Tribuna Ribeirão
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Hanseníase: Desmistificando Estigmas e Promovendo Inclusão 

André Luiz da Silva * 
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O dia 30 de janeiro é o Dia Nacional de Combate e Prevenção da Hanseníase, data escolhida para reforçar a importância da prevenção e diagnóstico precoce da doença que pode evitar sequelas. Autoridades de saúde e entidades da sociedade civil como o Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas Pela Hanseníase – Morhan intensificam suas campanhas de informação, destacando que o diagnóstico é feito a partir da avaliação clínica conforme os sinais e os sintomas e o tratamento é todo disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde – SUS. 
 
A hanseníase já foi uma das doenças mais estigmatizadas que se tem conhecimento. Anteriormente denominada como lepra, representava uma condenação à exclusão e, em certos casos, uma sentença de morte. Existiam inclusive aspectos religiosos sobre o tema ao ponto do Livro de Levítico instituir a Lei da Lepra e dedicar o capítulo 14 abordando regras sobre o relacionamento com os doentes, a certificação de eventual cura e a purificação para retorno ao convívio social. Outra passagem marcante foi a cura de Naamã, comandante do exército dos Arameus mas ferido de lepra. Obedecendo às orientações do profeta Eliseu, foi lavar-se nas águas do rio Jordão e saiu curado. Curiosamente, Lucas Evangelista, que era médico registrou a cura realizada por Jesus em dez leprosos. 
 
Além da mudança de nomenclatura da doença milenar, o entendimento da sociedade evoluiu para a compreensão de que não se trata de qualquer problema de ordem espiritual ou condenação divina. Causada pela bactéria Mycobacterium leprae, ela pode afetar qualquer pessoa. A Hanseníase é caracterizada por alteração, diminuição ou perda da sensibilidade térmica, dolorosa, tátil e força muscular, ela pode causar entupimento, sangramento, ferida e ressecamento do nariz. Também ressecamento nos olhos, mal estar geral e emagrecimento. As regiões corporais com maior predisposição para o surgimento das manchas: mãos, pés, face, costas, nádegas e pernas. 
 
O Brasil é o segundo país com maior registro de casos novos de Hanseníase, atrás apenas da Índia. De acordo com o Painel de Monitoramento de Indicadores da Hanseníase, divulgado pelo Ministério da Saúde, foram registrados quase 20 mil novos casos da doença no país entre janeiro e novembro de 2023. A Região Nordeste lidera este ranking, com 7.779 registros da doença. 
 
A pessoa infectada e que não faz o tratamento pode transmitir a doença por meio do espirro, tosse ou fala. Além disso, o contato muito próximo e prolongado com uma pessoa contaminada contribui para a infecção. Enquanto não iniciam o tratamento, as pessoas que carregam muitos bacilos – multibacilares (MB) – constituem o maior grupo contagiante, mantendo-se como forte fonte de infecção. Mas é importante ressalvar que, conforme as autoridades sanitárias, a hanseníase não é transmitida pelo abraço, compartilhamento de pratos, talheres, roupas de cama e outros objetos. 
 
Além do investimento no tratamento, os profissionais de saúde trabalham em reduzir o estigma, ainda existente no Brasil, levando os pacientes a sofrerem com a discriminação e o preconceito. Ampliar a capacitação dos trabalhadores e sensibilizar pacientes, familiares e a sociedade em geral é uma forma de reduzir os indicadores tão preocupantes. 
 
Portanto, agora que conhecemos mais sobre a Hanseníase e do Dia Nacional de Combate e Prevenção, é essencial que todos nós nos comprometamos a combater o estigma, promover a inclusão e buscar a prevenção e o tratamento adequado da doença. Somente com o engajamento de toda a sociedade poderemos alcançar um futuro livre da hanseníase e garantir a saúde e o bem-estar de todos. 
 
* Servidor municipal, advogado, escritor e radialista 

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