Tribuna Ribeirão
Economia

Guerra acelera reajustes nas prateleiras

Os impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia, que respon­dem por 30% das exportações mundiais de trigo, começam a chegar às prateleiras dos super­mercados brasileiros. Os preços ao consumidor da farinha de tri­go, do macarrão, dos biscoitos e até do óleo de soja tiveram forte alta no início do mês, superando de longe reajustes de fevereiro.

Entre 1º e 12 de março, nos supermercados, a farinha de trigo ficou, em média, 4,46% mais cara, o preço do macar­rão com ovos subiu 4,24%, o de biscoitos, 2,62% e o do óleo de soja, 5,79%, em compara­ção com igual período de feve­reiro, aponta um levantamento feito pela startup Varejo 360.

Supermercados
Especializada em pesquisa de mercado, a empresa cole­tou os preços desses itens nos tíquetes de compra de 150 mil clientes de supermercados no Estado de São Paulo. O levan­tamento mostra que, entre 1º a 12 fevereiro, antes da guer­ra, que começou no dia 24, os preços desses itens tiveram au­mentos bem mais moderados ante igual período de janeiro.

Macarrão
A farinha de trigo, por exem­plo, tinha subido 0,24%, os bis­coitos, 1,64%, e o óleo de soja, 1,46%. E o macarrão até ficou 0,97% mais barato. “Muito pro­vavelmente os aumentos mais acentuados em março devem ser reflexo da disparada do trigo por causa da guerra”, afir­ma Fernando Faro, sócio da consultoria e responsável pelo levantamento.

Nos últimos 30 dias, até a última quinta-feira, o preço da tonelada de trigo subiu qua­se 20% no Rio Grande do Sul e beirou R$ 2 mil, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Ce­pea). Faro observa que a maior parte dos reajustes de preços feitos pelos varejistas se concen­trou no sábado, 12 de março.

E sábado geralmente é o dia da semana no qual os super­mercados costumam ser mais agressivos nas promoções. Isso pode indicar, segundo ele, que a pressão de custos das maté­rias-primas pesa mais neste momento do que a estratégia para alavancar as vendas.

Agravamento
Os aumentos são confirma­dos pelos supermercados. Pães, biscoitos e todos os derivados de trigo e soja – grão que é um substituto do trigo – estão sendo comprados pelos supermerca­dos com preços mais altos. os supermercadistas brigam por centavos nas negociações com fornecedores para reduzir repas­ses para o preço ao consumidor.

São Paulo
Os aumentos ficarão mais visíveis ao consumidor nesta se­mana. Em São Paulo, executivos do setor relataram à Associa­ção Paulista de Supermercados aumentos da farinha de trigo da ordem de 15% na primeira quinzena do mês, com indi­cações de novos reajustes. No caso do óleo de soja, a majora­ção do preço teria sido de 20%.

IPS/Apas
O Índice de Preços dos Supermercados (IPS), calcu­lado pela Fundação Institu­to de Pesquisas Econômicas (Fipe) a pedido da Associa­ção Paulista de Supermerca­dos (Apas), registrou 1,75% de inflação em fevereiro, acu­mulando alta de 12,57% nos últimos doze meses.

O índice mensal revela que o mês de fevereiro foi o último do ano sem os impactos da guer­ra na Ucrânia na economia. O efeito será conhecido a partir de março. Os preços em fevereiro são resultado de pressões espe­culativas sobre commodities, estoques, entre outras variáveis, que vinham ocorrendo desde o começo do ano.

É o caso do trigo, cuja cota­ção já apresentava volatilidade desde janeiro. Os preços inter­nacionais do grão e a deprecia­ção cambial do real respondem pela inflação de 2,30% na cesta de produtos panificados de feve­reiro. O acumulado nos últimos doze meses chegou a 12,50%.

O Brasil consome apro­ximadamente 12,5 milhões de toneladas anuais do grão. Como Rússia e Ucrânia repre­sentam 30% de todo o trigo negociado no mundo, a oferta do produto sofrerá um choque por causa da guerra, mesmo com as estimativas de que a produção local será 23% maior em relação à safra passada.

Carrinho vazio
A disparada da inflação es­vaziou o carrinho de compras de supermercado dos brasilei­ros no ano passado, e as novas pressões de preços das commo­dities, como trigo, soja, petróleo, provocadas pela guerra, devem piorar a situação.

Pesquisa da consultoria glo­bal Kantar mostra que, em 2021, com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – indexador oficial de preços no país – a 10,06%, o brasileiro le­vou para casa um volume 5,6% menor de produtos de uma cesta com 120 categorias, entre alimentos, bebidas, higiene e limpeza, na comparação com o ano anterior.

Em número de unidades, o recuo foi de 2,6%. Mesmo com­prando menos, o consumidor gastou 8,6% a mais do que em 2020. Em 2022, a alta de preços não deu trégua, pelo contrário (em 12 meses, até fevereiro, su­biu para 10,54%).

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