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Há um claro recado vindo das urnas

O ser humano é um bicho gregário, um ser social. Mas, também, é um animal peçonhento, ou melhor, um predador nato. Resolvemos muitas das nossas diferenças e conflitos na brutalidade. Podemos acreditar, então, que somos paridos da besta ou filhos do bom Deus? Vejo calamidades, descaso, fome, morte, ódio, etc. Porém, ainda me ani­mo com a humanidade. Seremos melhores no futuro. Pode demorar mais 300 mil anos, mas, um dia, chegaremos lá. E o pódio virá para os mansos e pacíficos, pode anotar aí. Está dito que será assim há mais ou menos 2 mil anos.

Pois bem, a extrema direita foi uma praga na face da Terra. Antissemita, racista e misógina, por dogma de governo, penetrou fundo nos valores individuais. Então, com vistas a purificar o mundo, decidiu guerrear e conquistar, até que foi varrida do mapa. Claro, muitas nações ainda foram (e são) dirigidas pela extrema direita, depois da últi­ma guerra mundial, mas, sem aquele apelo expansionista e supremacista de outrora. Os governantes da ultradireita mais recentes nada somaram além de seu caráter pitoresco, sua megalomania e apego ferrenho ao poder.

De outra banda, os políticos de esquerda, mais afeitos à igualdade material e pro­gressistas, grassaram nos governos mundiais que sucederam aquela direita mofada, que caiu em desuso – mesmo que o socialismo tenha levado fome e miséria a todos os can­tos do mundo onde foi implantado, com vistosos exemplos no mundo atual (ainda que reduzidos), cuja categoria hors concours é ocupada pela Venezuela e Coreia do Norte.

Acontece que, justamente por defenderem menos conservadorismo, esses políticos nos levaram a um ponto de maiores liberdades individuais. Trouxeram também mais direitos metaindividuais, como o direito a um meio ambiente protegido e saudável. Porém, seu mal (paradoxal) é continuar crendo em dogmas socialistas, mormente no campo econômico. Entendem que o Estado é um enorme gerador de riqueza. E aí, basta um punhado de anos para que o barco afunde, com todos dentro! Nesse sentido, ideias iluminadas também acabam matando muita gente… Não existe segredo: gaste mais do que arrecada, com persistência, e um dia você atingirá a bancarrota.

No nosso país a ultradireita é algo muito recente – e que ainda se afigura um movimento disforme e fraco. Já a esquerda, essa é bastante antiga em terras brasileiras e grassou no poder depois de lutar por quase duas décadas, após a redemocratização. Porém, além dos progressos que os eleitores esperavam ao finalmente escolhê-la nas urnas (muitos vieram), a esquerda se perdeu nos ideais econômicos socialistas. Pior: permitiu e, depois, participou de tantos conchavos seculares que por aqui existem, que no final, ficamos sem saber quem eram humanos e quem eram porcos. Esse estado de coisas foi retratado com maestria pelo escritor britânico George Orwell, nos seus livros A Revolução dos Bichos e 1984. Orwell, que era socialista, tendo lutado na 2ª Guerra, percebeu algo formidável: tanto um governo de extrema direita quanto um de extrema esquerda oprimem. E o povo acaba não sentido diferença alguma entre os regimes. São duas coisas que, de tão opostas, se tornampraticamente iguais!

Foi assim que os brasileiros, cansados de apanhar entre o mar e o rochedo, deram seus votos. A esquerda, mais robusta e anciã, levou uma surra nas urnas. Para dar um exemplo, o PT, que tinha 630 prefeituras em 2012, caiu para 256 e, agora, reduziu-se a 183 – quer dizer, um tombo de 30% (entre 2016 e 2020) em cima do tombo anterior, que foi de 60% (entre 2012 e 2016). Já a direita mais ferrenha confirmou seu voo de galinha. Virou motivo de chacota, inclusive, o fato de todos os candidatos apoiados por Bolsonaro terem tomado tinta nas urnas.

Os grandes vencedores foram os partidos do chamado “centrão”: DEM, PP, PSD, Republicanos, Avante, Podemos, PSL, PL, Patriota, SD, PSC e Cidadania. Fora esses e os “nanicos”, todos os demais apanharam feio nas urnas, inclusive partidos de centro mais tradicionais, como MDB e PSDB. Ficou claro, então, que o povo disse um belo “não” aos partidos mais à esquerda e também rejeitaram os candidatos da ultradireita. Mas, é óbvio que o dito “centrão” não será o salvador da pátria – foram varridos os sacerdotes e empoderados os mercadores do templo.

Ficou evidente queo povo preferiu morrer de velho (ainda que faminto e cansado) do que ir à guerra ideológica. No tabuleiro posto diante de si, o eleitor preferiu a pílula azul, para seguir no conforto da Matrix. E isso porque uma causa, por mais nobre que possa parecer, precisa ter algum fundamento. Ninguém põe a cabeça a prêmio para defender ideias estapafúrdias.

Foi assim que furou-se a bolha das redes sociais, especialmente aquela do Twitter. De nada vale se dizer um capitão virtuoso e, ao mesmo tempo, não saber para que lado virar o leme. O povo se ressente de ser açoitado e morto por um líder cruel, mesmo que saiba navegar. Porém, mais danoso ainda é um comandante que insiste em levar o navio a pique, deliberadamente. Me parece que foi esse o claro recado das urnas municipais.

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