As grandes paixões têm o poder de provocar o descontrole, de tirar o sujeito de seu próprio comando. O filósofo Baruch Spinoza (1632-1677) chama de servidão essa impotência humana para regular e refrear os afetos. Nesse estado de “apaixonamento”, quem já não se viu tomando atitudes inusitadas ou mesmo nada saudáveis? Até que ponto é possível domar um afeto e tomar a melhor decisão para si mesmo?
São esses questionamentos que acompanham “E a nave vai”, primeira realização audiovisual do Teatro Inominável, que faz uma curta temporada, de 26 a 29 de maio de 2021, às 19 horas, no canal do Youtube do grupo (https://youtube.com/TeatroInominável). Com dramaturgia e direção de Diogo Liberano, o filme apresenta a paixão entre Mocinho e Gatão, que se conhecem e querem estar juntos, mas não pelos mesmos motivos.
No elenco estão Andrêas Gatto, Gunnar Borges e Márcio Machado. O projeto tem patrocínio do governo federal, governo do Estado do Rio de Janeiro e Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, através da Lei Aldir Blanc. A primeira encenação teatral de “E a nave vai” estreou em 2019, na Itália, e foi apresentada em diversas cidades italianas e em Buenos Aires, Argentina.
No Brasil, o projeto seria fazer uma temporada presencial em teatros cariocas este ano, mas devido a impossibilidade imposta pela pandemia, o Teatro Inominável optou por compor uma versão audiovisual centrada no problema que se estabelece entre Mocinho e Gatão diante de um encontro marcado por pulsões divergentes.
O ator Márcio Machado interpreta Gatão, um homem de quarenta e poucos anos com medo do passado, enquanto Gunnar Borges interpreta Mocinho, um homem com trinta e poucos anos com medo do futuro. Entre eles, porém, há um terceiro personagem interpretado por Andrêas Gato: a nave, um automóvel com espaço interior para apenas duas pessoas e que, muitas vezes, parece enxergar aquilo que os outros dois não percebem.
A trama de “E a nave vai” foi inspirada numa história vivida pelo dramaturgo e diretor Diogo Liberano, porém, remodelada poeticamente visando abrir aos espectadores indagações sobre como podemos – ou não – lidar com afetos tão fortes como, por exemplo, aqueles provocados por uma paixão.
Para a dramaturga do projeto, Thaís Barros, “foi importante ultrapassarmos o teor biográfico da história para focar no que acontecia entre os personagens. Como dramaturgista, busquei trazer contrapontos para aquilo que os atores e o diretor traziam para o processo criativo.”
O filme criado a partir dessa dramaturgia fará quatro exibições no Youtube do Teatro Inominável, de quarta-feira a sábado, de 26 a 29 de maio de 2021. No sábado, dia 29 de maio, após a exibição, haverá um bate-papo dos integrantes do Inominável com um psicanalista convidado.
Sobre o Teatro Inominável
Companhia teatral criada em 2008 na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e, atualmente, composta por Andrêas Gatto, Clarissa Menezes, Diogo Liberano, Gunnar Borges, Laura Nielsen, Márcio Machado, Natássia Vello e Thaís Barros.
Em seu histórico, além de três edições da Mostra Hífen (2012, 2014 e 2016), destacam-se espetáculos e performances como “Sinfonia Sonho” (2011) e “O Narrador” (2014), indicados aos prêmios Shell, Cesgranrio e Questão de Crítica no Rio de Janeiro.
Em 2019, comemorando dez anos, o Inominável estreou “Dentro” e “Yellow Bastar”, peças que ocuparam o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB – Rio de Janeiro). Na ocasião, em parceria com a Editora Cobogó, a companhia fez a publicação de dramaturgias de seu repertório escritas por Diogo Liberano: “Sinfonia Sonho” (2011) e “Yellow Bastards” (2019).