Preso na Operação Spoofing, deflagrada na última terça-feira, 23 de julho, Walter Delgatti Neto, o “Vermelho”, confessou à Polícia Federal que hackeou o ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública), o procurador Deltan Dallagnol (coordenador da Operação Lava Jato no Paraná) e centenas de procuradores, juízes e delegados federais, além de jornalistas. “Vermelho” acumula processos por estelionato, falsificação de documentos e furto e já foi condenado a dois anos e dois meses em regime aberto e semiaberto.
Alvo de mandado de busca e apreensão na Operação Spoofing, o apartamento onde morava Walter Delgatti Neto, no Edifício Premium, na avenida Leão XII, na Ribeirânia, bairro nobre na Zona Leste de Ribeirão Preto, estava alugado no nome de Danilo Cristiano Marques, que também foi preso no âmbito da investigação da Polícia Federal. A dona do apartamento desconhecia que era Neto que morava no prédio. O condomínio no valor de R$ 360 mensais está atrasado.
De acordo com a proprietária, quando alugou o imóvel, em dezembro do ano passado, Marques não apresentou fiador e deixou um cheque caução. O apartamento tem 47 metros quadrados. Walter Delgatti, de 30 anos, chegou a registrar um boletim de ocorrência por calúnia, em 2017, em que alegava ser chamado de hacker por colegas de faculdade, em Araraquara. Tem passagens pela cadeia por crimes como venda de medicamentos controlados com uso de receita falsificada e por se passar por policial do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
Em 13 páginas, o juiz da 10ª Vara Federal de Brasília, Vallisney de Souza Oliveira, fundamentou a ordem de prisão temporária de Gustavo Henrique Elias Santos, de sua mulher, Suellen Priscila de Oliveira, Walter Delgatti Neto e Danilo Cristiano Marques. “Há fortes indícios de que os investigados integram organização criminosa para a prática de crimes e se uniram para violar o sigilo telefônico de diversas autoridades públicas brasileiras via invasão do aplicativo Telegram”, afirmou o juiz.
“As prisões temporárias dos investigados são essenciais para colheita de prova que por outro meio não se obteria, porque é feita a partir da segregação e cessação de atividades e comunicação dos possíveis integrantes da organização criminosa, podendo-se com isso partir-se, sendo o caso, para provas contra outros membros da organização e colheita de depoimentos de testemunhos sem a influência ou interferência prejudicial dos indiciados.”
Segundo o magistrado, “há também a necessidade da realização de buscas e apreensões nos endereços residenciais dos investigados, sendo, portanto, necessária a sua privação de liberdade, a fim de viabilizar a coleta de provas, sem que as oculte ou destrua ou que desapareçam por completo”. “Os fatos relatados pela autoridade policial demonstram que os investigados são prováveis integrantes de organização criminosa e responsáveis pela prática de delitos graves”, anotou o magistrado.
A Polícia Federal apreendeu R$ 100 mil na residência de Gustavo Henrique Elias Santos, um dos quatro presos da Operação Spoofing. De Araraquara, ele é DJ e contou à PF ter visto as mensagens no aparelho telefônico de um amigo, Walter Delgatti Neto, também preso, relatou o seu advogado, Ariovaldo Moreira. Santos nega envolvimento nos ataques hacker. As análises de buscas e apreensões da Polícia Federal revelam que autoridades dos três Poderes e jornalistas estão em uma lista de vítimas dos ataques. As investigações se iniciaram após a invasão do celular do ministro da Justiça, Sergio Moro.
O DJ de Araraquara, Gustavo Elias Santos, disse que tem provas de que teria alertado seu amigo “Vermelho” para “parar de mexer com isso”, em referência à telefone de autoridades. Segundo Ariovaldo Moreira, o cliente teria uma conversa trocada com Walter Delgatti no Telegram em que alertava o amigo: “Cuidado que você pode ter problema com isso”. Segundo o advogado, se “abrirem o Telegram vão ver que meu cliente falou (para o Walter): ‘para com isso que isso vai te dar problema’”.
Ao decretar a prisão temporária de quatro investigados, o juiz Vallisney de Souza Oliveira apontou para a incompatibilidade entre as movimentações financeiras e a renda mensal do casal Gustavo Henrique Elias Santos e Suellen Priscila de Oliveira, que em dois períodos de dois meses – abril a junho de 2018 e março a maio de 2019 – movimentou R$ 627 mil com renda mensal de R$ 5.058. Já a movimentação bancária de Walter Delgatti Neto e de Danilo Cristiano Marques foi considerada insigficante.
“Diante da incompatibilidade entre as movimentações financeiras e a renda mensal de Gustavo e Suelen, faz-se necessário realizar o rastreamento dos recursos recebidos ou movimentados pelos investigados e de averiguar eventuais patrocinadores das invasões ilegais dos dispositivos informáticos (smartphones)”, registrou o magistrado.
O advogado Luiz Gustavo Delgado, que representa Walter Delgatti Neto, o “Vermelho”, levou comida, remédios de uso controlado e um cobertor para seu cliente na tarde desta quarta-feira, na Superintendência da Polícia Federal em Brasília. Ele disse que ainda não teve acesso ao inteiro teor do inquérito. “Ele (Walter) prestou um depoimento. Eu não tive acesso ainda. Vou ver as medidas cabíveis no caso do meu cliente”, afirmou. Ainda segundo ele, “Vermelho” prestou depoimento acompanhado por defensor público na terça-feira. “Conversei com ele. Ele tem problemas psiquiátricos. Está atordoado.”
O perito criminal federal Luiz Spricigo Júnior, diretor do Instituto Nacional de Criminalística, afirmou nesta quarta-feira, 24, que o celular de um dos presos na Operação Spoofing estava vinculado “com o nome Paulo Guedes”. A Polícia Federal investiga uma suposta invasão no aparelho do ministro da Economia, cujo celular teria sido hackeado na noite de segunda-feira (22). A PF também vai investigar a suposta invasão de hackers no celular da deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP). A parlamentar disse que teve seu telefone clonado na madrugada de domingo (21).
Polícia investiga suposto patrocínio
A Polícia Federal investiga supostos patrocinadores do grupo preso sob suspeita de hackear os celulares do ministro da Justiça Sérgio Moro, de delegados da PF e de juízes. Ao decretar a prisão temporária dos investigados, o juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10º Vara Federal de Brasília, apontou para a incompatibilidade entre as movimentações financeiras e a renda mensal de casal Gustavo Henrique Elias Santos e Suellen Priscila de Oliveira (leia nesta página). “Diante da incompatibilidade entre as movimentações financeiras e a renda mensal de Gustavo e Suelen, faz-se necessário realizar o rastreamento dos recursos recebidos ou movimentados pelos investigados e de averiguar eventuais patrocinadores das invasões ilegais dos dispositivos informáticos (smartphones)”, registrou.
Falsificação – Spoofing, segundo a PF, é um tipo de falsificação tecnológica que tenta enganar uma rede ou pessoa fazendo-a acreditar que a fonte de uma informação é confiável. “As investigações seguem para que sejam apuradas todas as circunstâncias dos crimes praticados”, informou a PF. A operação mira “organização criminosa que praticava crimes cibernéticos”.
O celular de Moro foi desativado em 4 de junho. O aparelho foi invadido por volta das 18 horas. Ele percebeu após receber três telefonemas do seu próprio número. O ex-juiz acionou então investigadores da PF. O último acesso de Moro ao aparelho foi registrado no WhatsApp às 18h23 daquele dia. O suposto hacker teria tentado se passar pelo ministro no Telegram.
Resultados preliminares – Representantes da Polícia Federal afirmaram publicamente que os resultados preliminares da Operação Spoofing reforçam os indícios de que os quatro suspeitos presos foram responsáveis pelo ataques virtuais. “Resultados preliminares da investigação dão conta de que a conclusão da perícia estava adequada. A conclusão deve ser encaminhada ainda esta semana, amanhã ou depois (aos investigadores). Lá estão relatados a forma de operação entre outros detalhes”, disse o coordenador geral de Inteligência da PF, o delegado federal João Vianey Xavier Filho, em um pronunciamento à imprensa, sem permissão para perguntas.