André Luiz da Silva *
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Como em todos os setores da sociedade, a presença das mulheres brasileiras na literatura é uma história de persistência, criatividade e conquista. Desde os tempos coloniais até hoje, nossas escritoras enfrentaram e superaram inúmeros desafios para afirmar suas vozes em um espaço historicamente dominado por homens.
No período colonial, muitas mulheres escreviam sob pseudônimos masculinos ou adotavam estilos que não desafiavam a sociedade patriarcal. Muitos nomes foram omitidos ou esquecidos. Um grande avanço ocorreu no século XIX, com Nísia Floresta, uma das primeiras feministas do Brasil. Ela escreveu sobre a educação das mulheres e seus direitos, e sua obra “Direitos das Mulheres e Injustiças dos Homens” (1832) é um marco na luta pelos direitos femininos.
Ainda no século XIX, Júlia Lopes de Almeida se destacou escrevendo romances que tratavam de questões sociais e da condição feminina. Ela foi uma das idealizadoras da Academia Brasileira de Letras, embora não tenha sido aceita como membro por ser mulher. A primeira mulher admitida na academia foi Raquel de Queiroz em 1977. Autora do romance “O Quinze” (1930), ela retratou de forma poderosa a seca no Nordeste e as dificuldades enfrentadas pelos sertanejos.
A Semana de Arte Moderna de 1922 foi um ponto de virada, abrindo mais espaço para as vozes femininas na literatura brasileira. Cecília Meireles é uma figura central desse período, sendo uma das mais importantes poetas brasileiras. Sua poesia é conhecida pela delicadeza e profundidade, abordando temas como a efemeridade da vida e a busca por sentido. Na sequência temos Clarice Lispector e Lygia Fagundes Telles e Carolina Maria de Jesus, que escancarou em seus relatos a dura realidade das favelas.
Atualmente, a luta das mulheres negras é bem representada por autoras como Conceição Evaristo, Ana Maria Gonçalves e Djamila Ribeiro. Suas obras abordam a experiência da mulher negra e trazem à tona questões raciais e de gênero no Brasil.
Apesar dos avanços significativos, as escritoras brasileiras ainda enfrentam desafios como a desigualdade de gênero no mercado editorial e a sub-representação em prêmios literários e antologias. No entanto, a crescente visibilidade e reconhecimento das obras dessas mulheres, a promoção de debates sobre gênero e literatura, e a publicação de novas vozes prometem um futuro mais inclusivo e diversificado para a literatura brasileira.
A Casa do Poeta e do Escritor de Ribeirão Preto realiza, neste primeiro sábado de junho, a sétima edição de Grandes Mulheres na Literatura. O prêmio destaca o trabalho de mulheres da Região Metropolitana de Ribeirão Preto, escritoras ou com grande contribuição para a literatura. Em 2024, as homenageadas são: Ana Maria Ferlin, Claudia Cantarella, Elena Robles, Gina Higino, Inajá Martins, Luciana Paschoalin, Meire Genaro, Regina Baptista, Rita Cruz, Sonia Albuquerque, Vanda Paula e Shirley Stefani.
Falando em grandes mulheres, elas lideram as principais entidades culturais da cidade: Helena Agostinho na União dos Escritores Independentes, Maris Ester Souza na Casa do Poeta e do Escritor, Fernanda Ripamonte na Academia Ribeirãopretana de Letras, Eliane Ratier na Academia de Letras e Artes, Celma Serrano no Instituto do Livro, Dulce Neves na Fundação do Livro e Leitura, Elaine Assolinina Academia de Educação e no GEPALLE e Sandra Rita Molina no IPCCIC.
Como ocorre em nossa região, em cada canto do Brasil, mulheres de diversas faixas etárias, condições sociais e econômicas estão transformando suas realidades, dificuldades, sonhos, desejos e pensamentos em textos e versos. Elas precisam ser ouvidas e ter seus nomes reconhecidos, pois suas jornadas de resistência e resiliência são inspiradoras.
* Servidor municipal, advogado, escritor e radialista