Grafite – uma arte que vem ganhando espaço em todo o mundo, tomando o lugar das pichações. Amor, história, poesia, música, política, esporte, crítica social. Esses são apenas alguns dos elementos evidentes no trabalho de Áureo Melo, mais conhecido como “Lobão”, um artista consagrado pela excelência de seus gigantescos murais realistas e a sensibilidade de suas mensagens, muitas vezes subliminares.
Atualmente, Lobão está grafitando um gigantesco muro na Maurílio Biagi, uma das principais avenidas de Ribeirão Preto, sua terra natal – a obra está em sua fase final e deve ser concluída nesta semana. O tema “Respeito as diferenças” o instigou a reproduzir imagens que traduzem o povo brasileiro: o índio, o negro, o transexual, o branco, entre outros. Marielle franco (PSOL), a vereadora que foi assassinada há dois meses no Rio de Janeiro, onde o grafiteiro reside, é o rosto central.
Na última semana, Lobão eternizou o saudoso músico Dorival Caymmi em um mural de cerca de 15 metros em Rio das Ostras, cidade do interior do Rio de Janeiro, onde tinha casa e passava grande parte de seus dias. E antes dele, na fachada do cineteatro do município de Casimiro de Abreu (RJ), dois ícones que se remetem à história desses segmentos: o próprio poeta Casimiro e a atriz Carmen Miranda. “Sempre procuro passar uma mensagem, sem que necessariamente precise escrever. O barato está em observar que a pessoa olha para a minha arte e capta um aprendizado”, declara.
A abordagem sensível com a qual conduz seus trabalhos é uma marca bastante pessoal. Suas obras chamam a atenção também pela linguagem visual moderna e pela riqueza de detalhes. Quem passa pelas ruas e pontos turísticos do Rio de Janeiro, seja na capital, na Feira de São Cristóvão, onde grafitou o Rei do Baião, um Luiz Gonzaga com cinco metros de altura; seja no interior, em Cabo Frio, onde um Charles Chaplin de oito metros rememora o famoso clássico “Tempos Modernos”, se emociona com o realismo transmitido pelos painéis.
Ainda sobre os trabalhos no interior do Rio, Lobão deixou sua marca em dezenas de muros de diversos municípios, entre eles Rio das Ostras, onde grafitou 400 metros quadrados no prédio do Teatro de Rio das Ostras e na Universidade Federal Fluminense; e Cabo Frio, onde fez duas exposições no Centro de Artes Visuais e coloriu um dos pontos turísticos mais conhecidos deste município, a Praça das Águas.
Autodidata, Lobão observou o gosto pela pintura ainda criança, nas aulas de artes. Conta que a tinta guache o encantava e com ela já iniciava seus primeiros desenhos. Mas a paixão pelo grafite fez com que quisesse mais do que um pincel e um caderno de desenhos. Foi então que, aos 13 anos, rolo e até compressor com pistola de alta pressão passaram a ser suas ferramentas, e o guache foi substituído pelo spray, pela tinta acrílica, de látex e de piso para iniciar sua arte na rua.
Começou pintando muros em sua cidade natal. Mas o interior era pequeno para o jovem grafiteiro que queria ganhar o Brasil. Foi então que começou sua trajetória pela capital mais próxima, São Paulo. Depois seguiu fazendo arte urbana em diversos Estados como Paraná, Goiás, Brasília, Minas Gerais e, atualmente, Rio de Janeiro. E é nesta cidade maravilhosa, cheia de encantos mil, que Lobão vem encantando e chamando a atenção por sua versatilidade, dinamismo, seu cuidado com cada detalhe, seja ao estudar a combinação entre as cores, seja no acabamento do cílio de um retratado, ou melhor, grafitado, por exemplo.
Hoje, com 34 anos, o artista revela uma sofisticação técnica com elementos característicos que diferenciam seus grafites de outros tradicionais. Ele atribui seu aprimoramento artístico à paixão e à ousadia de aprender e ensinar. Nessas duas décadas de atuação vem compartilhando seu saber autodidata em oficinas de desenho e pintura para grupos de empresas, escolas e comunidades.