João Camargo
Com o passar dos anos e com a mudança da sociedade, os criminosos precisaram se adaptar e se reinventar. Antigamente, golpes como do “bilhete premiado” eram clássicas armadilhas para as vítimas. No entanto, hoje, o que vemos, é que os crimes virtuais estão cada vez mais recorrentes e atingindo mais a população. De acordo com um levantamento da empresa Kaspersky, o Brasil registrou aumento de 23% nos casos de cibercrimes nos primeiros oito meses de 2021, em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Entre esses novos meios está o que ficou conhecido como “golpe da novinha”, ou “golpe da falsa delegacia”, que se configura como uma extorsão sexual e tem conseguido retirar dinheiro de suas vítimas.
Segundo o advogado Gustavo Henrique Cabral, o golpe funciona da seguinte forma: “Uma pessoa se passa por uma menina, que em tese seria de idade inferior a 18 anos, e adiciona a vítima nas redes sociais, pedindo e oferecendo nudes”. Após a troca dessas fotos íntimas, os golpistas armam uma cena em que se passam por policiais civis, em geral do estado do Rio Grande do Sul, e que conversam com a mãe da suposta menina.
Gravando toda a encenação, a mulher diz que gostaria de registrar um boletim de ocorrência e afirma que a “filha” é menor de idade e que encaminhou nudes para a vítima. No entanto, o golpe não para por aí. Feita a gravação, os criminosos, se passando pela polícia, entram novamente em contato com a vítima e oferecem a possibilidade de realizar um depósito na conta do policial para que o caso não seja registrado.
As imagens dessas gravações circulam nas redes sociais e mostram, de fato, como o golpe é realizado. Ainda de acordo com Cabral, já foi procurado por alguns clientes que quase fizeram a entrega do dinheiro para os criminosos.
“Nos dois casos em que fui procurado, eu orientei a não fazer nenhum pagamento e informei que este procedimento não era o normal e legal da Polícia Civil. Nenhum dos meus clientes chegou a efetuar o pagamento para o golpista, mas um deles demorou bastante para entender que se tratava de um golpe”, comentou o advogado.
Cabral disse ainda que o que leva a pessoa a pagar os ladrões é o medo de ter as imagens enviadas expostas nas redes sociais. Além disso, ele destaca que a possibilidade de “ter infringido algum dispositivo legal em razão de ter trocado nudes com uma menina que seria, segundo os golpistas, de idade inferior a 18 anos” também pode ser um fator agravante na hora em que a vítima decide fazer o pagamento.
No entanto, ele destaca que, com os casos em mãos, dois procedimentos devem ser tomados a depender da situação. “No caso de a pessoa não ter feito nenhum pagamento para os golpistas, simplesmente deve ser feito boletim de ocorrência informando todos os dados, inclusive os celulares que entraram em contato e as contas em redes sociais que estão sendo usadas para esse fim. Caso tenha sido feito algum pagamento, a situação muda um pouco e implica, inclusive, em tentativa de bloqueio de contas dos estelionatários”, finalizou o advogado.
Entre os crimes que estes golpistas podem ser processados estão estelionato e extorsão, dependendo da situação de cada caso.
Cibercrimes no estado de São Paulo
A Polícia Civil do Estado de São Paulo comunicou que entre os principais crimes digitais estão a clonagem de WhatsApp, o boleto falso, as fraudes bancárias, os sites de comércio eletrônico fraudulentos, o golpe do falso leilão ou falso empréstimo, os crimes contra a honra, o sequestro de dados e a sextorsão, que é relacionado ao golpe mencionado acima. No entanto, para evitá-lo, a Polícia informou algumas medidas de segurança que podem auxiliar a população a não cair nas mãos dos golpistas:
A. Evite compartilhar fotos e vídeos íntimos;
B. Evite manter fotos e vídeos íntimos em seu celular – caso ele seja roubado o criminoso poderá ter acesso a esse conteúdo;
C. Desconfie de pedidos de amizade vindos de desconhecidos;
D. Evite participar de chamadas de vídeo com desconhecidos e lembre-se que a imagem da pessoa que você está vendo pode ser falsa;
E. Tenha sempre antivírus instalado em seu terminal.
No caso de a pessoa ter sido vítima do golpe, a orientação é para que não apague as conversas mantidas com o criminoso; se a conversa ocorreu em uma rede social, salve o nome de perfil e o link completo deste; em caso de contato por telefone, faça uma relação de todos os números utilizados pelo criminoso, contendo data e horário das conversas; e anote os dados de eventuais contas bancárias informados pelos criminosos. Em posse dessas informações, procure uma delegacia de polícia mais próxima de sua casa ou registre um boletim de ocorrência eletrônico.