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Ginásio do Estado

Será muito difícil investigar as raízes da nossa convivência, atri­buindo a Roma ou à Grécia as chaves das portas que foram abertas para o nosso caminho histórico. É possível dizer que os nossos primeiros passos trilharam caminhos diferentes. Basta caminhar por qualquer dos dois rumos encontrados, para que seja possível apontar a direção da cidade.

Olhando para o portal do prédio do Instituto de Educação Otoniel Mota, lê-se lá no alto do texto a seguinte: “Gymnásio do Estado”, que revela sua raiz grega: o local onde os jovens dançavam ao ar livre.

Por toda parte, os gregos fixavam duas máscaras, uma sorrindo, outra chorando, para que seus famosos atores pudessem fazer soar suas vozes para que fossem ouvidos pelos espectadores. Enfim os atores apresentavam suas tragédias e suas comédias ao ar livre. As máscaras tinham um espaço maior na boca dos atores, para facili­tar a propagação do som da sua voz. Eram instrumentos para fazer ressoar as vozes.

As máscaras, cujo desenho encontramos até hoje por toda parte, sorrindo e chorando, eram assim usadas para “fazer soar” as vozes, ou seja, “per sonare”. A sua raiz é latina e transformou-se no vocá­bulo “pessoa”. Nós até hoje usamos máscaras para fazer soar o que pensamos, razão pela qual somos “pessoas”.

No passado, o Instituto de Educação Otoniel Mota era conhecido como “Ginásio do Estado”. Ao ser inaugurado foi um dos primeiros colégios públicos do Estado de São Paulo. O primeiro foi o “Caeta­no de Campos”, instalado na Praça da República em São Paulo. O segundo foi batizado como “Culto à Ciência”, em Campinas.

Aberto o concurso para a cadeira de português para o “Culto Ci­ência”, concorreram para ela dois candidatos. Um chamava-se Raul Soares de Moura e o outro era o Otoniel Mota.

Raul Soares, mineiro de nascimento, era advogado em Ribeirão Preto, colega de classe de outro mineiro que se tornou presidente da Re­pública, Artur Bernardes. Otoniel Mota foi o principal estudioso da obra de Camões, até hoje conhecido. “Os Lusíadas” foi o tema sorteado.

Raul Soares foi espantosamente o vencedor, assumindo então a cadeira de Campinas. Logo depois foi nomeado Ministro da Mari­nha por Artur Bernardes, tanto que até hoje há um navio com o seu nome. Em seguida foi eleito governador de Minas Gerais, vindo a falecer no exercício do mandato.

Otoniel Mota ficou com o Ginásio do Estado de Ribeirão Preto que até então era o principal polo de produção de café do Brasil. Era ele luterano e orientou sua escola olhando para todos os ângulos religiosos e sociais. Vários professores da antiga escola professavam várias religiões. Atribui-se a Otoniel Mota ter instalado uma visão universalista para a nossa cidade: Ribeirão Preto passou a olhar para o mundo por todos os seus ângulos, sem preconceito.

Esses fatos tiveram como cenário uma época na qual os produto­res do café confessavam fortemente as ideias positivistas, contribuin­do para a construção de notáveis edifícios como a Catedral, o Teatro Pedro II, a Igreja de Santo Antônio e a sede da Prefeitura Municipal.

Provavelmente não teríamos, nos tempos de hoje, meios para dar passos largos apontados por Otoniel Mota, como também instru­mentos para a edificação da cidade edificada para a posteridade.

Os historiadores têm exigido da cultura urbana trabalhos neces­sários para registrar o papel da geração de Otoniel Mota e de Raul Soares na construção de um panorama cultural insuperável para a sua época. Os seus nomes e o seus trabalhos fazem por merecer o necessário registro histórico.

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