Júri popular que durou mais de 14 horas e Ricardo José Guimarães foi condenado pelo assassinato da dona de casa Tatiana Aparecida Assuzena, em 2004: casal também foi condenado
O ex-policial civil Ricardo José Guimarães, apontado pelo Ministério Público Estadual (MPE) como chefe de um grupo de extermínio que atuou em Ribeirão Preto nas décadas de 1990 e 2000, sofreu mais uma condenação, em um júri popular que durou mais de 14 horas e invadiu a madrugada desta quinta-feira, 22 de fevereiro. Desta vez, o ex-integrante da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) sentou-se no banco dos réus pelo assassinato da dona de casa Tatiana Aparecida Assuzena, em 24 de março de 2004, nos Campos Elíseos, Zona Norte.
Catorze anos depois, ele foi condenado a 56 anos em regime fechado e mais dez dias-multa – somadas as três sentenças desfavoráveis, o ex-policial acumula 176 anos de cadeia. Na época do crime, a mulher tinha 24 anos e foi morta com um tiro no peito, na frente do filho de sete anos. Guilherme Eli Assuzena acompanhou o julgamento, que começou às onze da manhã de quarta-feira (21) e terminou depois da uma hora desta quinta-feira (22). Segundo o promotor José Gaspar Figueiredo Menna Barreto, o alvo do ex-policial era o noivo da mulher, Almir Rogério da Silva, um antigo desafeto. O representante do MPE pedia pena máxima para o ex-investigador – 30 anos –, mas com os agravantes subiu para mais de 50 anos.
O ex-investigador Rodrigo Cansian e a namorada dele, Karina Modesto Grigolato, também foram condenados a 35 e 32 anos de reclusão, respectivamente. Ele ainda terá de pagar dez dias-multa. A acusação pediu a prisão preventiva da dupla, que aguardou o julgamento em liberdade graças a um habeas corpus. Segundo o MPE, o ex-policial Cansian pediu ao amigo Guimarães que matasse Silva porque Karina estaria apaixonada pelo desafeto. Testemunhas afirmaram que o então investigador da DIG invadiu a residência de Tatiana Assuzena gritando o nome do suposto alvo, mas a mulher tentou impedi-lo e foi baleada.
Guimarães foi levado para o 2º Distrito de Polícia, nos Campos Elíseos, ainda de porte da pistola ponto 40 que usou no crime – ele também efeutou disparos com outra arma de fogo. O ex-policial já havia sido já condenado a 120 anos de prisão por causa de quatro homicídios, e nesta quarta-feira sofreu mais um revés no Fórum Estadual de Justiça da cidade.
Guimarães sempre negou envolvimento com grupos de extermínio e quando assumiu as mortes disse que foi em legítima defesa, no exercício da profissão. A defesa de Rodrigo Cansian e Karina Modesto pedia a absolvição do casal. Já o advogado de Guimarães disse que só iria se manifestar após a divulgação de sentença. No entanto, todos podem recorrer ao Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ/SP). Eles foram levados para o Instituto Médico Legal (IML) e depois seriam transferidos para unidades prisionais.
No dia 11 de julho deste ano, Guimarães foi condenado a 72 anos de prisão pelas mortes de Anderson Luiz de Souza, então com 15 anos, e Enoch de Oliveira Moura, de 18, em maio de 1996, no Parque Avelino Alves Palma – duas das oito vítimas assassinadas e atribuídas ao ex-policial. Em 5 de dezembro, ele foi condenado pelo 5º Tribunal do Júri da Barra Funda, em São Paulo, a 48 anos de prisão pelos assassinatos e ocultação de cadáveres de dois ex-policiais federais, ocorridos em julho de 2005 no Uruguai. No total, é acusado de cometer doze homicídios.
Ele nega participação nos assassinatos dos ex-policiais federais civis do Rio Grande do Sul Ronaldo Almeida Silva e Leonel Jesus Ilha da Silva. Segundo o promotor Marcus Túlio Nicolino, o grupo de extermínio agiu em Ribeirão Preto entre 1994 e 2002 e pode ter executado 70 pessoas. Em 1994, a cidade registrou 94 homicídios. Depois, de 1995 a 2002, o balanço sempre esteve na casa dos três dígitos – 119 (1995), 221 (1996), 209 (1997), 222 (1998), 251 (1999), 263 (2000), 202 (2001) e 190 (2002).
Guimarães ainda vai voltar ao banco dos réus para responder sobre o assassinato de Thiago Xavier Stefani, de 21 anos, em 2003. O rapaz foi morto na porta de casa, no Jardim Independência, na Zona Norte, com dois tiros. Na residência dele havia, segundo investigações da época, porções de maconha e uma arma. A mãe da vítima sempre negou o envolvimento do filho com o tráfico e diz que o rapaz foi executado e os entorpecentes foram “plantados” pelo ex-investigador, que está preso desde 2007 na Penitenciária de Tremembé. Em 2004, detido depois da morte de Tatiana Assuzena, fugiu pela porta da frente do presídio da Polícia Civil, em São Paulo.
Duas fotos: Arquivo Tribuna e Reprodução/SSP (detalhe)
O ex-investigador Ricardo José Guimarães durante um dos muitos depoimentos que prestou no Fórum de Justiça de Ribeirão Preto
Crimes atribuídos a Ricardo Guimarães
Maio de 1996 – mortes de Anderson Luiz de Souza, de 15 anos, e Enoch de Oliveira Moura, de 18, em frente a um bar no bairro Parque Avelino Palma, na Zona Norte
Março de 2002 – Sandro Alberto Lima, o Pezão, assassinado dentro da Santa Casa de Ribeirão Preto
Abril de 2002 – execução do detento João Paulo Alves da Silva em uma cela no 1º Distrito Policial de Ribeirão Preto
Maio de 2003 – assassinato de Thiago Xavier Stefani, de 21 anos, na casa do rapaz, no Jardim Independência
Março de 2004 – morte de Tatiana Aparecida Assuzena, de 24 anos, nos Campos Elíseos
Julho de 2005 – acusado de executar dois policiais federais em Santa do Livramento (RS), na fronteira com o Uruguai