O grupo hacker preso na terça-feira, 23 de julho, em Ribeirão Preto, Araraquara e São Paulo, na Operação Spoofing, atacou celulares do presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL). A informação foi transmitida pela Polícia Federal ao Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP). Quatro pessoas presas sob suspeita de invasão de celular de autoridades estão custodiadas na Superintendência da PF em Brasília.
Na nota, o Ministério da Justiça diz que, segundo a PF, “aparelhos celulares utilizados pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, foram alvos de ataques pelo grupo de hackers preso na última terça feira (23)”. “Por questão de segurança nacional, o fato foi devidamente comunicado ao presidente da República”, acrescenta a nota – que não informa se foi extraído conteúdo de conversas de aparelhos do presidente Jair Bolsonaro.
O chefe e mentor da quadrilha seria Walter Delgatti Neto, o “Vermelho”, de 30 anos, preso no bairro da Ribeirânia, na Zona Leste de Ribeirão Preto, e que já confessou à Polícia Federal ter hackeado o ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública), o procurador Deltan Dallagnol (coordenador da Operação Lava Jato no Paraná) e centenas de procuradores, juízes e delegados federais, além de jornalistas.
“Vermelho” acumula processos por estelionato, falsificação de documentos e furto e já foi condenado a dois anos e dois meses em regime aberto e semiaberto. O apartamento onde ele mora, o Edifício Premium, fica na avenida Leão XII e estava alugado no nome de Danilo Cristiano Marques, de 36 anos, que também foi preso no âmbito da investigação da Polícia Federal. Eles e o casal Gustavo Henrique Elias Santos, de 28 anos, e Suellen Priscila de Oliveira, de 25, cumprem prisão temporária de cinco dias determinada pelo juiz da 10ª Vara Federal de Brasília, Vallisney de Souza Oliveira
O prazo expira na segunda-feira (29), mas a prorrogação ou a prisão preventiva do grupo deve ser solicitada. O presidente Jair Bolsonaro afirmou, na tarde de ontem, depois de ser comunicado, não temer o vazamento de informações do seu celular. Em visita a um colégio militar em Manaus (AM) disse que sempre tomou cuidado com as informações estratégicas.
“Sempre tomei cuidado nas informações estratégicas. Essas não são passadas por telefone. Então, não estou nem um pouco preocupado se por ventura, algo vazar do meu telefone, não vão encontrar nada que comprometa. Por exemplo, o que estamos tratando com outro Estado como a Venezuela, as questões estratégicas para o Brasil, isso é conversado pessoalmente em nosso gabinete. Perderam tempo comigo”, disse Bolsonaro.
O presidente também afirmou que os supostos hackers presos e acusados de terem invadido centenas de celulares de autoridades brasileiras, inclusive o dele próprio, deverão ter uma “boa punição” caso fique comprovado que cometeram os crimes. O presidente também se referiu ao fato de que um dos hackers, Walter Delgatti Neto, contou ter entregue o conteúdo obtido pelas invasões ao site The Intercept Brasil, Ele se referiu ao jornalista Glenn Greenwald, principal responsável pelo site, como “Verdevaldo”.
“O meu telefone estava lá no grupo dos quatro hackers, um já disse que entregou isso ao ‘Verdevaldo’ e obviamente o Brasil é país com leis e esse pessoal, se confirmado tudo que aconteceu aqui, tem que ser responsabilizado”, disse. O presidente também afirmou que seria muita “infantilidade” sua e de sua equipe não achar que estava “sendo bisbilhotado por alguém de fora ou de dentro do Brasil” semanas antes de sua eleição. Ele disse ainda que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, é o responsável por mantê-lo informado sobre o caso.
O DJ de Araraquara, Gustavo Elias Santos, disse que tem provas de que teria alertado seu amigo “Vermelho” para “parar de mexer com isso”, em referência à telefone de autoridades. Segundo Ariovaldo Moreira, o cliente teria uma conversa trocada com Walter Delgatti no Telegram em que alertava o amigo: “Cuidado que você pode ter problema com isso”. Segundo o advogado, se “abrirem o Telegram vão ver que meu cliente falou (para o Walter): ‘para com isso que isso vai te dar problema’”.
Já se sabe que o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sergio Moro, o procurador da República e coordenador da Operação Lava Jato no Paraná, Deltan Dallagnol, o ministro daEconomia, Paulo Guedes, o desembargador federal Abel Gomes (Tribunal Regional Federal da 2ª Região, no Rio de Janeiro), o juiz federal Flávio Lucas (18ª Vara Federal do Rio) e delegados Rafael Fernandes, da PF em São Paulo, e Flávio Vieitez Reis, de Campinas, estão na lista.
Veitez atuava em Ribeirão Preto antes de ser transferido para Campinas e teve participação efetiva na Operação Sevandija, deflagrada em 1º de setembro de 2016 que resultou na prisão da ex-prefeita Dárcy Vera (sem partido) e parte de seu secretariado, vereadores, advogados e empresários – todos negam a prática de crimes.