença, através do trabalho de qualidade e de diversas ações que vêm sendo realizadas nos últimos anos”, explica a médica dermatologista Helena Barbosa Lugão, responsável pelo programa de Hanseníase da Secretaria Municipal da Saúde.
“Em vários lugares a hanseníase é subdiagnosticada, já que não há um olhar atento da rede de saúde para a doença. Aqui em Ribeirão Preto, na medida em que as ações foram iniciadas, passamos a verificar esse aumento no número de casos, a encaminhá-los e tratá-los”, emenda.
Em 2021, foram registrados 219 casos na cidade, contra apenas 92 do período anterior, alta de 138% e 127 ocorrências a mais. Em 2019 foram 95 e em 2018, 73. No ano de 2017 foram 66, em 2016, mais 53. Outros 62 diagnósticos de hanseníase foram registrados em 2015 e mais 65 em 2014. Em 2013 foram 78 e em 2012, mais 68, totalizando 871 em dez anos.
Ações
São ministrados treinamentos teóricos e práticos sobre a doença para todos os profissionais da rede municipal pelo menos duas vezes ao ano. Além disso, desde 2018, o município tem realizado busca ativa de casos com a aplicação do QSH – Questionário de Suspeição de Hanseníase, desenvolvido por pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP).
O QSH traz uma série de perguntas que, caso positivas, podem indicar a possibilidade de a pessoa ter a doença. Outra ação importante que tem sido realizada desde o ano passado é a aplicação gratuita do teste rápido para detecção de anticorpos contra a bactéria causadora da hanseníase em todas as unidades de saúde de Ribeirão Preto (atenção primária à saúde).
O teste é aplicado conforme as orientações do Ministério da Saúde, sendo que uma pessoa que tenha contato domiciliar com um paciente com hanseníase e teste positivo, possui maior risco de desenvolver a doença e deverá ser avaliada com cuidado pelos profissionais da rede municipal de saúde.
Pandemia
Em diversos municípios brasileiros, o cuidado da hanseníase foi prejudicado durante a pandemia, diferente do que ocorreu em Ribeirão Preto. As ações de enfrentamento da hanseníase foram mantidas de forma a atender todas as pessoas e, por isso, foi constatada a manutenção e até aumento na detecção de casos em 2020 e 2021.
Todas essas ações fazem com que Ribeirão Preto seja uma inspiração na vigilância e cuidado de pessoas acometidas pela hanseníase, sendo que o Ministério da Saúde adotou algumas das estratégias acima para os demais territórios brasileiros.
E o que é a hanseníase?
A hanseníase é uma doença infecciosa que afeta principalmente a pele e os nervos e é causada pela bactéria Mycobacterium leprae. A transmissão da doença acontece pelo ar, sobretudo em situações de contato próximo e prolongado, como entre pessoas que moram na mesma casa.
Apesar disso, a maioria da população consegue se defender naturalmente da bactéria, não desenvolvendo a doença caso seja contaminada. No entanto, estima-se que cerca de 10% das pessoas que tiveram contato com a bactéria causadora da hanseníase podem desenvolver a doença, por isso é importante estar atento aos sinais.
Alterações
Como a bactéria da hanseníase afeta principalmente os nervos e a pele, as principais alterações ocorrerão nesses locais. O acometimento dos nervos periféricos pode se manifestar por dormências, perda de sensibilidade, dor nos nervos, câimbras e perda de força muscular, principalmente nos nervos das mãos, pés e rosto.
Já na pele, a hanseníase pode causar manchas esbranquiçadas ou avermelhadas que não costumam coçar ou doer. É característica a redução da sensibilidade ao toque, calor ou dor nas manchas de hanseníase. O tratamento da hanseníase é feito com antibióticos que são fornecidos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), disponíveis nas Unidades Básicas de Saúde e nas Unidades de Referência (CRE Central e CSE Cuiabá) de Ribeirão Preto.
O diagnóstico da hanseníase é essencialmente clínico, realizado durante uma consulta médica com avaliação da pele e dos nervos periféricos. Embora não sejam necessários para o diagnóstico, alguns exames complementares podem ser solicitados, como baciloscopia e biópsia de pele. Se você acha que pode estar com hanseníase, procure a Unidade Básica de Saúde (postinho de saúde) mais próxima da sua casa para avaliação.