Tribuna Ribeirão
Artigos

Guerra Peixe e Nino Rota

Os estudiosos conseguem separar o conceito de música clássica do conceito de música popular. Na prática, é possível indicar mú­sicas populares inspiradas nos trabalhos clássicos e vice-versa. Por exemplo, a música popular interpretada por Frank Sinatra denomi­nada “Full moon and empty arms” tem suas raízes nas criações clássicas de Rachmaninoff. O contrário é verdadeiro.

Nino Rota foi um dos mais extraordinários músicos do século XX. Nas­ceu em Milão em 1911. Em 1923 já apresentou um trabalho em Milão e em Paris. Em 1926, com 15 anos, compôs a ópera “Il Principe Porcaro”.

São de sua autoria, entre outras óperas “Andante”, “Torquemada”, “I due timide”, “La Scala”, “Aladino y La Lâmpada Magica”, “Napoli Milio­nária”, “Amor di Poeta”.

Notabilizou-se também compondo trilhas sonoras na Itália, nos Estados Unidos e na França. Principalmente para os filmes de Fellini. São de sua autoria as trilhas sonoras: “I viteloni”, “La Strada”, “Cabiria”, “La dolce vita”, “Rocco e seus irmãos”, “Oito e meio”, “The Godfather”, “Amarcord”, “Plein du soleil”.

Muito embora suas músicas tenham ultrapassado todas as fronteiras, teve fortíssima inspiração na tradição popular italiana, principalmente quanto à riqueza de sons como quanto o colorido sonoro. Por tal razão foi contratado para compor as trilhas sonoras de filmes em vários países.

Buscando encurtar o brilho de suas criações, há quem afirme que se trata de compositor popular. Compositor popular cria ópe­ras? Penso que não. Compositores clássicos buscam inspirações em músicas populares? Estou convencido que sim. Não podem existir barreiras no âmbito da revelação artística. É muito importante regis­trar que o brilho de Nino Rota não foi irradiado apenas nas trilhas sonoras, mas também nas óperas.

Vários compositores de música clássica tiveram suas obras nota­bilizadas em filmes. Não apenas em filmes, mas também em novelas criadas e divulgadas pelas TVs.

Merecem ser referidas as extraordinárias criações do brasileiro Guerra Peixe. Tive oportunidade de conhecê-lo pessoalmente. Guerra Peixe, nascido em Petrópolis, passou um bom tempo pesquisando as músicas no nordeste do Brasil para criar uma obra com a marca regis­trada da dodecafonia. Mas não só nela.

Entre os amigos admitia que nunca havia ouvido uma de suas músicas apresentadas por uma orquestra brasileira. Estávamos por volta de1960. Ouvia uma obra sua quando comunicado por alguma embaixa­da de países estrangeiros. Naquela época suas músicas eram transmiti­das pelas rádios estrangeiras. Não pelos rádios brasileiros.

Guerra Peixe via-se na contingência de montar pequenos grupos de músicos para se apresentar em bailes de estudantes, especialmente nas festas de formatura, quando então era encontrado no Mercado das Flores, local onde eram contratados os músicos de então.

É bem verdade que nos dias de hoje, com a amplitude de divulgação musical, especialmente pela televisão, temos condições de ouvir músicas criadas tanto por Nino Rota como por Guerra Peixe.

É possível apreciar pela TV nos dias de hoje música composta pelo brasileiro Guerra Peixe apresentada pela Orquestra Sinfônica Brasileira, sob a regência do conhecido e brilhante maestro Roberto Minczuck.

E as músicas de Nino Rota? É possível ouvi-las revendo os filmes de Fellini. Fellini inspirou-se em Nino Rota? Ou foi Nino Rota que acom­panhou os passos do diretor Fellini? Ou haverá outra questão lógica perseguindo a criação artística? Como saber!

Postagens relacionadas

Vanguardas abstratas geométricas e racionalistas (II)

Redação 1

Agronegócio: as pequenas empresas rurais na piscicultura

Redação 1

Deus perdoa sempre, a natureza jamais! 

Redação 2

Utilizamos cookies para melhorar a sua experiência no site. Ao continuar navegando, você concorda com a nossa Política de Privacidade. Aceitar Política de Privacidade

Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com